Neste dia, em 2012, o mesmo Sérgio Conceição de hoje abriu a carreira de treinador no banco do Olhanense.
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Há exatamente 11 anos, Sérgio Conceição era apresentado no Olhanense e iniciava a carreira de treinador. Fernando Alexandre e André Pinto faziam parte dessa equipa e, à boleia de O JOGO, guiam-nos pelos primeiros tempos de Conceição no banco, certos de que as histórias poderiam ter sido contadas em qualquer outro ponto da escalada até à marca fortíssima no FC Porto.
O homem reconhecido por todos pela exigência e rigor já lá estava. "Era muito diferente da maioria. O tipo de treino, permitir tão pouco o facilitismo e o erro. Foi um choque para todos, porque não conhecíamos aquela exigência. Acabava os treinos se as coisas não corriam bem", conta Alexandre.
"Até com o presidente era exigente, mesmo a sério. Houve alguns momentos de tensão, não vou especificar [risos], mas se ele acha que se alguém facilita, é porque sente que está a prejudicar os outros que só querem o bem da equipa. Tem razão", acrescenta, numa ideia partilhada por André Pinto, que destaca o reverso dessa moeda.
"Se parece exigência, também é cuidado com o atleta. Havia treinos à tarde e os lesionados tinham de estar de manhã. E o Sérgio, chegado há um ou dois dias, comparecia só para lhes dar uma palavra. "Vais ver que ficas bom depressa". O jogador gosta. Faz 11 anos que começou e parece que já são 20, tal é a marca que deixa", expõe André, que já deu por terminada a carreira de futebolista e dedica-se ao curso de treinador.
"O que recordo do Sérgio é tal e qual a imagem de hoje. Transparente. Desde que se seja sério e honesto, mesmo que por vezes não corra bem no plano desportivo, ele não tira o tapete. E o que estiver errado vai dizer. Como treinador, evoluiu como todos, mas a pessoa é a mesma", afiança.
Neste equilíbrio entre o pão e o chicote, como dizia Pedroto, Sérgio "criava sempre grupos muito bons", sublinha Fernando Alexandre. "Toda aquela paixão e entrega ao trabalho levou o grupo por arrasto; foi contagiante", assegura o antigo médio, que fez parte da "história bonita do Olhanense" em 2011/12.
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A equipa estava três pontos acima da linha de água quando Sérgio chegou e terminou a brilhar no oitavo lugar. Só perdeu quatro vezes até ao fim, por isso, os sermões não terão sido muitos, certo? "Até poderíamos ganhar e ele ficar aziado, porque não foi como queria. O Sérgio estava constantemente a dar cabo da cabeça a alguns", lembra André.
"Num jogo menos conseguido, pensavam que iam sair da equipa e o Sérgio ia para cima deles, mas saía completamente ao contrário. O Conceição desarma por aí e o jogador percebe que só quer o bem dele. Quando pensam que vai crucificar, é quando mais insiste e dá a mão", explica.
Outro impacto imediato foi no controlo do peso, que passou de negligenciado a vigiado diariamente, da massa gorda à percentagem de água. "Houve quem passasse pior", recorda Alexandre. Para André, "Sérgio estava à frente do tempo nesse aspeto", lembrando uma história passada em Braga, anos depois.
"Em vez de uma conversa fez uma coisa muito simples. Num exercício de posse de bola, uma equipa tinha coletes de dois quilos e a outra nada. Depois trocavam e a sensação era totalmente distinta. E ele dizia: "Pronto, é essa a diferença de uns quilinhos a mais. Como é que fica mais fácil?"", fechou André, rendido ao técnico. "Deviam ser quase todos assim", conclui.
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