Pedro Proença: “A centralização é mais do que a criação de riqueza. Vai reduzir diferenças”
ENTREVISTA, PARTE V - O prometido aumento das receitas provenientes do audiovisual faz os clubes esfregarem as mãos. O presidente da Liga, Pedro Proença, explica em entrevista a O JOGO qual o modelo que pretende implementar, que vai ajudar à competitividade.
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As mudanças estão previstas para 2028/29, mas as sociedades desportivas esperam ansiosamente por um maior equilíbrio de forças.
Várias sociedades desportivas depositam muita esperança que a centralização dos direitos de televisão será o passo decisivo para alavancar as suas receitas. Não é errado pensar que esse processo vai ser a galinha dos ovos de ouro dos clubes?
-Será, garantidamente, um “game changer”. É verdade que há uma expectativa do que são as grandes vantagens do modelo centralizado de propriedades comerciais e, no caso os direitos televisivos, que a riqueza aumente. O “game changer” da centralização é que, de repente, teremos um pivô organizador e um regulador do que é o produto que se chama futebol e que é dado de forma audiovisual. Vai ajudar termos um manual de realização igual, haver uma marca transversal que venda e que possa proporcionar novas experiências aos adeptos. A centralização é mais do que criação de riqueza. Vai reduzir a diferença entre os que mais ganham e os que menos ganham. Essa é uma grande vantagem financeira, mas o essencial é criar um produto de maior qualidade e que seja tratado por um só regulador, que será a Liga. Poderemos ter benefícios em termos internacionais, escolhermos os mercados nos quais queremos penetrar e que nos interessam, controlando aquilo que é o produto audiovisual.
Como pensa atrair os jovens ao consumo do futebol português?
-A geração dos 13/14 anos deveria estar hoje a consumir futebol. A experiência que tínhamos com essa idade não é a mesma. Se não tivermos a capacidade de criar uma experiência diferente aos jovens o futebol perde valor. A este nível, podemos questionar por que a final four da Taça da Liga tem tanta qualidade. A resposta é simples: porque tem direitos centralizados, controlados pela Liga, e também porque há o envolvimento total dos adeptos. Quando um miúdo vai ver um jogo da final four passa na fan zone e vive emoções fora do estádio. Essa transversalidade é decisiva. Temos de aproximar os jovens a essas experiências.
Teme que os clubes aproveitem essas verbas da centralização dos direitos para tapar buracos nas suas finanças?
-Não, porque o controlo económico será muito rigoroso. A receita que os clubes vão ter a mais não poderá ser aplicada no pagamento de salários ou no pagamento do fornecimento de serviços a externos. Uma percentagem das novas receitas terá de ser alocada para infraestruturas, hospitalidade e outros meios para permitir experiências diferentes aos adeptos. Tudo isso vai aumentar a qualidade e as assistências nos estádios.