Pinto da Costa: "Abraço foi reconhecimento pelo que o Sérgio Conceição tem feito e sofrido"
ENTREVISTA PARTE I - Presidente portista contou a O JOGO que a vitória sobre a Juventus lhe lembrou a derrota na final da Taça das Taças, uma "dor" que ainda sentia, e lembrou amigos que já não estão. Mas Sérgio mereceu bastante
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Pinto da Costa já conquistou 63 troféus no futebol profissional, sete deles internacionais, mas nem por isso deixou de se emocionar com o apuramento do FC Porto em Turim. A imagem do abraço a Sérgio Conceição é uma das mais fortes da noite europeia e tornou-se viral.
Abraço a Conceição foi reconhecimento do que este tem feito e sofrido, mas estava carregado de outras emoções
A O JOGO, o presidente explicou tudo. "É verdade que são imensas as vitórias que o FC Porto tem tido na minha presidência, mas essas para mim fazem parte do passado. Vivo cada jogo com a mesma vontade de vencer, como se nunca tivesse ganho nada. Antes do jogo, o presidente da Juventus, o sr. Agnelli, perguntava-me quanto títulos o FC Porto já tinha ganho e ficou muito admirado porque eu não lhe soube responder, porque isso para mim não conta, conta é para a história do clube, que não terá de ser feita por mim. Mas é evidente que, para mim, este é um jogo especial, por muitas razões", começou por explicar, antes de evocar a final da Taça das Taças de 1984.
"Queria muito ganhar e tinha a firme convicção de que iria acontecer. Na véspera, à noite, em conversa com Sérgio Conceição e outras pessoas, mostrei, como sempre desde o sorteio, a minha convicção de íamos passar. Estava completamente convicto. E era muito importante para mim por muitas razões. A primeira é que, a 16 de maio de 1984, na primeira vez que o FC Porto esteve numa final europeia, perdemo-la com a Juventus. Isso ficou-me atravessado, porque depois não perdemos mais nenhuma das sete que realizámos e essa era, de facto, uma dor que eu sentia. E também pelo facto de nunca termos conseguido eliminar ou alcançado uma vitória sobre a Juventus. Habituei-me desde jovem a ter uma grande admiração pela Juventus, era e ainda é um dos grandes da Europa, campeão quase permanente do futebol italiano, que para mim é fantástico... Tinha esse desgosto e senti satisfeito naquele momento o meu desejo, não de vingança, porque isso não pode haver no futebol, mas de repor as coisas como gostava que tivessem acontecido em 1984", desabafou.
"Estava a abraçar todos os que estiveram comigo em 39 anos. De um modo especial, também Reinaldo Teles, que merecia estar ali"
"Naquele momento não estava só a abraçar o Sérgio", prosseguiu Pinto da Costa. "Estava a abraçar todos aqueles que durante estes anos todos me proporcionaram a mim e aos portistas tantas alegrias e que infelizmente já não estão connosco. Treinadores como Ivic, Carlos Alberto Silva, Bobby Robson, que infelizmente já partiram, senti que estava a abraçá-los a todos os que estiveram comigo nesta caminhada de quase 39 anos ao serviço do FC Porto. De um modo especial também estava a abraçar o Reinaldo [Teles], que merecia estar ali junto de nós e, infelizmente, por esse malfadado covid, já não pôde estar presente", vincou, com carinho especial.
"E também foi um abraço para o Sérgio, não só pelo reconhecimento do seu grande trabalho, mas sobretudo pela perseguição constante dos organismos desportivos. O Sérgio fala nas conferências, diz o que pensa, tenta ajudar o futebol e constantemente leva com processos... Foi um agradecimento e também uma reparação por tudo o que tem sofrido nesse campo, dessa forma. Foi um reconhecimento público, instantâneo, sobre aquilo que, de facto, ele tem feito, que é fantástico. E, sobretudo, repito, um abraço de compensação para tudo o que ele tem sofrido com constantes processos e perseguição de muita gente da comunicação social. Foi uma grande vitória, embora haja alguns imbecis que descobriram que a Juventus que há três meses ganhou 3-0 na casa do grande Barcelona, seja uma equipa que não joga nada e não tem bons jogadores. Mas o Sérgio já sabe o que a casa gasta e continua obcecado por vencer no clube do seu coração, que felizmente é também o coração de todos nós, portistas", concluiu, naturalmente esperançado de que esta união continue a render sucessos.