O internacional português participou diretamente, na gestão de Jesus, na criação de 24 jogadas que terminaram em golo. Desde a troca de técnico, olhando aos tiros certeiros, está há 1005 minutos em branco.
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Rafa atravessa um deserto de golos como nunca conheceu desde que chegou ao Benfica. Frente ao Portimonense, última partida das águias, o internacional português fez uma boa exibição mas voltou a não faturar, num ciclo que dura desde 19 de dezembro de 2021, quando apontou um tento ao Marítimo - além de assinar quatro assistências - no 7-1 aplicado aos madeirenses.
Até ao momento, Rafa está em branco há 1005 minutos, sendo que desde a chegada de Nélson Veríssimo ao comando da equipa, o extremo nunca fez golos: leva apenas três assistências consumadas.
Este não é o maior jejum na carreira profissional de Rafa dado que em 2014/15, ainda com a camisola do Braga, passou 1857 minutos sem festejar, isto durante 24 jogos em que participou. Pelos encarnados, antes deste tempo de deserto ainda a decorrer, o pior ciclo anterior fora em 2018, quando ficou sem marcar durante 1857 minutos.
Em branco em 2022, num período que maioritariamente coincide com a gestão de Nélson Veríssimo, Rafa vive uma fase distinta da que viveu com Jorge Jesus. Até à saída do amadorense da Luz, o extremo fez onze golos e ainda mais 13 assistências, ou seja, participou de forma direta na concretização de 24 tentos. Agora, tem apenas passes para colegas faturarem nos embates do campeonato contra FC Porto, Gil Vicente e Boavista.
A perda de gás, pelo menos no que diz respeito a golos, aspeto que sempre serve de barómetro para os avançados, passa pela mudança tática implementada por Nélson Veríssimo em relação ao desenho anterior de Jesus. O 3x4x3 com que as águias começaram a época, pelo menos em termos individuais, dava maior protagonismo ao camisola 27 encarnado. O treinador João Aroso analisou a O JOGO o jejum de Rafa, explicando que o sistema "híbrido" que o Benfica tem vindo a utilizar nem sempre permite fazer sobressair o melhor Rafa na finalização. "O Rafa começou muito bem a época pois, jogando em 3x4x3, isso favorece muito o seu jogo. Mas quando passou a jogar em 4x4x2 ainda em com Bruno Lage, como ala direito, também teve rendimento bastante bom. Agora, com Nélson Veríssimo, a equipa joga de uma forma híbrida, entre o 4x4x2 e o 4x3x3, aqui com o Gonçalo Ramos a jogar como interior ou como segundo avançado. Na dinâmica de Veríssimo, Rafa tem de estar mais aberto a defender e em zonas mais interiores quando a equipa tem bola", refere João Aroso que vê precisamente um "Rafa com melhor rendimento quando tem a bola em zona interior".
O técnico, no entanto, não alinha pela ideia que a quebra em golos e em assistências defina um Rafa de menor rendimento coletivo: "Frente ao Portimonense até fez dos seus melhores jogos, mesmo sem marcar."
Ainda em janeiro, já Nélson Veríssimo valorizara Rafa para lá do momento do golo. "Há momentos em que as coisas correm bem e outros em que não correm tão bem. Sabemos que o Rafa tem potencial para acrescentar algo mais àquilo que é a equipa, mas tem estado a trabalhar muito bem e é uma questão de tempo", apontou o treinador das águias na altura.
No entanto, os números acabam por deixar o Rafa "de Veríssimo" bem atrás do Rafa "de Jesus" e, mesmo passado tempo desde janeiro, a "seca" do extremo mantém-se mas também com reflexos nas assistências, que foram sendo a maior imagem de marca do extremo em 2021/22. Das 16 que já garantiu durante a época, 11 foram (68,8 por cento) executadas em menos de dois meses, entre 7 de novembro e 30 de dezembro. Aqui, o camisola 27 das águias deu a marcar frente ao Braga (1), Belenenses (2), Famalicão (3), Marítimo (4) e FC Porto (1).
Equipa mais consistente e a beber ideias de Veríssimo
Muito embora o rendimento de Rafa permaneça abaixo do que fez na fase inicial da época, há melhorias no coletivo ao longo das últimas semanas, na visão de João Aroso. "A equipa está mais consistente. Por um lado, está mais identificada com as ideias de Veríssimo, que teve pouco tempo para treinar nos ciclos com jogos a meio da semana e, por outro, há os níveis de confiança. Houve um período em que estes estiveram em baixo mas agora já estão mais restabelecidos, embora por vezes ainda pareça que, com ocorrências negativas, isso se reflete", indica João Aroso que vê jogadores "como Everton e Gonçalo Ramos crescerem de rendimento" com o novo formato da equipa.