A O JOGO, António Simões, Gaspar Ramos, José Capristano, Jaime Antunes e João Gobern analisam os acertos e erros que deixam Bruno Lage na porta de saída e Jorge Jesus e Marco Silva... à espreita
Corpo do artigo
São dias de tempestade aqueles que se vivem no Benfica, com os maus resultados da equipa encarnada no campeonato a colocarem Bruno Lage na porta de saída, ainda que continuando de momento no banco de suplentes.
Notáveis veem na sucessão de João Félix e nas apostas em De Tomás, Dyego Sousa e Weigl fatores do insucesso
Luís Filipe Vieira tem a pasta nas mãos, com Jorge Jesus e Marco Silva na sombra da sucessão, seja a pensar num colapso pós-jogo com o Marítimo seja apenas no final da temporada. No mar de decisões tomadas pela estrutura e pelo (ainda) técnico das águias, várias são unanimemente aceites como certas mas outras nem tanto.
O JOGO sondou cinco figuras do universo benfiquista em busca de perceber quais as decisões desportivas tomadas esta época que mais influência estarão a ter nas dificuldades atravessadas pelos encarnados e que pesam sobre Vieira e Bruno Lage. E várias delas levaram mesmo com o selo do chumbo do "júri" eleito, composto por António Simões, Jaime Antunes, José Capristano, Gaspar Ramos e João Gobern.
Na época após João Félix ter deixado a Luz para o Atlético de Madrid, por 120 M€, ficou por encontrar uma solução para o lugar do avançado. "Não se encontrou uma alternativa e isso teve influência, tendo também coincidido com a queda de rendimento de vários jogadores. A equipa perdeu dinâmica", aponta o ex-jogador e antigo dirigente António Simões, que tem no também ex-responsável das águias José Capristano concordância: "Não é só a perda de João Félix é também a de Jonas, que fez vários golos na época passada."
Já o antigo candidato à presidência das águias, Jaime Antunes, mostra um outro ângulo. "O sistema tem de ser adequado aos jogadores que se tem. Se, cada vez que sai um, se fica "ai-ai-ai", então não tem sentido e o treinador não é preciso para nada", refere a O JOGO.
João Gobern, adepto das águias, sente por seu lado que "este plantel é menos fulgurante e menos capaz de se agigantar em alturas decisivas", lembrando que também "Pizzi e Rafa têm alternado entre o muito bom e o inexistente".
Gaspar Ramos, ex-chefe do departamento de futebol do Benfica, frisa que "o scouting não andou bem e é a ele que se podem pedir responsabilidades", mas não esquece Lage: "Sempre fui crítico dele, nunca manifestou qualidades para ser treinador do Benfica. O treinador tem responsabilidades, mas a Direção também, por ter feito com ele um contrato de quatro anos", aponta.
Dyego Sousa e Weigl ainda sem impressionar
O ataque ao mercado foi, na opinião de alguns destes benfiquistas ilustres, desastrado. Por exemplo, Dyego Sousa, que chegou por empréstimo em janeiro, é visto de forma unânime como um erro. "Não fez sentido nenhum. O Benfica tinha Vinícius e Seferovic e havia outras lacunas no plantel. O terceiro avançado deveria ser da formação", atira Jaime Antunes.
António Simões é, por seu lado, contundente com o luso-brasileiro. "Não tem nível. Não compreendo que tenha chegado ao Benfica e à Seleção Nacional. É demasiado curto para isso", analisa o Magriço. José Capristano também reprova o atacante e frisa que a sua chegada por cedência "não credibiliza o Benfica". Da parte de João Gobern, a opinião é negativa também: "Até agora, teve contribuição nula. Se, em Vila do Conde, Bruno Lage disse que ele fez tudo o que lhe pediram, então é porque lhe pediram pouco." Gaspar Ramos lembra, por seu lado, que o avançado veio apenas como "terceira opção".
Outro erro de casting foi Raúl de Tomás, comprado e vendido por 20 milhões de euros. "Do ponto de vista financeiro, não é um falhanço; do desportivo, não se pode tapar o sol com a peneira. Quantos golos marcou?", questiona João Gobern, enquanto António Simões faz as contas: "Entrou e saiu, não deu prejuízo e não rendeu. Não houve mais-valia mas, pelo menos, também não se perdeu nada. Mas há que evitar este tipo de situações."
Já sobre Weigl, há alguma tolerância. "Não está a jogar onde pode produzir o que produziu na Alemanha. Pode render mais num modelo diferente", diz Gaspar Ramos, com Jaime Antunes a lembrar, por seu lado, que o médio "não era uma prioridade para o plantel". Algo secundado por José Capristano: "Se há vários jogadores como Samaris ou Florentino que nem ao banco vão, isso prova que há muitos médios. Mais do que Weigl, fazia falta um central."
Quanto à aposta em Tomás e Nuno Tavares, não reúne consenso, pois há quem entenda que faziam falta atletas mais experientes. "Um jogador faz-se a jogar mas, quando os pomos, temos de estar seguros de não os comprometer", alerta António Simões.
De acordo estão todos num ponto: o Benfica não precisava de contratar um guarda-redes para tirar o lugar a Vlachodimos, ele que está isento de culpas na crise atual.