"Fui receber o rapaz à porta do balneário todo nu e ele ficou logo desconfiado"
Uma lenda dos campos portugueses, do futebol com amor, em que cada camisola propõe superação. Aos 52 anos, ainda joga no Botafogo de Cabanas, em Palmela. Paulo Catarino percorre os relvados com ânsia de golos e de ser feliz. O auge foi no seu Vitória
Corpo do artigo
Catarino é também uma lenda pelas histórias de balneário que potenciou, deixando relatos hilariantes. Aqui, partilha momentos no Santana, no Mafra e a grandeza sentida no Imortal.
Que histórias hilariantes, experiências surreais ou até insanas viveu neste Portugal profundo?
-Como é obvio, foram tantas as peripécias que fica difícil eleger uma. Quando jogava na Madeira, no Santana, vivia numa vivenda com mais três colegas. No dia que resolvi voltar para casa, eles vieram jogar ao continente e fiquei sozinho a arrumar a mala para me vir embora. Resolvi deixar um presente para eles quando voltassem do jogo. Além de levar os eletrodomésticos da cozinha para os quartos, fui buscar uma cabra que estava sempre a pastar perto da casa e meti-a dentro de casa com água e erva. Quando eles chegaram, já eu estava em Setúbal e só recebia mensagens a chamarem-me de tudo e a mandarem-me fotos, porque a cabra borrou a casa toda...até no teto havia porcaria, e passaram a noite a limpar e arrumar a casa.
Peripécias de balneário geradas por si?
-Uma delas foi quando em Mafra pedi ao presidente para ser eu a apresentar um atleta brasileiro que tinha sido contratado. Pedi aos meus colegas para estarem em pé nos lugares deles, mas todos nus. Fui receber o rapaz à porta do balneário todo nu e ele ficou logo desconfiado. Pior foi quando entrei com ele e comecei a cumprimentar os colegas e eles a mim pelo pénis. Disse-lhe que nós ali nos cumprimentávamos assim. Ele saiu logo todo chateado a dizer que era ‘cabra macho’ e que não cumprimentava ninguém assim...Foi uma risada total e depois lá lhe disse que era uma brincadeira.
Melhor jogo da vida, melhor treinador e jogador que tenha convivido?
-Escolho um jogo da Taça pelo Imortal. Comecei no banco para descansar, mas, como estava difícil, o míster Ricardo Formosinho meteu-me ao intervalo. Fiz quatro golos na segunda parte. Com o Formosinho subimos à Liga 2 e marquei 27 golos. Sentia-me imparável, porque ele soube tirar o melhor de mim. O melhor jogador com quem joguei foi também no Imortal: Pitico. Um senhor de 38 anos que fez a carreira quase toda no Farense, onde era uma lenda, e que muito me ajudou a conseguir fazer tantos golos...Era de equipa grande!
“O sonho dele é o meu sonho”
Essas trocas constantes de clube, como as explica?
-Jogar em tantos clubes foi mera casualidade, comecei na última divisão de Portugal e, para chegar à 1.ª, precisei de ter rendimento desportivo e receber convites. Assim foi. Procurei sempre a paixão e o sonho de chegar ao nível máximo, em vez do dinheiro que ganharia com outras opções.
Numa carreira feita a sul, também passou pelo norte...
-Jogar no norte era um objetivo, sempre me falaram maravilhas, e agradeço muito essa oportunidade. Conheci pessoas maravilhosas na arte de bem receber. Especialmente em Amarante, onde fui tratado de uma forma que me permite dizer, ainda hoje, que o sucesso do Amarante me deixa muito feliz. Merecem tudo!
Que significado o Botafogo de Cabanas na atualidade?
-Aceitei o convite do Botafogo, porque as pessoas quiseram muito que fosse para lá. É da 1.ª Distrital de Setúbal, que já tem um ritmo elevado para a minha idade, mas queria terminar perto de casa e fazer um golo para dedicar ao meu neto antes de terminar a carreira. Alguns problemas físicos não permitiram ainda a estreia, mas já me encontro apto e já conto os dias para marcar um golo e dedicar ao meu Lourenço.