Quinito, Carlos Alberto Silva, Bobby Robson e António Oliveira recordados por Pinto da Costa na primeira parte do programa especial intitulado "Os Homens do Presidente", do Porto Canal.
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Quinito: "O Quinito sentiu a pressão, tinha feito um campeonato sensacional com o Espinho, mas não aguentou a pressão. Recordo-me de que fui com ele ver um jogo quando íamos jogar com o PSV e no final do jogo eu a dizer-lhe que o jogo passava todo pelo Koeman. E ele: 'Não sou treinador de marcações, o FC Porto tem de se impor!' Ora, o Koeman ficou à solta e levámos 5-0... Ainda no balneário, ele disse: 'Presidente, tinha razão e eu demito-me.' Eu não aceitei, disse era que ele tinha de ganhar, mas ele não aguentou a pressão. Telefonou-me a dizer que não aguentava e não apareceu. Agora, como ser humano, o Quinito é uma pessoa excecional."
Carlos Alberto Silva: "Conhecia-o e às vezes falava com ele. Quando lhe perguntei se queria vir para o FC Porto, ele disse que estava no Corinthians. Ele disse: 'Se eu me desvincular do Corinthians, eu quero ir!' Veio, foi uma surpresa, mas colhi ótimas informações sobre ele em termos de trabalho e ambição. Foi um treinador interessante, sui generis, que gostava de agitar as coisas. Gostava de sentir o ambiente... O que é certo é que criava esse ambiente hostil e ganhava. Aproveitava para motivar a equipa, dizia aos jogadores que estava tudo contra eles. Era engraçado, uma pessoa excelente e teve êxito. Infelizmente já faleceu..."
Bobby Robson: "Eu conhecia o Robson de nos cumprimentarmos antes dos jogos com o Sporting. Ele foi despedido do Sporting no avião. Os sócios estavam a pressionar, o presidente chegou ao microfone, pediu desculpa aos sócios e disse que o treinador estava despedido. O Mourinho, que vinha ao lado dele, disse: 'Míster, acaba de ser despedido.' E estava em primeiro no campeonato... Eu, que era um admirador dele, fui ter com ele. Fomos a Lisboa, deram-nos a morada dele, andámos perdidos lá por Monsanto, mas chegámos, entrámos e vejo o homem a fazer as malas. Eu eu: 'Isto está a correr mal, o homem vai-se embora'. Eu disse: 'Míster, quero que venha para o FC Porto'. E ele: "Não, Portugal não! São loucos!' Então, ele ligou para a mulher e explicou a situação, disse que o FC Porto era diferente, mas ela dizia que não. Tanto conversámos que ele percebeu: 'Tem de mostrar ao Sporting, em particular, que é um grande treinador.' Deixou as malas em Lisboa, veio para cima e, no dia seguinte, assinou pelo FC Porto. Foi duas vezes campeão, festejou um dos campeonatos em Alvalade. Eu disse: 'Quem tinha razão?'. Numa altura em que estávamos os dois sozinhos, ele começou a falar português comigo. E eu: 'Ó míster, afinal o senhor fala português...' E a dada altura ele até comentou: 'Vou tomar uma bica.' E eu: 'Fale português, é café, não é bica...' As outras pessoas achavam que ele, realmente, não falava nada. Era muito conhecedor de futebol, fazia treinos fantásticos, motivava... Foi uma pena ter partido tão cedo, com uma doença terrível. Ele teve um cancro na face, foi terrível, e voltou. Eu ia todos os meses visitá-lo a Londres e ele dizia, ao início, que tinha acabado. Mas depois percebeu que não, ainda voltaria ao FC Porto. Foi diretamente comigo de Londres para lá, esteve com a equipa e acabou a época."
Relvados: "Mudou muita coisa, nomeadamente os relvados, que queria sempre impecáveis. Para dançar não pode ter um chão com buracos."
António Oliveira: "O Oliveira começou a jogar nos juniores como defesa esquerdo. Depois tinha tanto talento que foi subindo para os lugares onde era necessário ter outra visão de jogo, como ele tinha. Foi fabuloso, um jogador extravagante, irreverente e com um talento fantástico. Mesmo como jogador, eu sentia que ele, dentro de campo, era um prolongamento do Pedroto em campo. E eu lembro-me de ouvir o Pedroto dizer: 'Este miúdo vai ser um grande treinador...' Entretanto, ele seguiu a sua vida, foi selecionador nacional, o Robson saiu para ir para o Barcelona e eu disse: 'Se temos um indivíduo da casa a fazer um bom trabalho...' Quando fui ver um dos jogos da Seleção, disse-lhe: 'Tem contrato para o ano? Não assine por ninguém sem falar comigo.' Fomos almoçar, disse-lhe que o Robson ia sair - ninguém sabia - e disse que o queria como sucessor. Disse-lhe que estávamos à porta de algo histórico, que era vencer o tri. E ele: 'Presidente, vamos para a frente.' Vencemos o tri, depois o tetra e ele seguiu a vida dele. Foi o homem que alcançou o tal tri que tanto sonhámos e abriu as portas para o penta, uma vez que ganhou o tetra."
Substituições: "O Oliveira tinha uma grande intuição para alterar não só as substituições, mas também o próprio jogo. Não vou dizer que ele foi um dos grandes treinadores que conheci a treinar, porque aí conheci três: o Pedroto, o Robson e o Sérgio Conceição. Não era mau, mas não era aquilo que se possa chamar fantástico. Mas nasceu para o jogo. Na visão de jogo, substituições, tática, era top."
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