Ações totais, passes, assistências para remates e outros dados de valor extra para um jogador que se afirma em 2020/21 como o centro do jogo do FC Porto. Nunca tinha feito três ações decisivas na mesma partida
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Duas assistências num só jogo, Sérgio Oliveira só as tinha conseguido na época passada, em casa do Santa Clara, curiosamente no encontro que o FC Porto venceu (2-0) para chegar à liderança da Liga que não mais largaria.
Está na melhor fase da carreira e só um médio na Europa foi mais decisivo: Bruno Fernandes
Marcar e assistir no mesmo confronto também não é normal. O médio conseguiu-o em 2017/18, numa goleada (4-0) em Chaves e no arranque desta temporada, contra o Boavista. Mas somar três ações decisivas num só desafio (neste caso, um golo e dois passes para o mesmo efeito) era sensação que Oliveira desconhecia em absoluto.
Aos 28 anos, o capitão portista na ausência de Pepe está na melhor forma da carreira. E não é esta marca que o diz: é o somatório de todas as que tem registado nestes primeiros 10 jogos da época e a influência que tem na forma como a equipa se organiza. Já lá vamos. Para já, um dado que o remete para outras lides que não apenas o contexto nacional: nos principais campeonatos europeus, entre os médios, só Bruno Fernandes tem mais ações decisivas em 2020/21.
Para a tornar mais abrangente, fizemos a pesquisa considerando todos os médios defensivos e ofensivos e até aqueles que, às vezes, jogam como segundo avançado, como Mkhitaryan (Roma), Matheus Cunha (Hertha) ou até Pedro Gonçalves, do Sporting. Nem assim encontrámos alguém com mais ações dignas de relevo do que o portista.
É certo que Pote tem menos jogos pelo facto de o Sporting não ter entrado na fase de grupos da Liga Europa, mas também é verdade que outros, como Bruno Fernandes, já tiveram, por exemplo, Taça da Liga. Sérgio marcou de bola parada e bola corrida, em casa e fora do Dragão, assistiu de bola corrida e de pontapé de canto e acaba por confirmar que é, à data, um jogador muito mais completo do que no passado.
"Para nós, ganhar é o mais importante. Se A ou B faz golos, é em prol do clube"
Para já, ao segundo mês de prova, igualou o recorde de remates certeiros numa temporada, que trazia desde 2012/13, quando marcou os mesmos seis golos na II Liga. Depois, está a caminho também de igualar o máximo de ações decisivas: contou 12 na época transata.
Se ninguém tem dúvidas da importância do 27 do FC Porto, é importante destacar que o jogo com o Portimonense é, seguramente, o mais completo da temporada que está a decorrer. E, porventura, também da carreira, considerando os dados estatísticos recolhidos pela Opta e partilhados pelo portal Wyscout.
Sérgio bateu uma série de máximos de época e ficou acima de todas as médias individuais, ora nas ações defensivas, ora nas ofensivas. Os números, que pode ver com maior rigor na coluna ao lado, podem ler-se de diversas formas. Mas há três que se destacam: 95 ações no jogo, mais 23 do que a média habitual; fez 61 passes, mais 21 do que a média por jogo em 2020/21; e recebeu 48 solicitações dos colegas, mais 20 do que a norma.
A avaliação qualitativa, Sérgio Conceição fará melhor do que nós, mas os números são claros em relação ao centro de jogo que Oliveira já se tornou: é dos mais proativos da equipa e dos mais procurados pelos colegas. Aliás, só Otávio (o jogador com mais ações da Liga em 2019/20) teve mais lances (bem ou mal sucedidos) com o Portimonense e só Sarr recebeu mais passes, sendo que a norma até é que os centrais dominem esses itens.
Naturalmente satisfeito com o momento, o jogador preferiu, ainda assim, desvalorizar os feitos. E, depois de um aviso à navegação sobre a necessidade de o FC Porto começar a entrar melhor nos jogos, sublinhou que, muito para além de quem marca, o importante é a equipa. "Se conseguir golos e ajudar a equipa, é um orgulho para mim. Se conseguir assistir, é um orgulho. Para nós, ganhar é o mais importante. Se A ou B faz golos, é em prol do clube. É o mais importante", vincou, qual capitão que já é.
Pepe lançou o mote e tornou-se viral: "Jogas tanto Oliveira"
O "Jogas tanto Oliveira" é uma espécie de slogan que começou por brincadeira e se tornou viral. Aliás, basta ler uma publicação do jogador e logo muitos fãs lhe respondem desta forma. Às vezes, até colegas. Culpa de... Pepe.
O central, um dos melhores amigos do médio, começou a dizer-lhe isso em jeito de brincadeira e uma vez fê-lo em direto, após a conquista do último título. O slogan pegou e Oliveira não voltou a desligar-se dele, o que nesta fase faz até mais sentido, tendo em conta o momento atual. Ontem, por exemplo, foi Toni Martínez a saudá-lo dessa forma.
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Marcas de Sérgio Oliveira
- Seis golos numa época a alto nível é recorde. Melhor só na formação, igual só na II Liga.
- O canto para Mbemba marcar é simbólico: depois de Alex Telles partir, assumiu ele as bolas paradas.
- Um médio a marcar seis golos em 10 jogos só Deco, em 2000/01.
- Demarcou-se de Corona. Ambos tinham seis ações decisivas. Sérgio tem agora nove, Tecatito sete.
- Seis golos e de todos os tipos: penálti (2), livre, cabeça e, agora, bola corrida de pé direito (2).
- Desde Domingos Paciência que um português não marcava em quatro jogos seguidos pelo FC Porto. Foi há 25 anos.
Mais passes e com maior arrojo
Sérgio Oliveira fez 61 passes, mais 20 do que a média e com mais perigo. Desses, 17 foram para a frente, contra a média de 13 que tem. Mais: 11 seguiram na direção do último terço do terreno, quando habitualmente faz seis. E sete assistiram remates de colegas, quando ainda esta época não tinha feito mais de três. Dois valeram golos, um de Mbemba, outro de Taremi.
Sem medo de perder a bola e... recuperar
As 17 perdas de bola, apenas quatro no meio-campo defensivo, indicam um jogador com confiança suficiente para jogar para a frente e arriscar. Nunca perdeu tantas. Mas também ainda não tinha registado nove recuperações, o que lhe dá outra legitimidade.
Faltam os aéreos para dominar os duelos
Sérgio Oliveira igualou os duelos defensivos que disputou com o Olympiacos (10) e teve mais um duelo ofensivo (5) do que no anterior máximo, com o Sporting. Faltam-lhe os duelos aéreos: disputou um e não o ganhou. Mas o Portimonense, dizem os números, procurou jogar essencialmente pelo chão.
Chegada à área mede-se em toques
Oliveira já agradeceu a Conceição a facilidade com que, agora, chega à área adversária. O reconhecimento tem um número: quatro toques na área, igual ao máximo de carreira, que já tinha conseguido três vezes. Sempre com Conceição.
Dobrou a fantasia e ficou com os louros
O 27 nunca será um driblador nem terá a responsabilidade de cruzar. Daí que raramente o tente, à média de um lance de cada género por jogo. Desta feita, dobrou a conta e até deu um golo de cruzamento.
DADOS
17 épocas - Ligação ao FC Porto vem desde 2002/03. Pelo meio, passou dois anos em Paços de Ferreira.
9 clubes - Jogou no FC Porto e esteve cedido a PAOK, Nantes, Penafiel, Mechelen e Beira-Mar. Passou também pelo P. Ferreira e, na formação, por Padroense e Paços de Brandão.
20 golos - Pelo FC Porto, desde que em 2008/09 se estreou pelos seniores, marcou 20 golos. Desses, seis foram esta época.
4 internacionalizações - Tem quatro jogos pela Seleção A de Portugal e está outra vez às ordens de Fernando Santos. Jogou em todos os escalões.