Revelações de Al Musrati, médio do Braga, no documentário "A minha história".
Corpo do artigo
Origens: "Sou de Tripoli, na Líbia, e nasci para jogar futebol. Quando era miúdo, o meu tio via-me a jogar na rua com os meus amigos e dizia à minha mãe: 'o teu filho é muito bom jogador, preciso de levá-lo para um grande clube'. O Al Ittihad, na Líbia. Comecei a jogar e, passo a passo, cheguei à equipa principal. Percebi que podia ser cada vez melhor e ser jogador profissional. Quando tinha 20 anos vim para a Portugal e comecei, passo a passo, até chegar ao Braga. Nesta zona ofereci 10 a 15 camisolas para outros moradores. É tudo gente boa e eu gosto de morar aqui. Quando temos folga, eu gosto de cozinhar. Quando temos treino ou jogo, falo com o chef da cozinha. Falamos muito".
Ramadão: ""O Ramadão é todos os anos. Podes comer tudo, menos carne de porco. Começo a comer às oito, nove horas da noite até às cinco da manhã e depois paro. Com a família é mais fácil, sozinho é pouco diferente. O maior problema é quando tenho jogo. Nesses dias, como por volta das 18h00 ou 19h00, se começar de início. Corro em média 12 quilómetros por jogo, mas no Ramadão não é possível correr esses quilómetros porque não como nada. É difícil".
Aventura na Europa: "Quando saí da Líbia, não sabia que vinha para Portugal. Fui para Espanha primeiro. Depois é que o meu agente disse que tínhamos de ir para Portugal. Isto três ou quatro dias antes do fecho do mercado. Sobrava muito pouco tempo. E Portugal está entre as melhores escolas de futebol do mundo, está ao nível da Holanda. Os jogadores evoluem aqui como profissionais".
Melhor momento: "O melhor momento aconteceu na época passada, quando vim para o Braga. Senti-me realmente diferente."
Dificuldades: "Vi-me sem a família e os amigos e só falava árabe. E ninguém fala árabe em Portugal. Foi muito difícil, mas nunca pensei em regressar à Líbia. Quando tinha oito anos, disse à minha família que queria sair para fora para ser jogador profissional, de modo a alcançar grandes equipas. Não é fácil ser um jogador profissional por tudo o que o envolve. Temos de comer bem, dormir cedo. Temos de lutar por tudo. Estou sozinho aqui. Por que estou aqui? Porque preciso de ser jogador profissional e chegar ao topo. Preciso de esquecer outras coisas e focar-me apenas no meu trabalho. Estou aqui para ser um grande jogador".
Número: "Oito é um número especial. É o número de quem joga no meio-campo. Quando assinei pelo Braga, falei com a minha família sobre o número que iria ter. Eu disse que seria o oito ou o 18 porque os dois números estavam disponíveis. O meu irmão é que escolheu o oito e eu aceitei".
Golos: "É difícil fazer golos, mas fiz quatro na época passada. Assistir é mais fácil, através de bolas longas. Para o Galeno, por exemplo".
Características: "Sou um jogador calmo. Gosto de falar com os meus companheiros em campo, sempre no sentido de ajudar. Não questiono, não pergunto o porquê desta ou daquela opção tomada. Só penso em ajudar. Gosto de brincar com o Roger, no treino e não só. É um bom miúdo e um excelente jogador, tem muita qualidade. Gosto de ajudá-lo em campo. Dou-lhe indicações do tipo fecha aqui ou faz aquilo".
Ídolos e futuro: "Quando era jovem admirava o Xabi Alonso, mesmo muito. Sou rápido a perceber a forma de jogar das equipas e dos jogadores. Quando terminar a carreira de jogador, quero ser treinador. A Líbia tem muitos jogadores de qualidade, mas falta-lhes alguém que os oriente para saírem dali. Se chegar longe na carreira, posso ajudá-los a cumprirem os seus sonhos".
Família: "A minha família e os amigos são tudo para mim, sem eles eu não sou nada. O futebol não é tudo. À tarde, converso com eles através do WhatsApp durante uma hora ou uma hora e meia. Quando conquisto alguma coisa pelo Braga, penso sempre neles. Tenho quatro irmãos mais velhos".
Conquistas: "O troféu mais especial é o de jogador do mês... A época passada foi excelente: trabalhámos muito para conquistar a Taça de Portugal. Não é fácil ganhar esse troféu".
Lesão: ""Detestei ter estado lesionado. Perguntava a mim próprio: 'por que razão isto me está acontecer?'. A lesão era no tornozelo".
Derrotas: "Quando perco, por vezes não consigo dormir. Vou ver novamente o jogo, o que fizemos e porque perdemos. A equipa é sempre mais importante, mas tento sempre perceber se joguei bem ou mal. Quero fazer uma época ainda melhor do que a anterior. Temos uma boa equipa e não podemos ir abaixo. Temos de estar juntos, como uma família, tal como na época passada. E espero que no final da temporada possamos ganhar algo para deixar os adeptos, o clube e o presidente felizes".