CAMPEÕES. No tempo de compensação, Pepê e Zaidu correram com as dúvidas, depois de um jogo calculado ao centímetro. Até no golo anulado a Darwin
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Sérgio Conceição evitou, na Luz, os riscos que decidira correr em Braga. Baixou linhas, sem abdicar da pressão, e olhou para a baliza de Vlachodimos, mas com ordens para um reposicionamento relâmpago da equipa sempre que ela fugisse. Desse ponto de vista, o jogo do título foi um êxito quase total, ainda que o "quase" tenha sido um golo anulado ao Benfica por dois centímetros (52"), num dos três lances em que Darwin pareceu mesmo demasiada areia para os centrais do FC Porto. Tudo o resto, do ponto de vista defensivo, foi controlo e risco mínimo numa tarde que só exigia um ponto. Faltou a outra metade.
Sem Uribe, Sérgio recorreu a Grujic, adiantou Pepê para a esquerda e devolveu João Mário à lateral-direita. Taremi estacionou nas costas de Evanilson. Mais revolucionário, até pelas baixas de última hora (Everton e Diogo Gonçalves), Veríssimo escolheu o canhoto Gil Dias para a direita e o destro Lázaro para a esquerda, com o fito de secar as zonas interiores, a partir de onde o FC Porto costuma desmontar os jogos. Mas atacou. Desta vez, não houve um Benfica fórmula Champions. A ideia era mesmo castigar a provocação da festa na Luz, ainda que com alguns cuidados à Liverpool, como a tal atenção de Lázaro e Gil Dias a determinados espaços, a colocação de Gonçalo Ramos mais perto dos médios do que de Darwin e um Taarabt menos anárquico.
O FC Porto gostou da ideia. Deixou o Benfica jogar e as vias do golo, em contra-ataque ou forçando o erro na pressão alta, apareceram. Os jogadores para as aproveitarem ou desenvolverem é que não. Depois de algumas saídas anuladas por maus passes, más decisões e duelos perdidos para o Benfica, Taremi teve a sua chance nas costas dos centrais e chegou ao primeiro remate do jogo (15"), mas a partir daí acentuaram-se a lentidão, falta de critério e más execuções que limitaram os planos portistas quase todo o tempo, com culpas especiais para Taremi. Apesar de, ainda assim, o FC Porto ter mantido superioridade nos números (à exceção da posse de bola), a estatística não dizia toda a verdade sobre as reais diferenças entre as equipas, maquilhadas por uma posse estéril do Benfica. Combativos, rigorosos, mas estéreis, mesmo quando Veríssimo encheu a equipa de pontas de lança.
Ao 30º título nacional do FC Porto já está associado o recorde de jogos sem derrotas e ficou agora muito perto o registo máximo de pontos. Duas marcas que distinguem um campeão fora do vulgar.
O momento de mudança, já depois dos dois centímetros que poderiam ter obrigado o FC Porto a regressar ao futebol habitual, veio com as substituições de Veríssimo. A entrada de Seferovic atirou Darwin para a esquerda, onde podia ser mais simples para a equipa chegar-lhe. Não foram precisos muitos sinais para que Conceição entendesse a mensagem, respondendo com Galeno na esquerda e Pepê a reforçar João Mário na direita. Tirando um estrebucho, acabou Darwin e acabou também o meio-campo do Benfica, então já com João Mário, mas mais interveniente em pequenas faltas quando um ou outro contra-ataque do FC Porto parecia menos desastrado. Até que, no momento que pareceria chave para o Benfica (um canto com vários armários para mobilar a pequena área), a bola rechaçada encontrou a primeira das duas últimas balas. Pepê disparou como um foguete, não tinham ficado adversários suficientes para precaver o lance e Taarabt, o acompanhante designado, conseguiu acelerar menos do que o árbitro João Godinho. À esquerda de Pepê, a segunda bala destinada a sentenciar o jogo do título: o inesperado, mas veloz, Zaidu. Pepê levantou a bola sobre o último defesa, o nigeriano aplicou o pé esquerdo e a Luz teve de se render pela terceira vez na história ao campeão FC Porto.
Veríssimo: uma prova de honra de pólvora seca (menos 2 cm)
Nélson Veríssimo não teve uma despedida da Luz brilhante. Quis castigar o FC Porto e conseguiu posse de bola, basicamente, ainda que o golo anulado a Darwin seja sempre um argumento utilizável. Menos contornáveis foram as mexidas quando tentou o xeque-mate. O Benfica ficou pior com Seferovic, Yaremchuk e João Mário e o desvio de Darwin para a esquerda permitiu a Sérgio Conceição abafá-lo em definitivo. Vale-lhe o mesmo fundamento usado contra si próprio nos jogos com Ajax, Liverpool e Sporting: era mais fácil para adversário que defendia um ponto.
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