Porta fechada seria petisco sem sal: recordações de um famoso jogo do FC Porto
Vítor Baía, Hugo Almeidae Paulo Assunção jogaram sem público em Milão, em 2005, e nãogostaram do ambiente. Decisão de cancelar jogos aprovada por todos.
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Depois de ter anunciado que esta jornada ia ser disputada à porta fechada, a Liga decidiu adotar uma medida mais dura, à semelhança de outros países, e suspendeu mesmo os jogos que se iam iniciar esta sexta-feira com o Rio Ave-Paços de Ferreira.
Desta forma, também a deslocação do FC Porto a Famalicão está, para já, adiada para data ainda por definir. Tudo na sequência da pandemia do Covid-19.
Não haverá futebol sem público nas bancadas como, por exemplo Jurgen Klopp, Guardiola ou Nuno Espírito Santo defenderam esta semana. Vítor Baía concorda que se as pessoas não podem assistir não faz sentido haver jogos. "O futebol sem público é um petisco sem sal, e é isso que um futebolista sente, uma sensação de que falta efetivamente alguma coisa à nossa volta", conta-nos o antigo guarda-redes do FC Porto que, em 2005, esteve no famoso jogo dos dragões com o Inter de Milão que se disputou à porta fechada. "Não gostei da sensação. Falta público, falta um elemento importante no jogo, falta o elemento que lhe dá o ambiente, que transmite emoções aos jogadores, que os motiva. Sem público o futebol perde muito do encanto que tem", acrescenta o ex-número 99.
Hugo Almeida e Paulo Assunção também foram titulares nesse encontro da fase de grupos da Liga dos Campeões e também são da mesma opinião do antigo companheiro. "O primeiro impacto é um vazio grande, sente-se uma desilusão. Na Turquia também fiz muitos jogos à porta fechada", recorda o avançado que colocou um ponto final na sua carreira em dezembro. "É um pouco estranho, estamos habituados a ter os adeptos a puxar. Normalmente, chegamos aos estádios duas horas antes e vamos ao relvado e já tem adeptos, entras logo no clima do jogo. Assim, não tem ninguém, há um vazio enorme", diz Paulo Assunção. "Concordo com a interrupção, porque esta é uma situação perigosa. É melhor não jogar, descansar um pouco e voltar já com as portas abertas. Está tudo fechado e mais vale prevenir", sublinhou.
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No fundo, os três defendem que um jogo sem público é quase como um treino, ainda que valha pontos. "Já tinha jogado duas vezes em S. Siro e foi mesmo muito estranho, parecia que estávamos num treino", atira Baía. "É como se fosse um treino que vale três pontos e em que tens de dar tudo. Depois de começar, vamos à procura do objetivo, concentramo-nos, metemos na cabeça que é oficial e que temos de ganhar", explica Paulo Assunção.
Perde-se emoção e todo um ambiente que, por norma, empolga as equipas, mas nem tudo seria negativo. O silêncio vindo das bancadas tem uma vantagem que os três identificam rapidamente. "Acaba por se ouvir melhor quem está no banco. Com 50 mil pessoas é impossível ouvir as indicações do míster, tens de estar mais atento", atira o antigo trinco. "Há um eco, apanhas bem as falas tanto do teu banco como do adversário", acrescenta o avançado. Baía concorda. "Os jogadores ouvem-se uns aos outros, os treinadores também, lembro-me que foi mesmo esquisito."
Haveria ainda outra vantagem, mas só para quem joga na condição de visitante. "A estratégia não muda, sabemos o que temos de fazer, mas os adeptos ajudam sempre, empurram. Dão-nos mais força e não existe tanta pressão para o adversário. Sem eles, quem joga fora tem alguma vantagem", considera Paulo Assunção. "Sem dúvida que é pior para a equipa da casa, sobretudo se for uma casa complicada, um estádio da Luz, Dragão ou Alvalade. Sem claques e estádios vazios fica melhor para quem lá vai jogar", atenta Hugo Almeida que concorda com esta suspensão "por causa do problema mundial". Caso contrário, seria contra. "Mas é a atitude correta a ter", admite.