Quem rende Palhinha no dérbi? Bragança dá mais arte, Ugarte sobressai na "capacidade defensiva"
Só Amorim saberá nesta altura responder quem é o seu eleito e terá os treinos desta quarta-feira e de amanhã para trabalhar essa escolha. A O JOGO, Litos, Carlos Xavier e João Aroso destacam qualidade técnica do luso
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Como João Palhinha não há outro jogador no plantel no Sporting, na realidade provavelmente no futebol português, pela sua influência na proteção defensiva e raio de ação. Mas na sexta-feira o internacional português será baixa, assim como pelo menos até ao Natal, e Rúben Amorim terá de eleger outro médio para jogar ao lado de Matheus Nunes no dérbi com o Benfica, no Estádio da Luz.
Daniel Bragança e Manuel Ugarte foram as duas possibilidades colocadas em cima da mesa pelo próprio treinador, logo após o jogo com o Tondela, de onde saiu lesionado (rotura muscular na coxa direita) Palhinha. Isto, recusando desde logo apostar em Dário Essugo, jovem de 16 anos que considerou ser o mais parecido com o camisola 6.
O JOGO inquiriu dois antigos médios dos leões, Litos e Carlos Xavier, assim como o treinador João Aroso que não se atravessam sobre qual será o eleito do técnico, admitindo que tanto Bragança quanto Ugarte têm capacidade para ir a jogo. Contudo, sublinhando as diferentes características do português e do uruguaio, o primeiro parece reunir alguma predileção se o objetivo for acrescentar qualidade quando em posse de bola, dado que o segundo terá mais pendor defensivo.
João Aroso arrisca mesmo que Bragança parte com alguma vantagem para jogar de início, não apenas pelas suas características técnicas, mas também por acumular mais minutos de jogo e em dupla com Matheus Nunes. "Penso que ele está mais preparado para ser lançado na equipa neste momento", defende o técnico, que já trabalhou em equipas técnicas no Sporting, arriscando que esta opção e ausência de Palhinha irá obrigar "todos os jogadores, com foco nos dois médios, a dar um pouco mais defensivamente".
Litos, que despontou como médio nos leões nos anos 80 e também é treinador, considera que Amorim pode confiar em ambos, defendendo que com Ugarte terá um jogador com "maior capacidade de recuperação e luta", mas que Bragança é um médio "mais de ligação e transporte de bola" e recordando também que nos sub-21 já jogou como "6".
Carlos Xavier, também ele um antigo médio do Sporting realça que o facto do jogo ser em casa do rival poderá levar Amorim a optar por "Ugarte que na capacidade defensiva aproxima-se mais do Palhinha". Contudo, este campeão pelos leões em 1982 não esconde a sua admiração por Bragança e admite que se o treinador "desejar um jogador com outras virtudes técnicas" Bragança é "exímio" na progressão com bola e no passe. Seja como for, confia que o sistema não vai mudar seja quem for o eleito, porque Amorim é-lhe "fiel", nem que isso obrigue Matheus Nunes a mais trabalho.
Dupla lusa com mais rotinas
João Aroso defende que Bragança tem vantagem por estar mais rotinado com Matheus Nunes e ter mais tempo de utilização e os números dão-lhe razão. O internacional sub-21 participou em 15 jogos, quatro a titular, e esteve em campo 498", 226 dos quais em simultâneo com o internacional A português, embora apenas em 108 a fazerem dupla no meio-campo. Quanto a Ugarte, disputou oito jogos até ao momento, dois como titular. De um total de 209", cem foram com Matheus Nunes em campo e 70 dessas a formarem dupla.
INQUÉRITO
1 - Quem parte em vantagem para substituir Palhinha? Ugarte ou Bragança, e porquê?
2 - A escolha de Amorim pode condicionar a equipa e o próprio Matheus Nunes?
Litos, ex-jogador do Sporting
"Ugarte é mais defensivo e o Bragança é diferenciado"
1 - Estão os dois em condições de jogar, são diferentes e depende do que pretende o Amorim. Ugarte é um pouco mais defensivo. Pode talvez fazer mais a posição "6", tem maior capacidade de recuperação e de luta. O Bragança é um jogador diferenciado, mais de ligação e de transporte de bola, mas já jogou a "6" nos sub-21 num meio-campo a três.
2 - Sabemos como o Palhinha é importante no Sporting e habitualmente é o Matheus Nunes que se liberta mais no ataque, mas ele também tem capacidade defensiva e de recuperação e pode fazer a posição do Palhinha. Ugarte, na época passada no Famalicão, foi muitas vezes o médio de ligação e se jogar pode revezar-se com o Matheus nessa missão. Ambos podem responder bem a um meio-campo do Benfica que é uma equipa que joga com grande intensidade.
Carlos Xavier, ex-jogador do Sporting
"Se quiser um jogador mais virtuoso, Bragança é exímio"
1 - Como o jogo é na Luz, é possível que o Benfica procure ter um maior pendor ofensivo e, por isso, Amorim pode optar pelo Ugarte que na capacidade defensiva aproxima-se mais do Palhinha. Mas depende do que o treinador pretende do jogo, pode desejar um jogador com outras virtudes técnicas, com maior capacidade de atacar rapidamente após a recuperação de bola, seja em progressão ou com passe. O Bragança é exímio nesse aspecto.
2 - Amorim é fiel ao sistema e não vai mudar seja qual for a sua escolha. O Matheus Nunes vai ter seguramente muito trabalho defensivo, mas já está habituado, talvez Pote e Sarabia também tenham de ajudar mais. Mas seja onde jogar, o Matheus terá de tentar aproveitar a sua explosão e capacidade de sair para o ataque, onde é muito forte.
João Aroso, treinador
"Sem Palhinha todos terão de dar mais defensivamente"
1 - Diria que o Bragança parte em vantagem porque tem jogado mais e já jogou algumas vezes em dupla com o Matheus Nunes. O Ugarte, mesmo sendo um pouco mais parecido com o Palhinha, tem menos tempo de jogo. Por outro lado, o Bragança tem mais capacidade de jogar com bola. Mesmo que obrigue o Matheus a uma maior exigência defensiva, penso que ele está mais preparado para ser lançado na equipa neste momento.
2 - O Palhinha, pelo seu raio de ação e eficácia extraordinária na recuperação de bola, permite que todos os alas e os três avançados, mesmo trabalhando defensivamente, tenham muita ação ofensiva. Sem ele, penso que todos esses jogadores, com foco especial nos dois médios, terão de dar um pouco mais defensivamente para manter os equilíbrios da equipa.