Antigo jogador do Sporting falou no painel "Liderança em Tempos de Crise", no congresso "The Future of Football", organizado pelos leões
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Paulo Futre foi um dos convidados para integrar o painel sobre liderança, no congresso organizado pelo Sporting, e o antigo jogador recorreu a uma história dos tempos do Atlético Madrid para contar como, num tempo difícil, conquistou o respeito dos colegas. "O Gil y Gil chamou-me para uma reunião e disse-me: 'O próximo capitão vais ser tu'. Pensei: tenho 22 anos, há jogadores de 30 no balneário com o sonho de ser capitão. E você vai-me matar. Ele disse: 'quem manda aqui sou eu'. Não havia hipótese. Nenhum miúdo de 22 anos está preparado. Gil e Gil disse: 'o português não queria ser capitão mas vai ser'. Eu senti a respiração dos meus colegas - queriam-me matar."
Já com uns meses de braçadeira no braço, Futre colocou-se ao lado de um colega, facto que se revelou o clique final. "Eu dava a cara e fui ganhando o balneário. O meu grande orgulho como capitão do Atlético - e ainda me arrepio -, quando ganhei o balneário foi: há um miúdo que sobe da formação, Carlos Aguilera. Ele começa a jogar, tinha contrato amador, começa-lhe a doer a tíbia e o diagnostico é um cancro... Aquilo foi um drama, para o futebol espanhol, tudo... Foi uma bomba. O Gil y Gil disse - e ainda não sabíamos se era maligno ou benigno - que ia fazer-lhe um contrato, cinco, seis anos ou até vitalício. Umas semanas sai o diagnostico e era benigno. O tempo começa a passar e eu dava o toque ao presidente para renovar. O miúdo a dizer que estava a ganhar a mesma coisa e toca a renovar o meu contrato. Depois de vários dias de negociações. Chega o dia, está toda a imprensa, tinha o contrato em cima da mesa, o Gil assina e quando me dá a caneta, e eu digo: vais chamar o miúdo, o empresário, ele assina à minha frente e depois assinas tu. Eu disse-lhe: você prometeu ao miúdo e eu tenho todo o tempo do Mundo para estar aqui. Lá veio o miúdo, que fez uma carreira espetacular, ele assina a minha frente e só depois eu. O miúdo fica e quando entro no balneário do dia seguinte, é a primeira vez que vejo o respeito a sério. Vi os olhares dos meus companheiros."
Dez anos depois, de regresso ao Atlético, mas como diretor desportivo, Futre voltou a ter de tomar a voz de comando e, com a ajuda de Aguilera, voltou a conquistar o balneário. "Eu sou diretor desportivo 10 anos depois, no pior momento desportivo do clube. Em novembro, se acabasse o campeonato ali, descia. Nunca mais me esqueço. Até me esqueci de dar os parabéns à mãe dos meus filhos tal era a pressão. Não podíamos sair à rua. Eu pensei, como é que eu vou levantar a moral, porque eles tinham pânico ao presidente. Tinham de ter confiança comigo. Não dormi toda a noite e pensei: o Aguilera era o capitão, cheguei ao balneário, tudo cabeça em baixo e eu disse: o presidente não entra mais aqui. (...) Quando perdemos em casa com o Tenerife... O nosso ponta de lança, o Salva, vai para a conferência e diz: para sairmos desta situação é necessário 'huevos'. Eu nesse discurso, do Aguilera, a minha última frase é esta: Salva. O que é que disseste ontem? E ele repetiu. E eu tinha os jogadores todos à minha frente. Tirei o cinto, os botões, calças para baixo, cuecas para baixo... e disse: os meus estão aqui! Vamos ganhar domingo!"