Quenda e Mora prontos para marcarem uma era: "Trazem paixão a quem gosta de futebol"
Ex-treinadores dos jovens craques de Sporting e FC Porto anteveem carreiras “de elite” para o duo de rivais (e amigos) durante largos anos. Ambos prometem centrar olhares no clássico de amanhã. Fábio Roque considera o ala leonino “mais apetitoso” para os colossos; Nuno Pimentel vê o jovem dragão “mais robusto”.
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Amigos, amigos, Taça da Liga à parte. A relação de proximidade entre Geovany Quenda e Rodrigo Mora, fomentada nas seleções nacionais jovens, é bem conhecida, mas amanhã, em Leiria, terá pelo menos 90 minutos de pausa. As duas jovens pérolas vão estar frente a frente com um lugar na final em disputa e, se o extremo do Sporting já tem rodagem em jogos grandes, apesar dos tenros 17 anos, o médio-ofensivo do FC Porto vai, salvo algum imprevisto, fazer a estreia em clássicos. Ambos nascidos em 2007, o duo centrará olhares esperançosos num truque de magia, mas quem os conhece não tem dúvidas: Quenda e Mora são os nomes que vão marcar o futebol português nos próximos dez anos.
“Com o potencial que tem e aquilo que já vai apresentando num patamar de alta exigência, é seguro dizer que o Mora vai ser mais um produto de excelência do futebol português. Por ser diferenciado dos demais, tem condições para ser referência na próxima década, tanto a nível nacional como internacional”, assinala, a O JOGO, Nuno Pimentel, treinador que orientou o camisola 86 dos dragões nos sub-15 azuis e brancos. Mais ou menos ao mesmo tempo, Fábio Roque integrava a equipa técnica que polia Quenda na formação do Sporting. “Era sub-14 e já jogava nos sub-15. Aquele jogador que fomos buscar ao Benfica por ouvirmos dizer que era muito bom era, de facto, diferente. Em condições normais, vai manter um nível muito elevado durante muito tempo. Vai estar na Seleção e jogará em grandes clubes. Sem imprevistos, vai marcar os próximos anos”, afiança o jovem técnico, agora radicado nos Estados Unidos.
Como a idade indica, tanto um como outro têm muito para crescer. Aos olhos de Fábio Roque, Quenda passará para uma versão “aprimorada” quando estabilizar numa posição. “Ultimamente, tem jogado muito a extremo-esquerdo, mas vejo-o com maior capacidade a fazer a ala toda, pela direita e a partir de fora para dentro. Acima de tudo, terá de ganhar essa consistência”, vinca. Quanto a Mora, apesar de “já estar mais robusto”, tem de ampliar a “dimensão física”. Um processo “natural”, defende Nuno Pimentel. “Tem dado sinais evolutivos, mas na reação à perda, ocupação de espaços, indicadores de pressão... Pode crescer por aí. A continuidade competitiva e o acumular de minutos vão colocá-lo num patamar de elite”, antecipa o coordenador da estrutura da formação do Al Nassr.
Diamantes em bruto, pepitas, pérolas, os elogios sucedem-se. Em campo, os amigos traçam caminhos paralelos, espelhados até nos números. Quenda, é certo, tem seis vezes mais minutos do que Mora, mas ambos somam as mesmas ações decisivas: o ala leonino soma dois golos e quatro assistências, enquanto o criativo anotou três tentos e fez outras tantas ofertas. Estatísticas que não vão passando despercebidos aos sempre atentos tubarões europeus. “Também já conheço Mora há muitos anos, mas, nesta fase, vejo o Geovany mais completo nas missões ofensivas e defensivas. Vejo-o mais apetitoso para o mercado dos colossos”, analisa Fábio Roque. Pimentel escolhe a via “diplomática”. “Estão no mesmo patamar e já apetecíveis para os grandes clubes europeus. Incorporam o perfil de jogador que tem carisma e traz paixão a quem gosta de futebol. Já há muitos olhos sobre eles”, admite o ex-técnico de Rodrigo Mora. O clássico de amanhã servirá, certamente, para aguçar ainda mais o apetite.
A profecia de Geovany e Rodrigo “à Davids”
Fábio Roque e Nuno Pimentel recordam com especial carinho dois episódios no percurso formativo de Geovany Quenda e de Rodrigo Mora, respetivamente. O que envolve o extremo do Sporting remonta a 2021 e a um clássico de iniciados com o Benfica. “Ficámos reduzidos a dez desde muito cedo. Ao intervalo estava 0-0 e, quando fomos para o balneário, estava apreensivo. De repente, senti uma mão no meu ombro e vi que era o Geovany. ‘Míster, não te preocupes. Vamos ganhar isto’, disse-me ele. O resto é fácil de adivinhar. Ficou 1-0 e foi ele a decidir. Uma história que mostra o que é o Quenda. Não tem medo de assumir. Para ele, é a mesma coisa jogar na Damaia, onde começou, ou em Alvalade e no Dragão. Importa é competir”, recorda Fábio Roque.
Rodrigo Mora também acabaria por virar protagonista de um clássico de sub-15 com o rival encarnado, por motivos diferentes. “Estávamos a disputar a fase de apuramento de campeão e tínhamos um jogo decisivo em casa, contra o Benfica. No início dessa semana, o Rodrigo teve um problema ocular, que iria inibi-lo de ir a jogo. Ao saber que não ia poder jogar, ficou transtornado, chorou abundantemente e pediu que tudo fosse feito para poder ajudar-nos. Foi definido que ele poderia jogar, mas usando óculos protetores, ao estilo do Edgar Davids. Causavam-lhe algum incómodo, mas ele sacrificou-se pela equipa. Teve um grande desempenho, mas demonstrou enorme sacrifício individual já com tenra idade. Foi de uma imensa paixão pelo jogo e pelo clube”, lembra Nuno Pimentel, impressionado desde então “com a dimensão humana” do jovem craque.