"Não queria sair daqui a descer. Ajudar a equipa a subir outra vez é um grande objetivo meu"
Lucas Gabriel, o jogador com mais anos de casa (quatro épocas), teve propostas, mas optou por ficar com o sonho de subir. O Mafra obteve apenas a segunda vitória no campeonato, na receção ao 1º Dezembro (3-1). Segundo o médio, o percurso da equipa está um pouco aquém, mas ainda não perdeu em casa.
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Nascido no Brasil, Lucas Gabriel mudou-se com três meses para Portugal, tendo começado a jogar futebol no Lusitano de Évora, onde o pai, Agnaldo, tinha terminado a carreira de jogador. Depois, passou por Benfica, Braga, Famalicão, Paços de Ferreira, entre outros, e teve no Mafra o clube mais especial, e onde está há quatro épocas. É o mais antigo da casa e, talvez por isso, não quis abandonar no momento da descida à Liga 3.
Mais de um mês depois, o Mafra voltou a vencer, conseguindo a segunda vitória frente ao 1.º Dezembro. Que balanço faz deste percurso?
-Tivemos um início difícil. Fizemos um bom jogo contra o Belenenses, mas as derrotas contra o Lusitano de Évora e também na Taça [Celoricense] deixaram um gostinho amargo, tanto à equipa como aos adeptos. Felizmente, estamos a criar uma identidade muito forte com eles. Em casa permanecemos invictos e vamos tentar continuar assim.
O que tiraram de positivo desta vitória?
-Foi um jogo bastante difícil. Sabemos que o 1.º Dezembro é uma boa equipa, que joga bem com bola. Tínhamos de aproveitar as nossas oportunidades e, felizmente, conseguimos ter um penálti defendido e fazer dois golos mais para o final do jogo. Isso ajudou bastante a que conseguíssemos esta vitória.
Apesar de só terem duas vitórias, estão entre os quatro primeiros. Dentro dos objetivos ou aquém?
-Pelo facto de o Mafra ter descido da II Liga, e por sermos uma equipa com qualidade, cheia de jogadores experientes e juventude com muito potencial, esperávamos mais, mas o futebol é assim. Às vezes começámos mal, noutras acontece o esperado. O que não podemos é baixar a cabeça quando surgem os maus resultados. O mais importante é somar pontos, porque o campeonato é longo e difícil.
O Mafra estava habituado à II Liga, que diferenças sentiram nesta mudança de escalão?
-É uma diferença mais a nível de campos, porque há muitas equipas com qualidade na Liga 3. Existem jogadores muito bons, e há vários exemplos que saltaram para a I Liga ou II. A maior dificuldade é termos alguns campos não tão bons como na II Liga, porque, de resto, esta é uma competição muito acima da média.
A época passada foi complicada de digerir. Quais as principais razões para terem descido?
-Foi difícil. Infelizmente, não conseguimos demonstrar a qualidade que a nossa equipa tinha. Começámos bem e depois tivemos várias derrotas seguidas. Devíamos ter aproveitado muito mais as oportunidades. Infelizmente, não tivemos esse discernimento para segurarmos resultados que eram necessários, ou ampliarmos resultados. Podia ter sido diferente, até porque tivemos o caso do Boavista, que safou a Oliveirense. Foi culpa nossa, passámos por uma fase muito difícil.
Em relação ao anterior plantel, o núcleo sofreu baixas?
-Saíram alguns jogadores, mas mantivemos 60 por cento do plantel da época passada. Alguns ainda estão lesionados, outros estão a voltar pouco a pouco, e tivemos também contratações boas.
Isso é uma vantagem nesta mudança de realidade?
-É um processo. Termos jogadores juntos há mais do que um ano, já sabendo o que é o Mafra, o que é jogar com o convento ao peito, dá para mostrar aos novos a importância que o Mafra tem. Este ano está a ser uma aprendizagem, para que não se pisem os mesmos buracos que pisámos.
Também teve oportunidade para sair. Ficou porquê?
-Tive oportunidade de sair, mas o Mafra apresentou-me um bom projeto. Não queria sair daqui a descer. Ajudar a equipa a subir outra vez é um grande objetivo meu, para não ficar com o gostinho amargo de descer de divisão e abandonar o clube que me abriu as portas. Tinha projetos de II, I Liga e até de fora, mas optei por agarrar esta oportunidade e continuar a ajudar o Mafra.
Está no clube há quatro anos, o que representa para si este emblema?
-Neste momento sou o jogador com mais anos de casa. Vim para o Mafra em 2021 e foi um clube que me abriu as portas, porque no início comecei nos sub-23. Sinto gratidão por terem apostado em mim, acreditado nas minhas capacidades. O Mafra foi desde sempre um clube que acreditou em jogadores que outros talvez não acreditassem.
Como se define?
-Sou um jogador com muita paixão. Sou muito irreverente, tento sempre ser um porta-voz dos meus colegas. Sempre que aconteça algo de errado, ou que não esperávamos, consigo ajudá-los. Sou um jogador de grupo, que ajuda. Individualmente, não tenho medo de arriscar. Se for preciso fazer um último passe ou um remate, irei fazer, e isso é que me diferencia muito. Gosto de jogar a médio-ofensivo ou extremo, mas prefiro jogar como 10.
Treinadores marcantes, o sonho da I Liga e dois ídolos brasileiros
Lucas Gabriel só jogou em Portugal, mas gostava de experimentar "o campeonato espanhol ou italiano", mas, antes disso, o objetivo "é chegar à I Liga". O jogador, de 24 anos, também falou da época mais marcante da carreira. "Foi há dois anos, no Mafra. Fui treinado pelo Jorge Silas, que me ajudou muito a crescer. Consegui estar em destaque e ser um dos melhores na minha posição na II Liga. Atingi uma boa marca de golos [oito], jogos [35] e assistências [três]", destacou, enaltecendo também a ajuda de Ricardo Sousa. "Puxou-me dos sub-23 para a equipa A e sou-lhe muito grato".
Com passagens por Braga e Benfica, o médio, que também pode assumir o papel de extremo, trabalhou com Gonçalo Ramos, Pedro Neto, Samuel Costa, David Carmo, João Goulart e Miguel Sousa, entre outros. No capítulo das referências, isola as duas estrelas que mais admira. "O meu ídolo sempre foi o Neymar, mas também gosto do Alex, que jogou no Fenerbahçe. Pelas características, sempre me identifiquei com eles", explicou.