Luciano Gonçalves: "Agora é no vídeoárbitro, antes era no árbitro. E se inventarmos um robô será no robô"
ENTREVISTA >> Presidente da APAF, Luciano Gonçalves, garante, nesta entrevista exclusiva a O JOGO, que temos árbitros em quem "confiar". Portugal não ter estado representado no Mundial é uma questão estratégica.
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Luciano Gonçalves discorda de quem diz que o atual quadro de árbitros é fraco. O presidente da APAF explica por que razão considera que têm "muito potencial".
Como está o estado atual da arbitragem?
-Está no seu processo normal de crescimento. Procuramos fazer mais e melhor de ano para ano, mas não está a ser diferente do que tem sido nos últimos anos. No que diz respeito aos árbitros, cada vez têm mais formação. A perceção que as pessoas vão tendo da arbitragem é que pode variar, mas os árbitros continuam a trabalhar no sentido de acertarmos cada vez mais.
A apreciação global que existe é que o quadro atual é fraco. Deve-se à qualidade dos árbitros ou à menor transmissão de conhecimento?
-Não concordo. O nosso quadro de árbitros tem muito potencial, com grande número de jovens e não tenho dúvidas que a muito curto prazo vamos ter árbitros nas principais competições internacionais de seleções. E quando isso começar a acontecer vai prolongar-se no tempo porque, efetivamente, temos árbitros jovens com imenso potencial.
Se temos um bom quadro de árbitros, por que razão Portugal não esteve representado no Mundial?
-Pelo que acabei de dizer. Tivemos um grande intervalo na saída de internacionais de renome, como Pedro Proença, Olegário Benquerença ou Jorge Sousa, e ficámos com apenas um com essas condições, que é o Artur Soares Dias. Para conseguirmos ter peso lá fora, temos de ter mais árbitros nessas condições. Não podíamos estar só à espera que o Artur fosse a única possibilidade. Existiu um espaço de tempo em que não foram trabalhados árbitros para estarem nessas posições. Assim que estes jovens, como por exemplo João Pinheiro, possam chegar a esse patamar de maturação, vamos voltar a ter árbitros nas grandes competições.
Porque é que não foram trabalhados?
-Por várias questões. Tem a ver com a estratégia de cada Conselho de Arbitragem. Este problema não aconteceu só no mandato de José Fontelas Gomes, vem do tempo de Vítor Pereira, que se focou mais no rejuvenescimento do quadro do que em potenciar continuidade nas provas internacionais. Essa estratégia pode trazer benefícios daqui a três ou quatro anos, quando tivermos uma maior quantidade, mas trouxe-nos perdas, que foi não termos ninguém no Mundial. É importante lembrar que tivemos pela primeira vez um árbitro nos Jogos Olímpicos e que Artur Soares Dias já tinha estado no Mundial da Rússia como VAR, na altura em que esta ferramenta surgiu. E já tinha estado no Europeu.
Não está assim tão mal como se diz...
-Portugal é o país dos "big five" que tem mais árbitros nas grandes competições da UEFA e da FIFA, como acontece nos jogos das seleções de formação em todas as jornadas da Liga dos Campeões e da Liga Europa. Isso demonstra que os nossos árbitros têm qualidade. Caso contrário, não eram nomeados pela UEFA e pela FIFA. São mais jovens em comparação com os outros.
Entende, assim, que temos árbitros com qualidade?
-Temos árbitros com qualidade, não há dúvida nenhuma. Precisam de continuar o seu processo de formação e de crescimento, mas temos bons árbitros e em quem a arbitragem pode confiar.
Dantes, os árbitros eram internacionais depois de fazerem grandes jogos. Agora, recebem as insígnias sem experiência ao mais alto nível. Porquê?
-Não nos podemos dar ao luxo de termos oportunidade de ocupar vagas de internacionais e não as ocuparmos. Quanto maior for o número de árbitros que lá tivermos, sejam mais ou menos experientes, melhor para nós.
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