Lisandro abre o livro: as memórias de um FC Porto avassalador e o "melhor sócio"
Aos 36 anos, o antigo avançado do FC Porto cumpriu o sonho de criança de ser campeão pelo Racing de Avellaneda. Em entrevista a O JOGO fala do presente... e da passagem pelos dragões.
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Lisandro López - figura do ataque do FC Porto durante quatro temporadas, de 2005 a 2009 - teve de esperar quase até ao final da carreira para cumprir algo que desejava desde o primeiro dia: ser campeão com o Racing de Avellaneda, o seu primeiro clube. E conseguiu-o com todos os condimentos possíveis, pois é o ídolo dos adeptos "académicos". O capitão da equipa dirigida por Eduardo Coudet foi a figura da Superliga Argentina, que concluiu como o goleador, convertendo-se no avançado mais veterano da história a obter essa distinção. "Custa-me descrever estas sensações. Tive a sorte de ganhar muitos títulos na minha carreira, mas ser campeão com o Racing é uma satisfação que ao mesmo tempo me transmite tranquilidade. Não se compara com nada do que vivi antes. Era algo que desejava profundamente", conta Licha em entrevista exclusiva a O JOGO.
Qual é a receita para chegar aos 36 anos e ser a figura?
-Com esta idade tens mais experiência, mais conhecimento. E é fundamental estar bem fisicamente para expressar tudo isso em campo. Já não tenho a explosão de quando comecei, mas agora posso pensar melhor para escolher os movimentos que tenho de fazer ou o passe que vou dar. Sempre quis melhorar. E ainda o faço, em cada jogo e em cada treino.
Com o FC Porto marcou uma época ganhando quatro ligas consecutivas...
-É verdade, foi uma grande campanha, com uma equipa que jogava muito bem, apesar de que só há dois rivais que podem dar luta: Benfica e Sporting.
Que memórias lhe trazem aqueles anos em Portugal?
-Foi uma etapa muito linda da minha carreira. Cheguei com o Lucho González e em pouco tempo juntaram-se mais sul-americanos. Montámos um grupo espetacular e conseguimos resultados rapidamente, mas a mim o primeiro ano custou-me um pouco porque não estava confortável a jogar com quatro atacantes e acabei no banco. Independentemente disso, o FC Porto é um clube enorme, de primeiro nível. Um grande da Europa, o que acontece é que quando eu lá estive não tinha repercussão na Argentina, mas hoje em dia sim.
Com quem se deu melhor nesses anos?
-Com o Lucho, foi o melhor sócio que tive na carreira.
"Jesualdo Ferreira é dos melhores treinadores que tive. Deu-me confiança e fiz as melhores épocas. Faz-te melhor"
O Lucho sempre destaca Jesualdo Ferreira como o treinador com o qual mais aprendeu. Aconteceu o mesmo consigo?
-Sem dúvida. É dos melhores treinadores que tive na minha carreira. Com a entrada dele no FC Porto foi quando ganhei confiança e foram os meus melhores anos. Fiz imensos golos e conseguimos sete títulos. É aquele tipo de treinador que te faz melhor futebolista. Tinha um carácter particular, mas ensinou-me muitíssimo: as movimentações, os controlos de bola orientados. Insistia constantemente para os jogadores aprenderem e crescerem.
Como foi a sua relação com os adeptos?
-Muito boa. Na rua toda a gente me parava. O FC Porto é o clube da cidade e todos me conheciam, dos mais pequenos aos avós. Sempre fui tratado com muito respeito.
"TÍNHAMOS GRANDE PODERIO ATACANTE, SÓ DEFENDIAM TRÊS"
O estilo de jogo no FC Porto, de futebol avassalador e extremamente ofensivo, ainda está na cabeça de Lisandro López, embora não tenha os nomes de todos os ex-colegas na ponta da língua. "Podia destacar todos os jogadores desse FC Porto. Foram grandes plantéis. Pepe e Bruno Alves eram a dupla de centrais, que também jogava na seleção de Portugal, e os dois e o trinco eram os únicos que defendiam. Todos os restantes atacávamos. Tínhamos um grande poderio: Quaresma, Meireles, Hulk, o Tecla Farías... E estou a esquecer-me de muitos outros", recordou.