Bruno Varela joga na Holanda, onde o campeonato foi terminado com o seu Ajax em primeiro, numa decisão que pode ser diferente em Portugal, onde considera que "falta correr muita tinta".
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Bruno Varela, 25 anos, guarda-redes que o Benfica emprestou ao Ajax, emblema holandês que viu a pandemia dar-lhe a liderança, com os mesmos pontos do AZ Alkmaar, após decisão do governo de dar a prova por terminada.
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Esta é uma solução que, como outras, nunca irá agradar a todos. Nem na Holanda, nem em Portugal, como refere em entrevista a O JOGO.
Como avalia a decisão tomada na Holanda de colocar um ponto final no campeonato?
Encaro esta decisão com compreensão. Se o governo achou que a melhor decisão seria cancelar o campeonato, só temos de concordar porque o que está em causa é a saúde e a vida das pessoas e uma epidemia muito perigosa. Não vale a pena estarmos aqui a dizer que não é justo, que a época não acabou e que faltam ainda jogos para disputar, temos é de pensar que o que decidiram é para o bem de todos.
Que indicações recebeu do Ajax?
Vamos começar a treinar no campo amanhã. Depois desta decisão, os dirigentes do Ajax optaram por retomar os treinos até ao final da data daquele que seria o último jogo, dia 15 de maio. Vamos treinar em pequenos grupos, de três ou quatro jogadores, separados e com muitas regras, mas voltaremos ao campo. Decidiram isso para termos novamente o prazer de estar no campo, com a bola, calçar as chuteiras e as luvas, rever os companheiros. Marcaram os treinos, temos uma planificação até ao dia 15 de maio e depois entramos oficialmente de férias.
O campeonato holandês terminou, o francês também. Essa decisão deveria ser extensível a outros países, nomeadamente Portugal?
Cada governo e cada país decidirá o que acha melhor tendo em conta a sua realidade e tomará as melhores soluções. Ninguém vai correr riscos e quem decidir regressar irá certamente tomar todas as precauções para que não haja contágio. Na Holanda e em França foi a decisão mais sensata que conseguiram arranjar e temos de aceitar. Veremos o que é decidido em Portugal, mas pelo que tenho acompanhado é certo que no nosso país as coisas parecem estar mais controladas.
"Caso os campeonatos voltem, não seria justo designar um campeão"
Na perspetiva de um adepto benfiquista, como é o seu caso, pesa a questão da liderança estar a apenas um ponto e não se sabendo se vão ser jogadas as dez jornadas que faltam?
É complicado (risos). Sim, diria que há paixão por um lado e a razão por outro. Caso os campeonatos não voltem, obviamente não seria justo designar um campeão, até porque ainda haveriam jornadas por disputar, mas quando olhamos para a Premier League e vemos um Liverpool que estava a dois ou três jogos do título também não é justo que não seja campeão. No caso da Holanda, estávamos em primeiro e em igualdade pontual com o AZ Alkmaar. Seria justo dar-nos o título de campeão? Não acho. Faltavam nove jogos. É como em Portugal e não é por o FC Porto estar primeiro, mas seria justo ser campeão já? Falta correr muita tinta nesse campeonato.
A atribuição dos lugares europeus, até pelos milhões envolvidos, também pesa no momento da decisão...
Faz diferença, sim, e nós aqui também vamos sofrer com esse peso porque este ano na Holanda o primeiro tem acesso direto à Liga dos Campeões, contrariamente ao que aconteceu no inicio desta época em que o Ajax teve de fazer três pré-eliminatórias, seis jogos para entrar na fase de grupos. E estando nós empatados, pode ser outra equipa prejudicada. Veremos o que vai ser decidido a esse respeito.
Guardião cedido ao Ajax defende que não deve haver campeões, mas valoriza a classificação
Enquanto jogador, considera que a decisão deveria ser baseada no historial ou no mérito da classificação atual, algo que vale para a Holanda e para Portugal?
Boa pergunta (risos). Acho que o momento seria o mais justo, o mérito deveria ser premiado. Dou o exemplo da Holanda. O AZ Alkmaar estava a fazer uma época muito boa, a jogar bom futebol, e seria complicado ver o PSV, que não estava a fazer uma boa época, a disputar a Liga dos Campeões no próximo ano e o AZ, que estava empatado com o Ajax, não. Também se poderia ir pela classificação do ano anterior, mas eu acho mais justo ir pelo momento, pelo mérito atual. A verdade é que nunca vai ser justo para todos, alguém será sempre prejudicado. É algo muito difícil de decidir para quem tem essa responsabilidade nas mãos e é garantido que não irão conseguir agradar a todos.
Tem cumprido este período de quarentena na Holanda ou conseguiu regressar a Portugal?
Estive sempre na Holanda, não cheguei a regressar. Uma das primeiras indicações que recebemos do clube, foi no sentido de sairmos de casa o menos possível e ninguém fazer viagens para o estrangeiro ou dentro do país. Fiquei por cá porque também era o mais seguro. Não só por causa dos aeroportos mas porque poderia correr o risco de ir para Portugal e a situação lá estar pior e depois não conseguir regressar à Holanda.
Que influência terá esta paragem no seu futuro tendo em conta que está no Ajax por empréstimo?
Não é algo que me preocupe. Há tempo. A prioridade é a resolução da situação atual e só depois pensar na minha carreira e nas decisões a tomar. De resto, os meus empresários, em quem confio, irão falar com o Benfica, com quem tenho contrato, e com o Ajax, a quem estou ligado neste momento. E depois decidiremos.
Têm saído muitas notícias na Turquia sobre o interesse do Besiktas. É verdade?
Não sei de nada. Especulações sempre haverá, de muitos jogadores e clubes. Veremos.