Pinto da Costa diz que "Liga só pensa em negócios" e aponta centralização dos direitos
Pinto da Costa recordou os tempos em que foi presidente da Liga, em 1995, no programa "ironias do destino" e fez uma comparação com a atualidade.
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Período como presidente da Liga: "À minha carreira não acrescentou nada. Fui presidente da Liga mas fui contra a minha vontade. Tinha-se caído no impasse, quem organizava os campeonatos era a federação e os clubes queriam que passasse a ser a Liga. Para isso criaram um organismo autónomo para a organização dos campeonatos, só que não havia entendimento entre a Liga, a federação e as associações, que davam os votos à federação. Houve uma proposta das associações que, se fosse eu o presidente da Liga, eles passariam os direitos de organização para a Liga. Naturalmente que perante isso e pressionado por todos os clubes, acedi, embora com a condição prévia que só faria um mandato e que sairia se os campeonatos estivessem a rolar normalmente. E assim foi."
A importância dos presidentes dos clubes na Liga: "Organizamos os campeonatos, foi uma enorme responsabilidade porque sucedi ao maior presidente da Liga de todos os tempos, Valentim Loureiro. Também tive o apoio dele, a própria direção da Liga não era formada por pessoas indicadas pelos clubes, como é hoje, mas pelos próprios presidentes dos clubes. Foi muito fácil, uma conjugação de esforços, interesses comuns e amizades de todos. Normalizámos a organização dos campeonatos que ainda dura até hoje. Dessa direção faziam parte Manuel Damásio, que era presidente do Benfica, Pimenta Machado, presidente do V. Guimarães, Rui Alves, presidente do Nacional, Fernando Pedrosa, presidente do V. Setúbal."
Diferenças para a atualidade: "Como a Liga era formada pelos presidentes, funcionava no interesse dos próprios clubes, não era vista como uma sociedade para negócios. Hoje a Liga está preocupada não em resolver os problemas dos clubes, que não resolve. Há o exemplo de como uma Liga mais ativa e com uma federação igualmente mais ativa, seria inconcebível que não houvesse público no futebol, quando há nos cinemas e nos teatros. Isso seria impossível. As pessoas que estão na Liga são indicadas pelos clubes, mas, não sendo os presidentes, não têm a responsabilidade que qualquer presidente tem, nem têm o poder dentro dos clubes que qualquer presidente tem, nem a necessidade de resolver os problemas. Nesse tempo estavam todos com o mesmo lema, foi possível resolver todos os problemas. Atualmente a Liga pensa em negócios, é a preocupação da centralização dos direitos, nunca percebi bem qual é esse interesse, como da federação. Fazem as coisas nas costas dos clubes. Temos o caso do secretário de Estado, quando o futebol vive momentos terríveis veio dar uma entrevista a dizer que a preocupação que tem era a centralização dos direitos televisivos. Isso é uma coisa que, a acontecer, será no ano de 2028. Quando a preocupação do responsável pela tutela do desporto é a de resolver um negócio que é para 2028 fico pasmado, mas é o que é. Tantos problemas que devia estar interessado em resolver..."
A sucessão para Manuel Damásio: "No tempo em que fui presidente da Liga, não por mérito meu mas por mérito de todos os que compunham a minha lista, foi possível fazer um trabalho conjunto com amizade e sobretudo com muita independência, com frontalidade com o poder instalado. Tanto havia bom relacionamento que, por iniciativa minha e porque tinha tomado a iniciativa de fazer só um mandato, quem me veio a suceder foi precisamente Manuel Damásio. Não havia clubes contra clubes, nem havia ninguém a fomentar discórdias, só assim foi possível que a federação nos cedesse a organização das provas, que ainda hoje se verifica."