Saída do Dragão em 2019 serviu de combustível ao camisola 13, que regressou à "casa de sonho" pela via do trabalho. Pedro Correia "descobriu-o" no Brasil e explica a O JOGO como foi moldando o talento bruto.
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Os cinco meses que passaram desde o início da época serviram para dissipar as dúvidas em torno de Wenderson Galeno.
Com dez golos marcados e duas assistências, o extremo tem-se afirmado como uma das figuras maiores da versão 2022/23 do FC Porto, pondo fim aos pontos de interrogação que o envolveram após o meio ano de regresso ao clube.
Pontos que foram essenciais para que o camisola 13 desse a volta por cima e voltasse ao Dragão pela porta grande, apenas alguns anos após ser dispensado. A chama acendeu-se graças a dois fatores que têm servido de combustível para Galeno desde tenra idade: a sensação de desafio constante e... a desconfiança.
"Pela forma de ser, o Galeno é alguém que se quer mostrar. Quando não se acredita nele, é quando faz as coisas com mais vontade. Quando se achava que não era capaz, foi quando fez mais. Essa motivação intrínseca, que sempre fez parte dele, era expressada através do querer mostrar. Não acreditarem nele só o potenciava", vinca, a O JOGO, Pedro Correia, antigo diretor desportivo do Grémio Anápolis, onde foi um dos responsáveis pela contratação do ala ao Trindade, quando este tinha apenas 18 anos.
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"Eu até utilizava essa estratégia com ele, confesso, para que percebesse o que era pretendido nos treinos. A dispensa do FC Porto funcionou nesse sentido. Quanto à desconfiança inicial dos adeptos, não tenho dúvidas de que foi como combustível. Certamente sentiu-se em causa, porque estava na posição de alguém que tinha saído e era um enorme jogador [Luis Díaz]. O Galeno já tinha sido rejeitado uma vez e viu-se obrigado a assumir a vaga", prossegue o português, atualmente nas funções de "chief scout" do Cruzeiro.
"Agora compete a Sérgio Conceição colocar-lhe desafios pessoais constantes, para que não se acomode. Esse pode ser um dos perigos com o Galeno. O elevar de fasquia constante é essencial para a evolução dele", acrescenta.
Mas a força de vontade, por si só, não explica tudo. Pedro Correia considera que é necessário atribuir mérito a quem o merece.
"Teve a felicidade de apanhar um bom treinador, o Carlos Carvalhal, que lhe modificou alguns comportamentos. Foi no Braga que mais quis mostrar que tinha capacidade para ter ficado no FC Porto. Ficava, muitas vezes, a cargo da ala esquerda, melhorando no aspeto defensivo, que era a grande lacuna. Tanto assim foi, que convenceu o FC Porto a ir buscá-lo de volta. E voltou à casa de sonho dele muito melhor. Já consegue agregar todos os momentos de jogo. Faltará melhorar um pouco a última tomada de decisão, mas esses já são pormenores", avalia.
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A descoberta e um arranque com soluços
Das competições de Sub-20 ao salto para Portugal foi um tirinho. "O Grémio Anápolis procura jogadores com potencial dentro do segundo ou terceiro plano do futebol brasileiro e o Trindade, um clube próximo de Goiânia, tinha o Galeno, que observámos nos jogos de Sub-20. Gostámos bastante dele e encetámos negociações. Mas só ficou alguns meses connosco, porque o FC Porto demonstrou logo interesse", recorda Pedro Correia.
Já de dragão ao peito, o arranque foi custoso, mas depois lá encarrilou: "A primeira metade da época no FC Porto B não lhe correu muito bem. Passou pelo período de adaptação, mas a partir de janeiro revelou uma evolução tremenda", lembra.
Galeno fechou 2016/17 com 13 golos e seis assistências. Um sinal do que estaria por vir alguns anos mais tarde.