O meu 25 de Abril | "Interrogo-me se há alguém em Portugal capaz de treinar os talentos"
50 anos do 25 de Abril >> Manuel Cajuda, agora presidente de um renovado Olhanense, recorda o dia da Revolução dos Cravos e olha para o que falta fazer no futebol português após 50 anos da queda da Ditadura.
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Todos os dias, até ao 25 de Abril, O JOGO dá voz uma personalidade do desporto para falar do dia que marcou o fim da Ditadura e analisar o que mudou nos 50 anos de Democracia em Portugal.
Onde estava no 25 de Abril?
Estava no serviço militar, e curiosamente no largo do Carmo. Tinha 22 anos. Saímos do quartel da Polícia Militar para ir defender o Quartel General de Lisboa por volta da meia noite e meia, o comandante do esquadrão era um tenente que estava coligado ao Movimento das Forças Armadas (MFA) e disse-nos que o caminho que tínhamos de fazer seria diferente. Acabou por demorar duas horas para chegarmos atrasados.
"Não voltei a ir ao quartel, fazíamos serviços contínuos, andei sempre na rua e dormíamos nos jipes da Polícia Militar"
Quando chegámos, já o quartel tinha sido tomado pelas forças do MFA. Lembro-me da rendição do Governo, da chegada do General Spínola. Depois foi o festival popular até dia 1 de maio. Não voltei a ir ao quartel, fazíamos serviços contínuos, andei sempre na rua e dormíamos nos jipes da Polícia Militar.
Como analisa a evolução da sua modalidade de então para cá?
Olhando a que outros países, que não tiveram 25 de Abril, evoluíram de forma brilhante no futebol, como por exemplo Espanha, França, Inglaterra ou Itália, Portugal não evoluiu tanto como deveria. Há uma série de anos que se percebe, por tudo aquilo que se vê e se escreve, que há muitas zonas cinzentas no futebol português. Ainda há muito a melhorar a nível de cultura desportiva.
"Há uma coisa que me incomoda: sendo um país de talentos, interrogo-me se há alguém em Portugal capaz de treinar os talentos"
Também a nível de mentalidades estamos muito aquém dos países mais evoluídos da Europa. A nível de instalações estamos bem. Há uma coisa que me incomoda: sendo um país de talentos, interrogo-me se há alguém em Portugal capaz de treinar os talentos. Será que há talentos para treinar os talentos? Não temos tantos bons treinadores como pensamos que temos.