Garra do Minho no parto do título: "aqui é Braga" e "era bom estragar-lhes a festa"
Os sentimentos de duas cidades por trás de batalha em que têm uma palavra a dizer. Jorge Gomes e Quim Berto na oferta do aperitivo. Munições de Braga e Vitória preocupam os aspirantes ao trono final. Equipa de Guimarães é o derradeiro estorvo ao bicampeonato leonino. Em Braga perdeu-se a subserviência ao Benfica.
Corpo do artigo
Joga-se por um destino e procura-se um ritmo, sem o comando das certezas. Envolvem-se emoções, dilatam-se as palpitações, pé à frente, pé atrás, a anca vai ao rubro havendo golo a acender o rastilho. Serve-se um vira minhoto em Lisboa, audaz traje branco, e Braga, onde manda o vermelho, apalpam-se as decisões de um Campeonato, que podem estar dependentes das respostas de V. Guimarães e Braga. Minuto a minuto... Os conquistadores tentarão colocar em questão a festa anunciada do Sporting e qualquer ponto somado em Alvalade seria uma tortura terrível para os leões, a não ser que o Braga também abatesse o voo de uma águia na derradeira descida por uma presa, gorando a sua bicada.
Na luta pela Europa, ciente do risco de ver beliscada época tão bem guiada pela qualidade e coesão, o Vitória tem fatores motivacionais do seu lado, a consequência desportiva, mas também um certificado de autoridade em território adverso. Rui Borges deixou obra em Guimarães mas também deixou de ser amado e as quezílias fervem para um embate de cariz resolutivo. Já em Braga esgotou-se a adrenalina da recuperação e uma sequência de dois empates e uma derrota redundaram numa miragem do pódio. Receber o Benfica oferece uma visão de ida para férias com orgulho restabelecido e numa sintonia com os adeptos para que se venda a energia de um candidato ao título como já propagou António Salvador para o próximo mandato.
Minhotos de Braga e de Guimarães agarram o seu alento e tentam redescobrir a versão mais intimidante perante os gigantes de Lisboa, gémeos no parto do título. Olhando aos resultados da 1.ª volta, o Sporting seria campeão, mesmo sem vencer, lembrando aquele que foi, talvez, o jogo mais emocionante da época, o 4-4 no Afonso Henriques, em que o Vitória atropelou o aperto de um 1-3, ditando leis até um 4-3 com um recurso de Trincão sobre a hora. O Benfica pecava grosseiramente em casa, perdendo para um Braga, que surgiu na Luz de cara lavada, impulsionando outra chama. Guerreiros e conquistadores, se encontrarem essa fasquia exibicional, oferecem cenário de tripla aos jogos e uma incerteza na definição do título, embora as probabilidades do Vitória roubar pontos ao Sporting esbarrem num estádio de Alvalade em polvorosa e numa tendência negativa, de um só êxito e dois empates nas últimas 14 visitas, acumulando sete derrotas consecutivas. Mais normal tem sido o Braga punir o Benfica na Pedreira, vencendo três dos últimos dez despiques.
Motivações ao rubro
No passeio por Braga, curioso o frente a frente com Jorge Gomes, lendário avançado brasileiro dos anos 80, que passara pelo Benfica anos antes, entrando no reino da águia em 1979, como o primeiro estrangeiro da história. Apesar dos 199 jogos pelos minhotos, os 59 no Benfica prevalecem com outro encanto. “Estou mais pelo Benfica, porque fiquei ligado a algo histórico, quebrei uma tradição de 75 anos. E foi algo que teve de ser aprovado em Assembleia Geral. Abri portas a muitos”, revela Jorge Gomes, que cultivou em Braga o estilo afro. Mergulha na pressão que envolve uma delicada decisão.
“O Benfica perdeu a oportunidade de ser campeão e agora não depende de si. Vai ter um jogo difícil, mas não impossível. Acredito até ao fim, porque sei que o Vitória vai fazer um bom jogo em Lisboa, vai complicar a vida ao Sporting. Mas, mais que isso, é preciso que o Benfica vença”, valida Jorge Gomes, atravessando os atalhos de uma identidade fortalecida em Braga. Ao Benfica marcou duas vezes com o manto minhoto, contribuindo para dois empates a um golo. “Qualquer um dos grandes nessa altura tinha dificuldades aqui, eram jogos muito disputados. Havia muitos bracarenses, mas não sabíamos quem torcia por nós, estavam divididos, algo comprovado por mim, porque eles puxavam pelo Braga noutros jogos, mas contra o Benfica já não o faziam”.
Quim Berto, por sua vez, com passado no Vitória (165 jogos) e Sporting (64), campeão pelos leões em 99/00, também lançou olhar a esta discussão pela sensibilidade de outras camisolas. “Vejo mais pressão emocional do lado do Sporting, as declarações do Rui Borges colocaram do lado do Vitória uma enorme vontade de vencer, no reencontro com o anterior líder, que pôs em causa a seriedade dos jogadores que já orientou. Estão reunidas todas as condições para um excelente jogo”, vincou. O antigo lateral atenta nos estímulos dos rivais do Minho. “Em Guimarães vivem estes jogos com enorme intensidade, acreditam que o 5.º lugar será conquistado em Alvalade. O Braga tem-se batido de frente com os grandes, vão dar tudo pela vitória e acredito que acabam a época a vencer”, resume.