Francisco Oliveira lesionou-se aos 5 anos, desistiu de jogar futebol, mas a paixão levou-o ao banco. Tem 14 anos e é adjunto nos sub-12.
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Francisco Oliveira tem 14 anos e, por mais inverosímil que possa parecer, uma longa carreira como treinador. Como tantos outros rapazes, Francisco começou como jogador de futebol.
Era guarda-redes. Um dia, com apenas 5 anos, defendeu um penálti e ganhou... uma lesão. Partiu um braço! A partir daí, conta a mãe, Madalena Vieira, "ganhou receio e não quis jogar". O irmão mais velho, o João, jogava no Salgueiros e ele acompanhava o irmão.
"Via os treinadores a dar os treinos, apanhava as bolas, era a mascote da equipa do irmão. Os treinadores achavam que ele tinha aptidão para orientar e os adversários diziam que o melhor treinador estava na bancada", lembra Madalena.
Orientou da bancada durante alguns anos, até que um dia, com 10 anos, num torneio... "O meu pai era diretor da equipa, o meu irmão era jogador e o treinador, o Fernando Almeida, era conhecido do meu pai. Eu estava ali perto do banco, gostava de falar com os jogadores, estava muito calor e o treinador pediu-me para encher as águas. Depois pediu para me juntar a ele. Quando o jogo estava a acabar, disse-me para falar diretamente para o campo como se fosse treinador. Gostou da minha postura e convidou-me a aparecer no próximo treino. E eu fui. Cheguei ao treino e ele disse: "A partir de agora vais ser o meu adjunto." Pensei que era uma brincadeira, mas não. Continuo no Salgueiros e tratam-me muito bem", conta Francisco Oliveira, agora treinador adjunto dos sub-12 do histórico emblema da cidade do Porto. Não era brincadeira e Francisco percebeu isso quando chegou, "com receio", o dia do primeiro jogo no banco. "Ao mesmo tempo foi libertador. Não me lembro ao certo contra quem foi, mas foi incrível", recordou, agradecendo o facto de ter sido guarda-redes, posição onde "já tinha uma leitura de jogo muito evoluída". Começou como adjunto dos sub-16, e acompanhou, nessa função, a equipa do irmão, até aos sub-18.
Agora a orientar os mais novos, confessa que "é mais fácil", por "ser mais velho" que os atletas.
"O Francisco é um miúdo um bocadinho diferente. Tem uma componente de liderança que acaba por não ter idade. Não é normal. E já por isso o passamos para os mais pequeninos. Estava nos sub-17 e havia uma diferença que não lhe era muito benéfica, embora tivesse um trabalho interessante no treino. Sentimos que ele era um elemento válido. Decidimos continuar com ele e passá-lo para os meninos mais pequenos. Aí, apesar de ser novo, tem uma relação diferente", avalia Pedro Seixas, responsável pela formação do Salgueiros, para quem "o futebol de formação é também o início do percurso dos treinadores". E esta, diz o dirigente, é uma situação aceite por todos os pais de atletas.
Quanto a Francisco, continua motivado para fazer o que mais gosta, conciliando com a escola e o trombone. "Nas camadas mais jovens, temos de nos envolver com o jogador e perceber como correu o dia. Estou a formar jogadores que podem ser os próximos Cristianos Ronaldos. É o grande prazer da nossa profissão. Faço com paixão. Poderá ser a minha futura profissão", atira o jovem técnico, que celebra aniversário no próximo domingo.