Quem procura, acha - e quem acha cura. A lógica que nos habituamos a ouvir dos médicos surge agora aplicada à I Liga, no rastreio da covid-19. Testar é essencial para garantir um regresso seguro.
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Dez novos infetados, quatro clubes, dois distritos: eis o retrato oficial da covid-19 na I Liga, depois de conhecidos os resultados dos testes efetuados no final da primeira semana de treinos individuais.
Três futebolistas do Vitória de Guimarães, um do Moreirense, um do Benfica, o médio David Tavares, três do Famalicão, e ainda dois elementos da estrutura afeta ao plantel profissional desta SAD estão infetados e assintomáticos. Três destes emblemas pertencem ao distrito de Braga, os dois primeiros ao concelho de Guimarães. No mapa nacional da doença, encontram-se a Norte, na zona mais afetada (ver caixa). Dias antes, foi conhecido um caso positivo num jogador dos sub-23 do Belenenses. O JOGO sabe que há mais infetados, mas nem todos os clubes assumiram os resultados.
Tudo somado, o que se obtém são os positivos esperados, a partir do momento em que toda a população da I Liga é submetida a testes e revela o que a natural boa condição física dos atletas tende a esconder. Não é por acaso que todos os futebolistas infetados estão assintomáticos, mesmo um que já antes testara positivo. Trata-se de um grupo profissional para quem a permanente vigilância médica faz parte do quotidiano e cuja excelente saúde é determinante no sucesso. Ou seja, este é a antítese de um grupo de risco.
Risco calculado para reduzir contágio
Os resultados positivos ontem conhecidos não traduzem um sinal de alarme. São o que se procura, nesta primeira fase do regresso aos treinos, de forma individual, sem contacto entre os companheiros de equipa. "Preocupante seria mais tarde", nota a OJOGO Filipe Froes, pneumologista e um dos membros da "task force" da Direção-Geral da Saúde (DGS) que colaborou com o GAME-Covid-19, o gabinete médico da Liga para o combate à doença na elaboração do programa para a retoma progressiva da competição inicialmente apresentado à autoridade nacional de saúde. "Estamos no início, os testes vão detetar os infetados antes que regressem os treinos em grupo" e os resultados estão "dentro do expectável". De resto, "esta é a melhor altura para acontecer", reforça o especialista: "O mais grave seria haver jogadores infetados, reiniciarem-se os treinos de grupo e a equipa correr o risco de ficar toda ela infetada".
Ainda antes de a Federação Portuguesa de Futebol e a Liga divulgarem, ao final do dia de ontem, o parecer técnico da DGS para o regresso da I Liga e para a final da Taça de Portugal, em que são definidas a periodicidade dos testes e as condições para os atletas poderem ser admitidos em competição (ver páginas 4 e 5), várias fontes ligadas a este processo asseguraram a O JOGO que a malha de testes será apertada de forma a reduzir ao mínimo o risco de contágio, com procedimentos minuciosos para salvaguardar a saúde dos atletas e de quem os rodeia. Por agora, quem testou positivo pára 14 dias e só com dois resultados negativos poderá retomar a preparação. Companheiros de equipa e pessoal de apoio são considerados contactos próximos, mas, estabelece a DGS, graças às "medidas de confinamento e de testes" aplicadas ao futebol, "a identificação de um caso positivo não torna, por si só, o isolamento coletivo, das equipas, obrigatório". Qualquer decisão em sentido diferente caberá às autoridades de saúde.
Testar, avaliar e aprender com os outros
Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, admitiu, na conferência de imprensa de ontem, que "conciliar o retorno da atividade do futebol com regras sanitárias e de segurança" é uma "situação muito complexa": "É difícil definir linhas vermelhas. Se os testes feitos às equipas derem um número elevado de pessoas positivas, terá de ser equacionada pelas autoridades de saúde de nível local, regional e nacional a avaliação do risco em concreto". "As regras vão ser cumpridas", assegurou, tal como Marta Temido, ministra da Saúde: "Mantém-se a intenção do Governo de avaliar a possibilidade que temos para a retoma das competições no final deste mês. Aliás, neste momento começamos a ter outros países com os quais podemos aprender lições, a Alemanha vai retomar a Bundesliga no dia 16. Estamos a aperfeiçoar o nosso pensamento e a aprender com os outros".