Passou por FC Porto e Sporting e lembra: "Pinto da Costa ia mais vezes ao balneário"
Edmilson, ex-jogador de dragões e leões, recorda líder dos azuis e brancos como figura mais presente a nível motivacional antes dos clássicos. E não esquece as inevitáveis "bocas" dos ex-colegas.
Corpo do artigo
Em duas épocas de FC Porto (1995-1997) e três e meia (1998-2001) de Sporting, Edmilson jogou 16 clássicos entre dragões e leões. Em conversa com O JOGO, abriu o baú das memórias e foi dos golos às "provocações em jeito de brincadeira", passando pelo papel dos presidentes na antecâmara dos grandes jogos.
Acumulou vasta experiência em clássicos entre FC Porto e Sporting. E experimentou jogar dos dois lados. Que memórias guarda desses duelos?
-Há vários momentos, desde logo o primeiro clássico que joguei para o campeonato, então no FC Porto. Ficou 2-1, foi muito difícil, um jogo com dois golos do Domingos [Paciência] logo no início da época. Já na minha etapa no Sporting, lembro-me de um golo que marquei logo após voltar do PSG. Fiz o segundo, mas acabámos por perder [3-2] com o FC Porto. Em Alvalade fiz um golo pelo FC Porto e acabámos por ganhar esse jogo, que foi importante na corrida ao título, apesar de ser numa fase inicial da época. Passámos para a frente do Sporting e nunca mais nos apanharam.
A semana que antecedia um clássico era vivida de forma diferente pelos jogadores? O que notava nos treinadores?
-São sempre jogos especiais e há uma concentração maior, sabemos que nos detalhes é que se ganham estes jogos, temos de estar mais atentos a tudo. As equipas são grandes e eu concentrava-me mais, estava mais focado. Acontecia um pouco com todos, jogadores e treinadores, porque, como disse, são jogos especiais.
Havia algum tipo de ritual que cumpria sempre antes dos clássicos?
-Gostava de parar um pouco para pensar, concentrava-me e ficava sentado a imaginar e a visualizar o que podia fazer para ajudar a resolver o jogo. Um golo de cabeça, de pé direito, de pé esquerdo... Desenhava os golos na minha cabeça antes de entrar em campo. Era o meu ritual.
Qual era o papel dos presidentes dos clubes, no caso Pinto da Costa e José Roquette, antes de um jogo grande?
-Motivavam sempre os jogadores, tanto um como outro motivavam muito a equipa, eram duas figuras históricas, que transmitiam plena confiança, dizendo que a direção estava ali para apoiar. O presidente Pinto da Costa ia mais ao balneário do que o presidente Roquette, eram pessoas diferentes. O Pinto da Costa sempre teve mais esse hábito, estava muitas vezes connosco, quando podia, dava sempre um salto para falar com um ou outro jogador.
Esteve duas épocas no FC Porto, saiu para França e voltou a Portugal pela porta do Sporting. Como foi reencontrar ex-colegas como adversários?
-Jardel, Jorge Costa, Secretário, João Pinto... Vários jogadores por quem tinha amizade e respeito total. O futebol é isso mesmo, mas o respeito continuou sempre presente.
Deve ter ouvido umas bocas por ter passado para o lado rival...
-Há sempre aquelas conversas de traição, mas mais em jeito de brincadeira [risos]. Há sempre uma ou outra provocação, mas já estamos a contar com isso. Sempre com o maior respeito, claro.