Marcelo Martins, preparador-físico que trabalhou cinco anos no Bayern, fala a O JOGO da cultura alemã. Onze na Luz tinha média de 4,6 épocas no clube, contra 2,7 da equipa encarnada.
Corpo do artigo
Dentro de campo, o núcleo duro do Bayern Munique mantém-se inalterado há vários anos.
Na baliza, Neuer está no clube há mais de uma década, o mesmo acontecendo no ataque com Muller, enquanto Lewandowski para lá caminha. Coman e Kimmich estão na sétima época de Bayern e, na defesa, Sule já vai na quinta temporada.
O entrosamento é forte, os jogadores entendem-se de olhos fechados. Esse é um dos principais pontos fortes do clube, segundo considera o preparador físico Marcelo Martins, a O JOGO, ele que esteve cinco anos no emblema bávaro.
"Trabalhei no Bayern com três treinadores diferentes e durante todo esse tempo eles conseguiam manter grande parte dos jogadores. O núcleo mudava muito pouco, tal como ainda hoje acontece. Isso permite a construção de uma forte união entre o grupo e, ao mesmo tempo, facilita a comunicação verbal e não verbal que normalmente existe numa equipa. É uma conquista feita ao longo do tempo", explica o brasileiro, que trabalhou no clube sob orientações dos treinadores Jurgen Klinsmann, Louis Van Gaal e Jupp Heynckes.
A continuidade é importante também para o fortalecimento físico. Uma área que Martins domina bem. "O Bayern tem um volume de jogo muito grande e uma preparação física acima da média. São jogadores extremamente bem preparados. Quando eu lá estive [saiu em 2013], esse fortalecimento físico era construído de temporada para temporada. Víamos essa evolução", explica.
Hoje a desempenhar as mesmas funções nos turcos do Antalyaspor, Martins considera o Bayern um clube "especial e diferente". A valorização do lado humano dos atletas é outro factor que, no seu entender, para tal contribui. "O jogador é muito mais do que apenas um jogador. É parte do todo, como se fosse uma família. Na maioria dos clubes não se olha ao ser humano. No Bayern, não. Há uma sensação muito forte de pertença. As pessoas estão preocupadas com o nosso bem-estar. Ali, uma pessoa não é apenas mais uma. Eles preocupam-se mesmo com o seu bem-estar", considera. Tão ou mais importante que o lado físico é o mental. Marcelo Martins sabe-o bem: "O jogador alemão é muito centrado, muito focado. Em geral, tem raciocínio rápido, muito boa leitura do jogo e uma compreensão tática acima da média, o que fortalece qualquer equipa. Tem autoconfiança e poder mental."
Diferenças de núcleos entre as duas equipas
Um indicador da continuidade que os jogadores, em geral, têm no Bayern, pode ser comprovado através da equipa bávara que defrontou o Benfica nos quartos de final da Liga dos Campeões de 2015/16. No conjunto das duas mãos, cinco elementos utilizados pelos alemães nessa eliminatória estão ainda no clube - e, aliás, com estatuto de proa, formando uma autêntica espinha dorsal, ou núcleo duro, se preferirem: são eles Neuer, Kimmich, Muller, Lewandowski e Coman. Em relação aos que foram utilizados pelo Benfica nessas duas mãos (empate 2-2 na Luz e vitória do Bayern por 1-0 em casa), André Almeida e Pizzi, nem sempre utilizados, são os únicos que continuam no plantel. E olhando à média de épocas no clube dos onzes do jogo da Luz, os germânicos apresentaram 4,6 temporadas por atleta, contra 2,7 das águias.
Ideias-chave do Bayern
Continuidade das referências
Em geral, os jogadores ficam muitos anos no clube. A base da equipa permanece durante muito tempo e os jogadores-referência pouco mudam
Lado humano muito valorizado
Há uma grande valorização do lado humano dos jogadores. São respeitados e tratados com enorme consideração
Intensidade sempre a evoluir
A evolução física dos jogadores é trabalhada de época para época. Como ficam vários anos no clube, crescem muito nesse âmbito
Mentalidade como força
O jogador alemão é muito focado no objetivo. Tem autoconfiança e poder mental. Raciocínio rápido e compreensão tática