Foi substituído após três golos em nove minutos e recebeu ânimo de Cláudio Ramos e Samuel Portugal
Manuel Baldé, guarda-redes do líder Penafiel, começou mal, com erros que resultaram em três golos sofridos nos primeiros nove minutos contra a Oliveirense. Pesadelo foi ultrapassado
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Tem 21 anos e é o titular da baliza do Penafiel, surpreendente líder invicto da II Liga nestas jornadas iniciais, procurando posicionar-se para discutir uma subida de divisão. Manuel Baldé, internacional pela Guiné-Bissau, formado no Benfica, teve o arranque de campeonato mais tormentoso, até terrível, ao sofrer três golos nos primeiros nove minutos da receção à Oliveirense. Todos consentidos. O pesadelo refletiu-se nas suas expressões, desconsolo facial, luvas retiradas, castigado por três golos em três erros. Prenúncio de sentença condenatória em muitos casos, mas sem enquadramento punitivo aqui. Três minutos depois era poupado com uma substituição, deixando o campo com um 1-3 no marcador, com o Penafiel a marcar mesmo antes da troca, e um grande abraço do treinador, envolvido ainda pelo carinho dos colegas e de aplausos das bancadas.
A sucessão de erros levou Hélder Cristóvão a retirar Baldé do jogo, mas o treinador não o deixou cair. O Penafiel acabou por fazer um reviravolta incrível e venceu por 4-3, seguindo invicto.
Pois bem... do mais diabólico arranque ao estado de graça, Baldé viu a confiança ser-lhe renovada entre os postes, estando de pedra e cal, com um jogo falhado apenas por ter partido para compromissos da Guiné-Bissau. O Penafiel conseguiu o milagre de virar esse encontro para 4-3 e, ironia do destino, é líder sem derrotas com um guarda-redes a reforçar credenciais, esquecendo o dia maldito, ou melhor os nove minutos aos trambolhões. O futebol é bonito quando não se afunda alguém no fracasso.
“A liderança é fruto do trabalho que vem da pré-época. Tivemos jogos complicados, percebemos que qualquer erro é fatal, são características da II Liga. Temos cometido menos erros e temos sido mais eficazes do que na temporada transata”, argumenta Baldé, que já jogava pelo Penafiel em 2023/24, com um total de dez jogos. “Para mim, é um grande feito ser titular, tento ser todos os dias ainda melhor, esse é o meu foco. Sinto um prazer enorme por representar este clube histórico”, regista o guardião, intocável, vencendo o carimbo da idade que é posto no guarda-redes e derrubando uma literal entrada em falso. “É verdade que é difícil apostar no jogador jovem, ainda mais na baliza, mas acredito, essencialmente, na competência. Estou muito grato ao que o clube tem feito por mim. Sendo titular num clube destes, estou mais perto dos meus objetivos e de ajudar também a minha seleção”, conta.
Aceitando rebobinar os acontecimentos de 11 de agosto, Baldé considera-os “um momento menos bom” a que “todos estão sujeitos, principalmente os guarda-redes”. “A melhor resposta tem de ser dada dentro do campo, reagindo e mostrando personalidade”, partilha o guardião, que via Hélder Cristóvão confirmar no final do jogo com a Oliveirense a sua titularidade frente ao Vizela na ronda seguinte. Sobre o choque na hora, o guineense desabafa.
“O que mais me custou foi não ter conseguido ajudar a equipa. Mas o nosso espírito de grupo é altíssimo e prova disso foi o jogo que a equipa fez, recuperando até à vitória. Tenho de agradecer aos adeptos, ao míster e a toda a equipa pelo apoio que me deram nessa fase. Foi muito importante”, garante, medindo o eco da sua infelicidade e o amparo que o invadiu, entre uma noite mal dormida e uma semana desafiante a nível de superação. “Não foi nada fácil, mas cada um gere os aspetos emocionais de forma diferente. Senti-me acarinhado por toda a gente, colegas, staff, estrutura e pelo meu círculo restrito de amigos e familiares. Tornaram tudo mais fácil e consegui ultrapassar o momento. A vitória facilitou a digestão dos erros que cometi. Nada mais me poderia ajudar”, relata.
Cláudio Ramos e Samuel Portugal animaram-no
Humilde e consciente da trama que o apanhou, Baldé soube transformar o pesadelo numa especial lembrança. “É um jogo que ficará marcado na minha memória, mas muito mais pela onda de solidariedade que recebi do mundo do futebol. Sei das minhas responsabilidades defendendo o Penafiel e é um orgulho ter sentido deles tanta confiança”, destaca, particularizando mensagens inesperadas.
“O apoio chegou de todo o lado, desde pessoas próximas a grandes figuras do futebol. Foi o caso dos guarda-redes do FC Porto, o Cláudio Ramos e o Samuel Portugal, caíram mensagens quase de imediato. Foi algo enorme mesmo! No meio de tudo, as palavras que me ficarão sempre guardadas são ‘não te vou deixar cair’”, evidencia Baldé, ainda não se atrevendo a sonhar com a subida de divisão. “O plantel é de muita qualidade mas só podemos pensar jogo a jogo. O que tiver de acontecer, acontecerá.”
Missão Guiné e paixão por Oblak
Com dez internacionalizações pela Guiné-Bissau ainda em tão tenra idade, o guarda-redes confessa-se honrado, tendo já conhecido Rui Correia e, atualmente, Carlos Fernandes, no treino específico. “É um orgulho representar a seleção guineense, para além de ser uma experiência que dá me oportunidade de trabalhar com outras pessoas, conhecer outros métodos, conhecer novas formas de interpretação de jogo. Eu, como guarda-redes jovem, tento absorver o máximo de cada um”, atira Manuel Baldé, nascido em Albufeira, triunfando a norte na sua carreira.
“O Algarve é a minha casa, será eterna. Foi onde cresci até chegar ao Benfica, que foi uma etapa muito importante no meu contexto futebolístico e na formação como ser humano. Só posso agradecer. Tinha como referências os guarda-redes mais velhos, que eram o Celton Biai, o Diogo Garrido e o André Ferreira”, afirma, pondo um, apenas, no pedestal. “Olhava para todos eles com admiração, mas quanto a número um e máxima referência, esse é o Oblak.”