Atacante do Sporting B, que iniciou o seu percurso como guarda-redes, foi a primeira jogadora a marcar ao Benfica no campeonato nacional da II divisão
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Primeira jogadora a marcar ao Benfica no campeonato nacional da II divisão, algo que aconteceu na derrota do Sporting B por 5-1, Inês Gonçalves ainda não está em si. E até parecia que esta jovem de 17 anos, cujo percurso no futebol feminino se iniciou como guarda-redes, já apontava ao êxito com as encarnadas. "A meio da segunda parte, a míster [Mariana Cabral] disse-me "vai que ainda dá golo". Não sei explicar, parece que a míster já estava à espera que acontecesse. E no final do jogo, o treinador adjunto disse-me que o Rúben [treinador estagiário] também tinha dito que eu ia marcar, que tinha fé em mim. Parece que estava destinado", conta a extremo-esquerda que marcou num ressalto, depois de a guarda-redes do Benfica Dani Neuhaus ter defendido um cabeceamento seu. "Senti a bola a tocar-me no ombro e a entrar. Parece que tinha os olhos fechados e quando abri já estava dentro da baliza. Foi uma grande alegria e pensei "até que enfim"", recorda a O JOGO.
Internacional sub-16 portuguesa, Inês já tinha estado perto de marcar numa anterior derrota com as águias por 4-0. "Entrei perto do fim, passei por uma defesa e a guarda-redes, chutei, mas a Sílvia Rebelo cortou sobre a linha", diz. Natural de Monsaraz, Inês totaliza 22 golos entre as sub-19 e equipa B verde e branca e sente que o golo mostra a qualidade da formação leonina, que embora tenha contado com algumas jogadoras da equipa A, esteve privada de quatro peças importantes, que estão no Europeu de sub-17. Estudante no 11.º ano, quer seguir Gestão do Desporto e a paixão pelo futebol começou há cerca de nove anos, também por culpa do irmão, que jogava num clube local. "Ia sempre aos treinos e jogava sozinha, até que passei a ser guarda-redes, porque o meu treinador tinha receio do choque com os rapazes se jogasse à frente. Já no Atlético Sport Clube, Inês continuou a crescer até ao convite do Sporting. "A certa altura, fartei-me de estar à baliza, queria ter bola no pé", explica Inês que antes de ser atacante e depois de tapar a baliza, passou alguns anos como defesa-esquerda, quando jogava com rapazes.
Da Playstation à realidade e as palavras de Fontemanha
Do lado do Benfica, formação profissional e com várias internacionais, Inês foi felicitada pela central Raquel Infante, que elogiou o "bom jogo" das leoas. "Deu-me os parabéns no final", revelou, destacando o discurso de Rita Fontemanha, defesa e uma da capitãs da equipa principal leonina e que no passado fim de semana alinhou pela formação secundária. "Chamou-nos a todas no fim do jogo e disse que estava feliz pelo nosso desempenho, que gosta de trabalhar connosco e fica feliz por nós. É de valorizar o que fizemos. Somos miúdas de 15, 16, 17 anos a jogar contra profissionais e internacionais brasileiras. Eu até comentava em casa, que há dias estava a jogar com a Darlene na Playstation e pouco depois estava a jogar no mesmo campo que ela. Não vou esquecer este momento. O Benfica é uma equipa bastante boa e nós, mesmo sem quatro jogadoras que estão no Europeu de sub-17, conseguimos lutar e marcar-lhes um golo. O golo é de toda a equipa, porque sem elas não tinha acontecido", confessa Inês, grata pelo trabalho da treinadora Mariana Cabral. "Tem-me ajudado imenso e gosto bastante deste grupo", completa a internacional sub-16 portuguesa.
Fã de Joana Marchão e um sonho cumprido
Natural de Monsaraz, Inês elege a velocidade como principal arma e também por isso, gosta do estilo de jogo de Ana Borges, extremo verde e branca. No entanto, também é fã incondicional da lateral-esquerda Joana Marchão, posição que conhece bem desde os anos que jogou ao lado de rapazes. Na pré-época e já no decorrer de 2018/19, quando foi chamada por Nuno Cristóvão aos treinos da equipa principal e jogos amigáveis, também atuou mais recuada no terreno. "Joguei a lateral-esquerda com o Wolfsburgo [particular no fim de janeiro]. Nunca esperei jogar com as melhores do mundo. Já partilhei o balneário com a equipa A e ter jogado com o Wolfsburgo é algo surreal, único", sublinha.