Luís Moreira carrega onze anos de Lamas ao peito e foi ajuda vital no regresso aos nacionais. Compatibiliza o futebol com serviços imensos de reparos em sistemas de canalizações
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O União de Lamas, da AF Aveiro, garantiu o título e subida ao Campeonato de Portugal a quatro jornadas do fim, destino luminoso para os homens do concelho da Feira, que regressam às provas nacionais ao cabo de 11 anos. Sob comando de Fernando Pereira, em 2023/24, que sucedeu a Fábio Pais, os lamacenses marcaram manifesta autoridade, que neste momento leva 18 pontos de vantagem para a Ovarense. O capitão Luís Moreira, aos 35 anos, foi um pilar na obtenção do grande objetivo, carregando uma história de sacrifícios singulares. Fez formação no Grijó e Feirense mas, hoje, responde como galvanizante detentor do ADN e um espírito arreigado. Brilha no miolo, consertando buracos no campo, com a perícia e prontidão com que é regularmente chamado a desentupir sanitas.
É a vida de um picheleiro, que não se rende, que não desiste do ofício e nunca desarma na hora de treinar, mesmo limpando a roupa a correr, sem tempo de disfarçar, por vezes, as nódoas mais grosseiras. “Uma arte que o meu pai me deixou em mãos para dar continuidade. Faço isso com o maior dos prazeres, há dias e dias. Nos mais pesados, a vontade é ir para casa, mas é difícil. Por muito cansaço que tenha, falta sempre alguma coisa. Muitas vezes não consigo trocar de roupa e chego todo sujo, porque assim o trabalho exige. A malta começa logo a reinar com coisas do género ‘andaste na lixeira’ ou ‘que porcaria apanhaste’. É isto que rende imediata descompressão, são bons momentos de brincadeira para desanuviar um bocado de duros dias de trabalho”, conta Luís Moreira, obviamente requisitado para resolver os problemas de canalização que surjam no estádio. “Fui eu praticamente que tratei de uma casa de banho para pessoas com deficiência. Tudo o que for para fazer, o presidente Miguel Brandão sabe que pode contar comigo”, acrescenta o capitão, encantando com uma vida tão preenchida. “Amo e jogo futebol desde os oito anos, é algo que me realiza, verdadeiramente. Se tens um grupo saudável, é muito difícil faltar a um treino. As brincadeiras, as palhaçadas... atrevo-me a dizer que não existe um jogador neste plantel que arranje uma desculpa para não ir a um treino”, revela o jogador, que tem, por vezes, “diversas situações de alguma urgência” que o obrigam a “ir trabalhar mal acabe a sessão”.
Direção e espírito como alicerces do sucesso
A vantagem pontual “fala por si”, vinca Luís Moreira, numa conquista assente em vários alicerces. “O sucesso vem de um grande suporte que é a Direção e de os jogadores terem transitado de um ano para o outro. Isso foi uma mais-valia, bem como um grande grupo de homens de ‘H’ grande. É a subida de uma grande família. Depois de tanta persistência veio um prémio merecido, tivemos vários segundos lugares, quase habituados a morrer na praia”, descreve o médio, que viu na “mudança de treinador um ponto de viragem, embora isso não signifique que as coisas não estavam a ser bem feitas”. “O mister Fernando Pereira veio limar algumas arestas e passamos a ser imparáveis”, relata o médio do Lamas, com destaque para a energia emprestada das bancadas: “Já estou aqui há algum tempo, já vivemos tempos difíceis e nunca nos deixaram ficar mal. Apoiam em massa e digo que estamos sempre a jogar em casa. São incansáveis e este título tem muito deles e do esforço da Direção”. O capitão destaca ainda Filipe Melo, “que teve carreira importante” e é o “melhor amigo com orgulho”, além de “Alex Brandão, outro grande ser humano”. “Somos três capitães num só”, vinca Moreira.
Prontos para a subida da fasquia
A próxima época trará “uma realidade diferente”, admite Luís Moreira, convicto da “qualidade e preparação para esse desafio”. “A Direção vai fazer de tudo para que sejamos competentes e os adeptos não nos vão faltar”, garante o capitão, honrado pelo que viveu esta época. “Não comecei aqui, mas tornou-se o meu clube do coração. Aprendi a amar o Lamas e sinto que sou amado. São onze épocas como sénior aqui e o feito mais desejado surgiu agora. Sensação de dever cumprido”, remata Luís Moreira.