A Liga estima o impacto da pandemia da covid-19 no futebol profissional. Ao nível de eventuais transferências, a desvalorização custa cerca de 100 M€. Sem completar os jogos na I Liga, as perdas seriam de 318,5 M€
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O futebol profissional vinha de "um dos melhores anos das últimas quatro épocas" quando, repentinamente, em março, o surto pandémico da covid-19 obrigou a parar tudo. A II Liga já não regressou e retomar o campeonato principal passou a ser a prioridade da Liga, para evitar o colapso do sector cujas 34 sociedades desportivas, embora separadas por profundas desigualdades nos recursos, juntas em campo geram 0,27 por cento do PIB (Produto Interno Bruto).
O cancelamento sumário da atividade teria custado 318,5 milhões de euros, estima Susana Rodas, diretora de marketing da Liga, que fez essas contas em abril, quando a instituição já trabalhava com os peritos da Direção-Geral da Saúde para devolver o jogo aos relvados. As dez jornadas finais cumpriram-se, o FC Porto conquistou campeonato e Taça de Portugal à porta fechada e o impacto daquela insólita paragem foi atenuado. "As perdas no sector, neste momento, em receitas, terão sido de perto de 135 milhões de euros", calcula Susana Rodas, que hoje abordará este tema na conferência organizada pela Liga sob o tema "Futebol Profissional e Economia Pós-Covid-19".
Antes da pandemia, "as receitas eram superiores aos gastos em 79,9 M€"
Para se ter noção do impacto da pandemia, ajuda lembrar que a gestão de Pedro Proença apresentava uma "taxa de crescimento média anual de 12 por cento". "Em 2018/19 tínhamos crescido 41 por cento face à época anterior", nota, com "receitas totais de 858,3 M€, dos quais 300 M€ de transferências". De repente deixou de haver negócio e as contas passaram a fazer-se às perdas. Fechada a época, "terão sido de perto de 135 milhões de euros", estima Susana Rodas.
Os pressupostos que conduziram a este número incluem "dois milhões de euros em direitos audiovisuais", com o cancelamento da II Liga, "11 M€ na atividade comercial", mais 13 M€ em "receitas de bilheteira e quotas", 3 M€ em merchandising". No capítulo dos custos, a Liga estima que os clubes profissionais "terão conseguido poupar 96 M€". Desses, 25 M€ em custos com pessoal. O impacto nos impostos pagos ao Estado varia entre "7 M€ e 12 M€" e regista-se ainda uma "poupança infeliz" de "100 M€, a correr bem", que "resulta diretamente de haver menos transferências".
Nesta rubrica contabilística, o negócio corria bem antes da pandemia. "As receitas eram superiores aos gastos em 79,9 M€, o que estava a permitir investir em infraestruturas, estruturas, contratar pessoas para as áreas de marketing e financeira", recorda Susana Rodas.
Se a estimativa relativamente ao mercado de transferências se confirmar, o cenário não será completamente mau: "Se conseguirmos fazer 200 M€, com uma perda de 100 M€, vamos acabar este ano com o sector superavitário. Perdendo 135 M€ de receitas, conseguindo poupança de 96 M€ de custos, conseguiríamos ficar com o sector superavitário em 40,7 M€."
"Pagar 150 M€ de impostos num sector que no ano passado teve receitas totais de 850 M€ é muito"
"Nunca esquecer que isto são 34 equipas [têm sido, em média, devido às equipas B], que geram 0,27 por cento do PIB", sublinha Susana Rodas: "É um sector muito importante para a economia nacional e tem um arrastamento na marca Portugal que tendemos a esquecer e não se pode medir. A Liga NOS, a Liga Pro e a Liga Portugal é que criam Ronaldos. São o berço de todos estes jogadores, como João Félix. No futuro, em cinco ou seis anos, o que fazemos neste sector vai ter um arrastamento sobre a nossa marca. Não podemos parar esta máquina. O impacto não é só no futebol, é na marca e na visão que o mundo tem de Portugal."
Menos impostos e portas abertas
Pedro Siza Vieira, ministro da Economia, João Paulo Rebelo, secretário de Estado da Juventude e do Desporto, e António Saraiva, presidente da CIP (Confederação da Indústria Portuguesa), contam-se entre os oradores da conferência, em Oeiras, que fará eco das reivindicações do futebol profissional para superar o impacto da pandemia da covid-19. Susana Rodas sabe-as de cor.
"Pagar 150 M€ de impostos num sector que no ano passado teve receitas totais de 850 M€ é muito, é preciso rever as taxas a que o futebol está sujeito", apela, e lembra que os "seguros também devem ser revistos, custam 18 M€" ao sector. A luta mais urgente, porém, será recuperar o público para as bancadas, "como noutros espetáculos".