Mulher da semana: Ainhoa Tirapu e a luta do futebol feminino espanhol à beira da greve
O anúncio da greve na liga feminina, a partir da jornada marcada para 16 e 17 de novembro e por período indeterminado, foi feito pela guarda-redes do Athletic de Bilbao. Tem 35 anos e toda uma carreira profissional que a lei espanhola não contempla no feminino.
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Um ano e 19 reuniões inconclusivas depois, a última delas a 28 de outubro, a principal liga de futebol feminino de Espanha está à beira da greve. A partir da jornada de 16 e 17 de novembro e por tempo indeterminado, as profissionais da Liga Iberdrola ameaçam parar o campeonato, como forma extrema de luta por um contrato coletivo de trabalho que lhes garanta condições mínimas ao nível salarial e da protecção na maternidade.
Tem uma licenciatura em Química, especializou-se em Toxicologia, no entanto, nunca exerceu
Ainhoa Tirapu, 35 anos, guardiã do Athletic de Bilbau e dirigente da AFE, foi o rosto e a voz da decisão tomada cinco dias antes do último encontro que juntou à mesa representantes dos clubes e das jogadoras, no âmbito da mediação imposta por lei. Foram três horas de conversa sem saída e o que prevaleceu foi o eco das palavras de Ainhoa Tirapu, quando tinha com ela as cerca de 200 futebolistas que votaram por esmagadora maioria (93 por cento) o recurso à greve.
"Tínhamos de tomar medidas mais drásticas", explicou a guarda-redes: "Neste momento do futebol feminino, devemos procurar um futuro melhor. Já não podemos ficar paradas e não lutar pelos nossos direitos".
O que fez romper as negociações foi a definição do valor dos contratos a tempo parcial. Os sindicatos (há três associações de classe) não admitem menos do que 12 mil euros/ano, o que representa 75 por cento do salário mínimo previsto para contratos de tempo integral (16 mil euros). Os clubes não vão além dos 50 por cento, oito mil euros.
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Mais do que isso, alegam, é incomportável e representa um risco de incumprimento. Menos do que isso, dizem as atletas, não é digno - sobretudo, porque o que está em causa é um profissionalismo encapotado. Tome-se o exemplo de Ainhoa Tirapu, internacional espanhola, desde 2005 no Athletic. Tem uma licenciatura em Química, especializou-se em Toxicologia, no entanto, nunca exerceu. "Sempre fui futebolista", contou, há meses, numa entrevista ao diário Marca, a propósito da estreia no mundo empresarial.
A luta está ainda no início e, enquanto se contam os dias para a paralisação, Luis Rubiales, presidente da federação espanhola, já garantiu que esta entidade "contribuirá para resolver a greve", que lembrou ser um "direito legítimo": "Estou convencido de que todas as jogadoras farão o mesmo". Rubiales revelou ainda que a federação "ofereceu" aos clubes da liga principal feminina "quatro ou cinco vezes mais do que estavam a receber" e estes "decidiram continuar como estavam".