As múltiplas nacionalidades, vivências e memórias cruzam-se na Academia e O JOGO foi conhecer essa diversidade
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O futebol não tem cor, raça nem religião, todos o sabem. E os diferentes credos sustentam-se nas suas tradições, que se diluem no tempo deixando resquícios pelas gerações vindouras. A quadra que vivemos, de festividades seculares ligadas ao cristianismo, os momentos passados em família, unem as lembranças dos exemplos de multiculturalidade que, hoje, o desporto, em particular o futebol, nos mostra. O Sporting, Alcochete e a Academia que também os aloja, exibe traços distintos das tradições dos povos. Expectativas criadas, ambições que alimentam desejos, recordações que O JOGO foi conhecer junto de oito atletas, amarrados às memórias, mas sustentados num olhar sobre o futuro, no qual o horizonte não tem fim, apenas etapas. Da Noruega à Alemanha, Sérvia ao Brasil, passando antes pela Macedónia do Norte e Países Baixos, sem esquecer Canadá e Moçambique, repetem-se os encontros em família, as iguarias de uma ementa rica e muita ambição, já de olhos postos em 2021. E aí... as tradições voltam a cruzar-se com os objetivos individuais de cada um.
"No Natal dividimos um pão por toda a gente com uma moeda lá dentro. Quem a trincar terá um ano cheio de sorte"
Pinnekjott e panquecas com maple syrup
Escondam as balanças quantos estes jovens das equipas de Sub-23 e B aparecerem na Academia. Nicolai Skoglund já sabe que tem Pinnekjott [costeletas de cordeiro] à espera. "Gosto muito e comemos com batatas. Também temos linguiça e enchidos, além do pudim de caramelo, um doce típico", revelou. Já Mees de Wit, nos Países-Baixos, refugia-se com toda a família "a comer "gourmette", carne grelhada para ir petiscando", acompanhado por um "pão típico que não há em Portugal". Marco Túlio, no Brasil, concentra-se no "pavê de pêssego e na mousse de maracujá", depois de "comer perú, arroz temperado, salpicão e farofa".
Geny Catamo, esse, não foge ao "bacalhau com natas, o tradicional perú e o colchão da noiva". Lucas Dias reconhece que Natal no Canadá "tem de ter sopa porque está sempre muito frio", mas onde se perde é na altura das "panquecas com maple syrup e a beber chocolate quente". Mitrovski tem o peixe como prato forte na celebração natalícia a 6 de janeiro, momento de celebração do Natal ortodoxo na Macedónia do Norte, onde "doces também não faltam". Tudo isto antes dos presentes...
"A minha mãe chegou a fingir que não havia uma prenda para mim. Uma hora depois mostrou o que tinha escondido... fiquei muito chateado"
Magia da meia noite e a moeda trincada
À meia-noite do dia 24 venham de lá as prendas. É o que se quer quando o lado juvenil de cada um fala mais alto. "É sempre um momento muito divertido", atira Mees de Wit, que já pediu uma "PlayStation 5" ao Pai Natal, complementado pela "magia" dos olhos de Geny Catamo, ainda refém do presente de sempre: "Gostava de ter mais uma bola de futebol! Sempre foi o meu presente preferido." Marco Túlio espera aquele que para muitos é o maior prenda de uma vida... "Vou ser pai!". Lucas Dias não esquece uma partida da mãe. "É talvez, curiosamente, a melhor memória que tenho. Há uns anos a minha mãe fingiu que não tinha nenhuma prenda para mim, fiquei muito triste quando vi que não havia nada! Passado uma hora mostrou-me o presente escondido, mas mesmo assim fiquei chateado", confessa.
Skoglund já nem quer prendas para si, pensa em dar: "Com a idade nem penso nos presentes que possa receber..." Mitrovski puxa pela tradição familiar. "A tradição na Macedónia é a família jantar toda junta na véspera de Natal e dividimos um pão por toda a gente. É uma prática comum no meu país. O pão tem uma moeda lá dentro e quem trincar a moeda, normalmente diz-se que vai ter um ano cheio de sorte. Também trocamos prendas de forma anónima, o que habitualmente é um momento muito divertido", recordou a O JOGO.
"Que prenda para o Natal? A melhor prenda que poderia ter vem a caminho... Vou ser pai!"
Do fim da pandemia à equipa de Amorim
Os dias de pandemia tudo mudaram, ainda assim, cada um junto dos seus não esquece para onde vai em 2021. Nicolai Skoglund, menino norueguês dos Sub-23, deixa claro o que pretende para o novo ano. "Desejo jogar pela primeira equipa, treinar mais com eles e fazer a minha estreia", disse, depois de já se ter mostrado nos treinos entre os mais velhos com golos. Geny Catamo partilha votos e espera-o "trabalho". "Também gostaria de estrear-me pela equipa principal, mas sei que tenho de trabalhar muito para lá chegar", reconheceu. Mees de Wit pede, como muitos dos leitores e não só, o "fim da pandemia e que possamos regressar à nossa vida normal".
"A melhor memória é sair de casa dos meus avós e ir pela floresta branca à procura do Pai Natal...""A melhor memória é sair de casa dos meus avós e ir pela floresta branca à procura do Pai Natal..."
Da baklava à floresta branca
O rolinho de repolho - "Sarma", que é servido de forma tradicional e abundante nas regiões da Sérvia e Croácia - feito pela mãe de Nevena Damjanovic, capitã da equipa principal de futebol feminino do Sporting, "é inevitável" no regresso a casa. Wibke Meister, em terras germânicas, alinha mais pelo "raclette" - uma preparação de queijo -, acrescido de batatas, salsicha e um prato de "pato ou ganso". Nevena confessa a sua perdição. "Um dos doces típicos é uma baklava cheia de avelãs e nozes, o meu preferido", revelou, enquanto Wibke não passa sem "as tradicionais bolachas de Natal com gengibre" de múltiplas formas.
"A família reúne-se toda e fica junta de manhã até à noite. Enchemos a árvore de Natal de doces. Recordo sempre a excitação desses momentos"
São apenas fragmentos das duas atletas que vivem longe de casa, contribuindo para o crescimento de uma modalidade em Portugal. Mas o regresso às origens também lhes puxa pelas memórias da adolescência. "Toda a família se junta e estamos sempre bem dispostos de manhã até à noite. Enchemos a árvore de Natal de doces. Recordo sempre a excitação desses momentos", confessa Nevena, desejando saúde e "que o Sporting continue a mostrar bom futebol em 2021 e conquiste o título nacional". Wibke tem os avós sempre presentes. "A melhor memória que recordo é a de estar na casa dos meus avós rodeada com muita neve e sairmos a andar pela floresta toda branca à procura do Pai Natal antes de termos os presentes", lembrou, pedindo "vinho" como prenda e "saúde para todos em especial nestes tempos difíceis", que todos nós estamos a atravessar devido à pandemia.