Federação e associações apontam retoma provas de formação para meados de setembro e outubro, mas tudo depende da DGS. Há emblemas a temer pelo futuro dos que são... o futuro do futebol.
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O futuro do futebol português, aquele que depende dos alicerces da modalidade em Portugal, está suspenso, por obra e graça da pandemia de covid-19.
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Os 385 campeonatos distritais de formação, bem como os nove nacionais, pararam em março. A federação, as associações, os clubes, os atletas e até os pais desdobram-se em planificação e contactos. Sob um diagnóstico socioeconómico que revela um abanão nunca visto, ainda pouco medido, a retoma das competições e das mais de 8.500 equipas dos vários escalões a nível distrital poderá acontecer em meados de outubro... se a Direção-geral de Saúde (DGS) o permitir. Já as provas nacionais poderão começar, talvez, no mês anterior.
Há cerca de 150 mil atletas nos escalões masculinos e femininos de futebol e futsal, devidamente inscritos na FPF e associações distritais, conforme pode observar nos gráficos destas páginas. Em março, a direção federativa cancelou todas as provas e não houve subidas ou descidas. O JOGO apurou, entretanto, que os escalões nacionais da formação deverão manter os quadros competitivos, e a única exceção, até agora anunciada oficialmente, é a criação do campeonato nacional de futsal feminino de sub-19.
Prognóstico reservado para quase 150 mil crianças e jovens de milhares de equipas
Por outro lado, a definição dos calendários das competições nacionais não-profissionais de formação, como as seniores, dependerá dos calendários internacionais e da autorização para competir, em recintos abertos e fechados, que terá sempre de ser dada pelas autoridades. Mesmo assim, o calendário desportivo que a FPF está a trabalhar não prevê o início das suas provas em data muito diferente do habitual.
Os orçamentos de mais de oito mil equipas estão dependentes das inscrições e de parcas receitas de patrocinadores. Os clubes formadores estão a gerir os impactos em função dos apoios que começarão a ser distribuídos pela FPF, de um bolo de 4,7 milhões, específico para os impactos da pandemia, cuja fatia mais grossa ficará nos seniores. Entretanto, os seguros que os clubes pagam encontram-se suspensos, conforme verificámos, por exemplo, no comunicado de 5 de junho da AF Porto aos seus associados. Trata-se, a propósito, do distrito com mais campeonatos (34) e equipas (1.710) nos escalões de formação.
Sobre esta matéria, José Manuel Soares, presidente do Valadares Gaia, um dos clubes com identidade marcada na área da formação (ver abaixo), explica o que pretendem os emblemas junto das seguradoras: "Estão a negociar a devolução, está a haver pressão nesse sentido, queremos ser ressarcidos porque a companhia não correu risco. Até nisto não temos certezas absolutas".
As tutelas desportivas têm estado em contacto, conforme aconteceu na passada semana, em que a FPF e as associações distritais debateram os problemas mais prementes, que são, naturalmente, financeiros e de organização.
Até o que se pode fazer é dúvida
O futebol de formação serve para colorir os tempos livres de milhares de crianças e jovens, independentemente dos sonhos que alimentem no relvado e na quadra, mas a indefinição chega até à interpretação das regras, como explica a O JOGO Rui Pacheco, presidente da Escola de Futebol Hernâni Gonçalves, no Porto. "A FPF diz que as coisas não devem funcionar, só há aprovação para seleções nacionais e para a I Liga, mas há interpretações diferentes da resolução do Conselho de Ministros de 29 de maio. Não há uma ideia clara, algumas pessoas estão a recomeçar, outras não. Fizemos um plano de contingência e pedimos à ARS Norte para o apreciar. Se for aprovado, podemos eventualmente iniciar a atividade para desporto federado, com cinco jogadores para um treinador, com treino técnico e não em termos de trabalho coletivo", referiu o responsável pela escola que acolhe 700 atletas.
Todos contam os dias para voltar a jogar, mas ninguém quer correr riscos. Escola de Futebol Hernâni Gonçalves e Valadares Gaia relataram a O JOGO os problemas, as questões e os planos
De facto, a vontade de regressar é muita, mas não passa por cima do resto, conta José Manuel Soares, presidente do Valadares. "Há muita ansiedade para voltar, mas também em querer perceber de que forma é que esse retorno vai ser feito. Há muita apreensão dos pais em termos de segurança", conta o dirigente do clube gaiense, que contabiliza, entre todos os escalões, 600 atletas de ambos os sexos. Questionado sobre o impacto financeiro, foi perentório: "Está um caos". José Manuel Soares espera ter "alguma ajuda da câmara ou da junta de freguesia", até pelo "papel desportivo e social" do clube.
Do cobrador ao apoio dos pais
A pandemia complica as coisas mais simples. "Perdemos quotas de sócios, o cobrador é doente de risco e esteve em quarentena preventiva", explica o presidente do Valadares, que "honrou todos os compromissos", mesmo tendo perdido os patrocínios que restavam até ao fim da época. Na Hernâni Gonçalves, as mensalidades foram suspensas. "Pedimos aos pais uma contribuição voluntária e tivemos uma aceitação razoável. Temos a nossa vida controlada", descreve Rui Pacheco.