Dirigentes refletiram sobre o futuro da arbitragem numa palestra no Portugal Football Summit
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Duarte Gomes, diretor técnico nacional da arbitragem da FPF, Luciano Gonçalves, presidente do Conselho de Arbitragem, Nathan Magill, responsável pelo Desenvolvimento da Arbitragem da Football Association (FA) e Francisco Soto - Diretor do comité técnico da Federação Espanhola de Futebol (RFEF), refletiram esta quinta-feira sobre o futuro da modalidade no Portugal Football Summit, na Cidade do Futebol.
Oradores numa palestra, Magill começou por referir que o "recrutamento de árbitros" não é o principal desafio em Inglaterra, mas sim a sua "retenção".
"A pergunta principal é "Qual é o papel da arbitragem no futebol?". Tradicionalmente, é uma operação funcional, não é visto como um papel relevante para o futebol, mas sim um facilitador do jogo. Estamos a tentar mudar essa mentalidade do ponto de vista administrativo. Somos como os jogadores e treinadores, gostamos de estar envolvidos no jogo, queremos mais tempo no campo para praticar, e fazer uma carreira atrativa para jovens árbitros, temos algumas dos melhores campeonatos em Inglaterra. No sistema da Football Association, não existia um departamento de desenvolvimento e apoio aos árbitros. Procurámos desenvolver programas de educação compreensivos, gabinetes de apoio e bem-estar para apoiar os árbitros. Tentámos alinhar-nos com o objetivo principal, que os árbitros gostem do que fazem, explicou.
Já sobre como os juízes devem lidar com abusos verbais em estádios, Soto apresentou uma possível solução que tem dado frutos em Espanha, falando ainda sobre a crescente componente tecnológica da arbitragem.
"Em Espanha, quando o árbitro é insultado, pode pedir ao delegado para expulsar as pessoas que o insultam, está a funcionar para condicionar, pelo menos, a violência verbal. Nos cursos de Desporto das faculdades, começamos a ter a arbitragem como cadeira opcional, é algo que está a aproximar as pessoas da arbitragem. Hoje, não diria que a captação de árbitros é um problema em Espanha", apontou.
"As medidas tecnológicas podem fazer a arbitragem perder a sua essência. O sistema automático de fora de jogo pode ser visto como uma ameaça para os árbitros assistentes, porque esta é a sua principal função. No entanto, a função dos árbitros assistentes, daqui a 10 anos, pode ser diferente. Por muito que gostemos do aspeto clássico da arbitragem, há aspetos tecnológicos que nos vão ajudar. As novas gerações exigem rapidez, a arbitragem do futuro deverá promover essa rapidez. Introduzimos um corpo específico de árbitros VAR, esta época. No futuro, podemos especializar mais os árbitros nestas funções, durante o período de formação", referiu.
"Há 10 anos, não esperávamos usar o VAR, ou o sistema semiautomático de fora de jogo. Temos de tentar encontrar o equilíbrio entre a humanidade e a ciência. O futebol é um desporto de emoções, é isso que faz dele um jogo enorme. Existe pouca tolerância para erros, o que dificulta o papel da arbitragem. A partir da 12ª Divisão inglesa, os jogos já são gravados, quando eu era árbitro, não havia essa exposição. Os árbitros precisam de feedback real sobre as suas decisões, não de pontuações. O que queremos fazer, é usar a tecnologia, com o equilíbrio da humanidade, para melhorar os árbitros", acrescentou Magill, dirigente de arbitragem da FA.
Duarte Gomes, que tem andado a fazer um périplo pelas Associações Regionais para saber os desafios de cada distrito, enumerou a redução de 18,5% no número de árbitros em oito anos - de 5400 para 4400, a baixa participação feminina - apenas 13%, a taxa de abandono de 22%, principalmente nos primeiros três anos e a perceção pública negativa da arbitragem.
De resto, Luciano Gonçalves apresentou os principais pontos do Plano Nacional de Arbitragem: expansão e retenção da base; participação feminina; formação e progressão; carreira dual (equilíbrio entre arbitragem e profissão) e pós-carreira (integração de árbitros após final da carreira); profissionalização da carreira de árbitro; inovação tecnológica; credibilidade social e valorização do espetáculo.
"Os problemas acabam por ser transversais em toda a Europa. Em Portugal, temos muita falta de árbitros para as nossas realidades. Temos de criar formas de não ter árbitros a fazer, seis, sete ou oito jogos por fim de semana. Temos de criar condições para que os árbitros possam ser profissionais, numa indústria profissional, onde todos os outros elementos são profissionais. Temos de acompanhar a evolução tecnológica", concluiu o presidente do CA.