Pedro Araújo é um apaixonado pelo futebol, movendo todo o esforço pelos guerreiros e por artigos de colecionismo. Tem um espaço de culto em São Mamede de Infesta, onde reúne autênticas relíquias.
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Alma de colecionador de mãos dadas com a febre de adepto, a sintonia pelo golo na garganta, o amor por uma camisola na montra, mais ainda o reconhecimento da raridade e antiguidade, tempos de criança guardados com afeto e memória, definidores da mais inabalável paixão.
É pelo Braga que respira Pedro Araújo, um homem de Águas Santas, Maia, residente em São Mamede de Infesta, Matosinhos, coberto de honra por ser um indefetível apaniguado dos guerreiros na periferia do Porto. Nunca se demitiu de respeitar o legado do pai, nem se deixou demover pelas pressões da adolescência e pelo cerco de amigos ferrenhos do FC Porto e do Benfica. É tal a ligação ao clube do Minho que daí nasceu a inspiração para fundar o futsal do Arsenal Clube da Maia, numa intimidade com os gunners de Londres, e com a razão dessa denominação de arsenalista ao adepto do Braga a resultar da mudança de equipamento sugerida pelo húngaro Szabo aos responsáveis do clube minhoto, em 1921.
Pedro Araújo vive dias felizes pela permanência da sua equipa de futsal no segundo escalão, pela comemoração de mais um aniversário, e pela descarada ambição de ver o seu Braga conquistar mais um feito no Jamor. O seu bilhete foi arrancado a muito custo, sofrendo com uma fila infinita, num dia passado no Braga Shopping à espera da vez para proceder à compra.
"É uma paixão de criança, nasci adepto do Braga por influência do meu pai, natural da freguesia de Aveleda. Sempre acompanhei o futebol, o meu pai era sócio e levava-me aos jogos desde pequeno. Alimentou-me uma enorme paixão", sustenta Pedro Araújo, ainda hoje habituado a fazer a viagem Porto-Braga a cada partida dos guerreiros.
"Ser adepto do Braga na periferia do Porto é diferente. Conheço outros bracarenses radicados aqui e alguns fundaram comigo o Arsenal da Maia. Somos sempre questionados pela escolha do Braga como clube. Enalteço o crescimento sensacional e recebo também felicitações pelo que tem feito o clube, mas, no fundo, há sempre uma estranheza, porque quase todos acham que só há três escolhas possíveis: FC Porto, Benfica ou Sporting. Acham que o Braga é o meu segundo clube. Digo-lhes que o primeiro é o Braga, o segundo é o Braga e o terceiro é o Braga", afirma Pedro Araújo, agarrando o presente próspero conduzido por uma liderança muito firme de António Salvador. "Os títulos têm sido normais para o crescimento do clube a todos os níveis. E não devemos falar só dos títulos, também das finais perdidas, como aconteceu na Liga Europa. Ser campeão é algo que me parece inevitável, estará para breve. E quando isso acontecer, não tenho dúvidas de que o Braga ombreará, de igual para igual, com os ditos grandes. Vai ganhar pujança, mas, ainda assim, tenho pena que não existam mais Bragas", remata.
Do Braga só vende artigos repetidos
A loja de artigos desportivos em São Mamede de Infesta atrai colecionadores espalhados pelo país, reunindo atrações sem fim. Há um império de ligações ao futebol, mas não faltam associações a outras modalidades como o hóquei, o boxe e desportos automóveis. Tudo se vende e tudo se encontra, tudo se vasculha e redescobre, nem que seja pela página de um jornal de tempos longínquos, numa saga sem impossíveis para alguém que acene com mais uma raridade.
"É um balanço muito positivo, virou negócio, mas é uma paixão de miúdo. Tanto pelo futebol como desporto em geral. Ter objetos e camisolas, e também documentação de alguém que fez sucesso no desporto, principalmente no futebol, é sinal de gratidão. É um prazer enorme servir os meus clientes, ajudá-los a adquirir uma peça que procuram, isso dá mais prazer do que o dinheiro que possa envolver", explica Pedro Araújo. "A paixão é o que me move nesta causa, a loja iniciada em 2012, é a única física de colecionismo em Portugal. É um orgulho reunir peças de jogadores conhecidos e chegar a importantes coleções. Já vendi várias camisolas marcantes usadas na nossa Seleção, mas outras muito antigas como Checoslováquia, Itália ou Brasil. Posso desfiar um rol de nomes como Chalana, Eusébio - tive uma do Benfica, de 1973, Simões, João Pinto, Humberto, Nené, Fernando Caiado, Serafim Batista, Jordão, Gomes da Costa, Paulo Machado ou Carlos Duarte",nomeia, precisando outras relíquias. "Tive outros objetos simbólicos, como as faixas de campeão do Benfica nos anos 50, bordadas ouro, lindíssimas. E uma bola de futebol autografada por toda a equipa do União de Coimbra quando subiu de divisão", enaltece, expondo a sua luta.
"Tenho investido algum dinheiro, é um esforço por coisas que movem a nossa paixão. Sempre tive vários artigos relacionados com o Braga, com todos os grandes e com a Seleção. Mas, quando se fala de Braga e da Seleção, só coloco na loja o que é repetido, porque também tenho a minha coleção, faço essa separação, caso contrário, precisava de um armazém", nota.
"Também já me apareceram vários objetos que ambicionava ter e não consegui. Tentei comprar uma camisola do Maradona da final do Mundial de 1986, não a que usou, mas uma alternativa que ele tinha para esse jogo. E quase tive a bola desse jogo, que estava nas mãos do filho do árbitro dessa partida. Há muita coisa, mas nem sempre conseguimos comprar o que queremos, outros metem-se pelo caminho e há familiares mais agarrados à nostalgia", conclui.
Camisolas que fazem suspirar
Rosto da Sports Colecionismo de Desporto, onde também ele honra e tributa a glória do Braga, mas não esquece os caminhos do nosso futebol, entre documentos históricos, bilhetes de jogos marcantes, bolas de outros tempos, em que tudo era a preto e branco, e um desfile de camisolas que gera vaidade e nostalgia. Mas, também convoca apetite do mercado. Habituado a vender e promover equipamentos associados a grandes vitórias, tendo já agarrado coleções oficiais de vários protagonistas do futebol nacional, numa aventura lojista que começou com a aquisição de material da família de Fernando Caiado. De um Jamor como epicentro de jogos lendários, disputas memoráveis e de uma simbologia difícil de bater, se guardam também orgulhosos registos, e se contemplam o Braga...melhor!
"O valor relativo a camisolas usadas por jogadores numa final da Taça, seja qual for o clube, vai depender sempre do jogador em questão e da época. Uma camisola do nosso Perrichon, usada na conquista da Taça de 65/66 vai ter muito mais valor pela sua antiguidade. As camisolas mais recentes têm de esperar o seu tempo para serem bem valorizadas. Os valores vão variar muito, em função do atleta. Neste Braga, caso vença, imagino um valor superior daqui a uns anos para as camisolas do Ricardo Horta e do Al Musrati. Podem ser investimentos de muitos euros", evidencia. O lojista mamedense, também colecionista devoto, até nos exibe a camisola de Lino do Jamor. O lateral-esquerdo esteve numa derrota do Braga para o FC Porto, em 1997/98: "Tenho tido camisolas mas vão depressa, por exemplo do Djavan, vencedor da Taça em 2015/16, ou do Trincão, da última Taça da Liga. Sem esquecer bilhetes e medalhas de vencedores".
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