Gonçalo Cardoso em entrevista: o Brugge, as lágrimas com o FC Porto e as manhas
Lançado nesta época, aos 17 anos, na equipa principal do Boavista - é o mais jovem estreante de sempre no clube -, Gonçalo impressionou, mesmo com alguns erros, e já é cobiçado no mercado.
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Sem deixar nada por dizer, o discurso de Gonçalo Cardoso não fluiu tão rápido quanto a ascensão que teve em poucos meses, mas também seria difícil. A ilusão dos 18 anos deu lugar à humildade de quem sabe tão bem o que vale como o quão sinuosa é a estrada.
Há um ano jogava nos juniores, agora é titular na I Liga e internacional sub-19. Esta realidade das entrevistas ainda lhe faz confusão, suponho.
-Sim, faz. Ainda estou muito no início. Tudo isto aconteceu muito rápido...
E esteve quase a ser contratado pelo Brugge. Ficou surpreendido?
-Já sabia que andava a ser observado por vários clubes, mas, quando surgiu o interesse do Brugge, confesso que fiquei um pouco surpreendido, surgiu de uma forma repentina.
Saber que há vários clubes interessados acrescenta responsabilidade?
-Tento não pensar muito nisso, mas também sei que é inevitável e que tenho de saber lidar com isso de uma forma positiva. Claro que aumenta a responsabilidade, mas é positivo, porque me faz querer ser sempre melhor. E no fundo, ao jogar num clube como o Boavista, a responsabilidade em dar o meu melhor está sempre presente.
Vamos recuar ao início. Como foi o primeiro treino na equipa principal?
-Foi em novembro de 2017. Já estava no clube, mas seria sempre uma experiência diferente. O nervosismo passou logo porque fui muito bem recebido. Foram todos porreiros comigo, principalmente os mais velhos... também fizeram logo as praxes, uns túneis e uns cachaços [risos], mas faz parte, é uma maneira de me integrar mais facilmente.
Estava à espera de agarrar a titularidade desta forma?
-Treinava a tempo inteiro no plantel principal, mas nunca me foi dito que ia ter lugar na equipa, só sabia que ia iniciar a época e depois dependeria do meu trabalho ficar ou não. Sabia que, apesar de ser mais novo, se estava aqui era porque tinha qualidade para isso, mas confesso que surgiu tudo de uma maneira repentina. Não estava à espera.
O que lhe passou pela cabeça quando soube que ia ser titular com o Aves e fazer a estreia?
-Nervosismo e ao mesmo tempo responsabilidade de desempenhar bem o meu papel e corresponder às expectativas. Mas esse nervosismo desaparece assim que começa o jogo. Sabia o que tinha para fazer. No final o telemóvel tocou durante muito tempo [risos], foram muitas mensagens e felicitações.
Todos elogiam a sua calma em campo e dizem que não se nota a idade que tem. Sempre teve essa tranquilidade?
-Já faz parte de mim, não se treina. Sempre fui assim. Nunca fui uma daquelas pessoas que ficam muito nervosas. Acho que é um dos meus pontos mais fortes.
E o que mais precisa de afinar?
-Talvez apanhar algumas manhas que se ganham com a experiência, ser cada vez mais maduro, saber gerir melhor o jogo e as adversidades.
Manter os pés no chão é um desafio?
-Sem dúvida. Em toda a minha adolescência os meus pais incutiram-me isso e agora que estou num nível diferente é altura de o pôr em prática e saber que nada está conquistado. Tenho 18 anos, se pensar que já está... tento passar ao lado dos elogios.
A seleção de sub-19 já é uma segunda casa?
-Não há lugares garantidos. Se quero estar na seleção tenho de continuar a trabalhar, é um grupo em constante alteração.
"Erros como o do dérbi ajudam-me a crescer"
O central lembrou o "jogo fantástico" apagado por uma falha que o deixou em lágrimas, mas mais maduro. Ao Boavista falta um clique que Lito Vidigal parece determinado a encontrar
Teve uma infelicidade no jogo com o FC Porto e saiu do relvado em lágrimas. Como foi a seguir?
-Fiquei daquela maneira porque a equipa não merecia, tinha feito um jogo fantástico até aos 95 minutos e um pequeno lance deitou tudo por terra. Mas depois foi uma grande onda de apoio, não me deixaram ir abaixo. São coisas que nos ajudam a crescer e o míster disse isso, algum dia tinha de acontecer. Cabe-nos saber reagir, temos de trabalhar no máximo.
Qual foi a sua melhor exibição nesta época?
-Contra o FC Porto tinha estado bastante bem, tirando esse lance. Em Braga e a estreia com o Aves foram jogos em que tive mais dificuldades levantadas pelos avançados, obrigaram-me a estar mais concentrado e ativo.
Que explicações encontra para a posição delicada do Boavista na tabela?
-O que temos trabalhado não está de acordo com os resultados. Não podemos baixar a cabeça nem desistir, temos um grupo forte e mais tarde ou mais cedo o nosso momento vai chegar. Temos criado muitas oportunidades, mas falta-nos aquela pontinha de sorte. Contra nós parece que a bola entra sempre, quando somos nós a bola bate no poste e sai. É uma questão de a equipa sentir confiança para atrair energia positiva.
Como é que o plantel encarou a mudança de treinador?
-Agradecemos ao Jorge Simão a sua dedicação, mas sabemos que são consequências do futebol e temos consciência que há que seguir em frente e continuar o nosso percurso.
Que características do Lito Vidigal se destacaram de imediato?
-Pela interação deu logo para perceber que se trata de uma pessoa ambiciosa e com uma grande vontade de ser mais um a ajudar e para nos levar rapidamente de volta às vitórias.