<strong>ENTREVISTA (Parte 1) - </strong>Orgulhoso dos "meninos" que eliminaram o Marítimo da Taça e com bons desempenhos nos Nacionais, Ricardo Sousa, treinador do Beira-Mar, diz que foi o culpado por não ter ido "mais além como jogador"
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A entrevista com Ricardo Sousa foi feita numa manhã de chuva, sob a cobertura da bancada do velhinho Estádio Mário Duarte, e começou por 1999, o primeiro ano de jogador no FC Porto, era Fernando Santos o treinador.
Sousa representou 15 clubes: Sanjoanense, Beira-Mar, FC Porto, S. Clara, Belenenses, Boavista, Hannover, De Graafschap, Omonia, Offenbach, Leiria, NK Drava, UD Oliveirense, S. João de Ver e Gafanha.
Ainda se recorda do batismo nas Antas?
-Claro. Quando se decidiu os números das camisolas, ia ficar para último; era um miúdo novo. O Folha disse-me: "tu não escolhes número". Fiquei caladinho, sem saber o que dizer. Quando Fernando Santos perguntou qual era o meu número, respondi que não escolhera nenhum e que o Folha, o Jorge Costa, o Rui Barros, o Secretário e o Paulinho [Santos] é que ficaram de escolher. E o Folha disse: "O Ricardo é o número 10. Foi do pai dele e prefiro dar a alguém que tenha sido um símbolo neste clube". Foi assim que me cedeu o 10.
Admite que podia ter chegado mais longe?
-Não tenho dúvidas. Digo aos meus jogadores que ouçam o que digo e não façam o que fiz quando era jogador. Cometi muitos erros. Normalmente as pessoas gostam de apontar o dedo aos treinadores, às Direções ou aos colegas por não terem chegado mais longe, não terem ganho mais dinheiro ou não terem mais prestígio. Fui eu o culpado de não ter ido mais além.
"No ano do Europeu de 2004, perdi o prazer de jogar. Tenho muito mais prazer em fazer o que faço agora"
Porquê?
-Com 22, 23 anos, sentia que não havia ninguém em Portugal que jogava como eu. Até aos 23 anos, ganhei duas vezes o prémio de melhor jogador. Era considerado o melhor jogador do campeonato e, infelizmente, por causa da naturalização do Deco, não fui convocado para a Seleção para o Euro"2004. Nesse ano, perdi o prazer de jogar. Tenho muito mais prazer em fazer o que faço agora. Não acabei a carreira aos 27 anos por querer cimentar o futuro em termos financeiros.
Sentiu-se injustiçado?
-Sem margem para dúvidas que me senti injustiçado. Depois de ser elogiado por toda a gente, ter sido duas vezes seguidas o melhor jogador do campeonato e melhor marcador - não era normal um médio fazer 17 ou 18 golos e 20 e tal assistências por época - e chegar ao fim de um ano, numa das melhores equipas nacionais, o Boavista, é óbvio que me senti injustiçado por ter sido preterido por uma naturalização.
Está arrependido do que fez ou deixou de fazer?
-Conhecendo-me da maneira como me conheço, teria feito exatamente a mesma coisa. Nunca disse o que não queria. Para mim o preto é preto e o branco é branco. Tinha um treinador no Boavista que queria que eu dissesse que era verde quando era azul. E eu dizia "não, isso é azul". Então ele dizia "se disseres que isto é azul e não é verde não jogas". Então eu não jogo. Passei algumas coisas más, algumas coisas que não vou fazer enquanto treinador.
Natural de S. João da Madeira, iniciou a carreira de treinador em 2015/16, na Sanjoanense. Seguiram-se Lusitano de Vila Real de Santo António, Anadia, Felgueiras e, agora, Beira-Mar
Prefere ser frontal...
-Acima de tudo, a minha palavra. Enquanto estiver no futebol o preto vai ser sempre preto, o branco será sempre branco. Não afasto uma vírgula daquilo que acredito e da palavra que tenho no futebol por todas as qualidades que o meu pai tinha. Como treinador quero superar aquilo que ele fez porque o futebol moderno é diferente. Aquilo que eu tenho promovido ao longo dos últimos quatro anos é muito bom. Todas as equipas que tenho treinado estão sempre no topo da tabela.
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O PAI FOI O MELHOR, O FILHO ESTÁ A DAR PASSOS SEGUROS
Foi com um "sem dúvida" convicto que Ricardo reagiu à questão sobre quem é o melhor dos três da família Sousa. O pai, campeão europeu em 1987, ele próprio ou o filho, Afonso, jogador da equipa B dos dragões. "O meu pai foi dos melhores jogadores de sempre pela sua qualidade técnica, física e essencialmente humana. Por isso é que é um ídolo para tanta gente e não só para a família. É um exemplo e vai ser sempre. É com muito orgulho que ouço dizer que foi um dos melhores médios de sempre. O Afonso está a dar passos seguros. Ainda não sabemos o que pode dar no futuro", reconheceu o treinador de 40 anos.
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