Memórias com Ronaldo e Quaresma: "Fazíamos churrascos na casa com piscina do Jorge Mendes"
Pablo Contreras recorda Ronaldo e Sporting em entrevista ao jornal Las Últimas Noticias, do Chile
Corpo do artigo
Churrascos em casa de Jorge Mendes: "Era a temporada 2002/03 e em Portugal partilhava balneário com o João Pinto, o Pedro Barbosa, o Sá Pinto e dois miúdos que estavam a emergir, o Ricardo Quaresma, de 18 anos, e o Cristiano Ronaldo, de 17. Criámos laços porque todos tínhamos o Jorge Mendes como representante e todas as segundas-feiras fazíamos churrascos na sua casa com piscina. Partilhava muito com o Cristiano, com o Quaresma e com o Rodrigo Tello. Tinha 23 anos. Essa temporada foi grandiosa".
As boleias a Ronaldo: "Eu dava-lhe boleia no meu carro, porque ele tinha um Mercedes mas não tinha idade para conduzir. E íamos conversando... Fazia-me chegar uma hora antes só para poder treinar sozinho. Dizia-me que ia ser o melhor do Mundo e depois do treino ficava a treinar uma hora extra. Eu passava para o apanhar e depois também o ia deixar. Em 2015, quando fui a Madrid para treinar reação desportiva, fui visitá-lo a Valdebebas com o meu filho."
Reencontro em Madrid: "Terminou o treino e veio cumprimentar-nos com o Pepe e o Casillas. Estivemos a falar uns 40 minutos e no final, disse-me: 'Pablo, queres ir ao jogo desta noite?'. Era para a Taça do Rei e jogavam os suplentes [Ronaldo ficou na bancada]. O Vicente [filho de Contreras] saiu de lá louco. Disse-lhe: 'A sério, Cristiano?' e ele pediu-me o meu número e anotou-o num papel. Disse ao meu filho: 'O mais provável é que não me ligue', mas às 15h00 ligou a dizer que os bilhetes estavam em determinada porta e que os seus amigos estariam à minha espera para me levar para cima. É uma pessoa demasiado humana. Por mais que digam que é arrogante, dentro do campo é, mas fora é uma grandíssima pessoa. Fez o meu filho feliz e só tenho a agradecer. Pensava que nunca o podia conhecer, mas até tem uma camisola sua autografada."
Pablo Contreras e a influência: "Marquei-o porque quando estive lesionado, uns quatro jogos, a equipa perdeu e empatou sempre, ainda que não porque estivesse de fora. O treinador, Laszlo Boloni, falava francês e eu não entendia tudo, mas havia um tradutor que não dizia o mesmo... O míster dizia: 'Jogamos demasiado mal' e o tradutor dizia 'Não jogamos bem'. Chateei-me e disse-lhe que não gostava dessa atitude porque ninguém queria perder - acabei por abrir um precedente. Aliás, em 2015, o Cristiano disse ao meu filho: 'O teu pai tinha um caráter tremendo com 23 anos!'.
A brincar com os chilenos: "Um dia na brincadeira e num churrasco, Ronaldo disse-me: 'Pablo, desculpa. Pensei que todos os chilenos, como o Rodrigo [Tello], baixinhos, gordinhos e com um pé esquerdo incrível. Segundo ele, aprendeu a marcar livres com o Rodrigo. Criámos um laço de amizade bonito que perdura. Não sei se posso ir ou não a Turim visitá-lo..."
Balanço geral em Lisboa: "O que vivi com o Cristiano em Lisboa foi, no geral, bonito. Queriam ter ficado comigo, ainda que não goste muito de destacar as minhas virtudes"