"Atletas russos discriminados? Joguem eles num país onde pais e filhos são mortos todos os dias"
Vlad Vashchuk, antigo capitão da Ucrânia e do Dinamo Kiev, fez para o O JOGO o relato de um país dizimado por um ano de guerra. Insurge-se com as vozes que atacam instâncias superiores pelas sanções impostas ao futebol russo
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O antigo central Vlad Vashchuk, hoje com 48 anos, não tem poupado esforços em missões humanitárias e jogos solidários dentro do seu pais, depois de ter sido vítima de verdadeiro filme de terror nos primeiros tempos da guerra iniciada por Putin em solo ucraniano.
Lenda da seleção e do Dínamo de Kiev, Vashchuk desdobrou-se em esforços numa fuga acelerada de Gostomel, onde reside, a 15 quilómetros da capital, vendo um rasto de destruição impensável à sua volta.
Com a Rússia a mergulhar na confederação asiática e a realizar agora os primeiros jogos, com as equipas russas impedidas de competir na UEFA, não passando ao lado da exclusão da seleção de Valery Karpin do Mundial do Catar, há vozes que se levantam contra a mistura do futebol e política, face às suspensões decretadas que praticamente eliminaram os competidores russsos do plano internacional em diferentes modalidades. Vashchuk repele esse desconforto.
"Nem um único jogador de futebol russo condenou publicamente a guerra e muitos até apoiam este horror"
"Quando ouço que os atletas russos estão a ser discriminados, quero sugerir que se preparem para um campeonato como o ucraniano. A jogarem sob risco de bombardeamentos, privados de eletricidade, de água e calor na sua casa. Sem saber se os seus familiares estão bem, sem saberem onde vão dormir por causa das sirenes. Que tentem jogar num país onde pais e filhos são mortos todos os dias. Ofereçam-se para jogar assim e, então, levantem a questão da discriminação. Nem um único jogador de futebol russo condenou publicamente a guerra e muitos até apoiam este horror", acusa Vashchuk, pegando mesmo o seu exemplo como antigo jogador do Spartak Moscovo para ilustrar um silêncio que considera perturbador.
"Durante todo este tempo, nenhum jogador russo me ligou. Tenho outros amigos que o fizeram com palavras de apoio, desde empresários, gente do mundo da arte e até políticos. Eu joguei no Spartak Moscovo dois anos, tenho muitos conhecidos na Rússia e recebi um pedido de perdão de muitos pelas ações do país. Há muita gente na Rússia que não gosta de Putin, que não apoiam a guerra mas têm medo de o dizer. Triste mesmo é não ter recebido qualquer mensagem de um antigo companheiro russo", argumenta.
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