Entrevista de Artur Jorge, treinador do Braga, à Sport TV.
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Braga é um dos quatro grandes do futebol português: é um conceito fechado, aberto ou dinâmico em função do rendimento da equipa ano a ano? "De facto, nós estamos no top-4 e somos, nesta altura, estruturalmente e desportivamente, um dos quatro grandes clubes em Portugal. Necessariamente, aquilo que sejam rótulos ou títulos, são sempre necessários de se comprovar dentro das quatro linhas, dentro daquilo que é a capacidade que a equipa tem para atingir objetivos. O ano passado, aquilo que me foi proposto no Braga, para além de me encher de energia, de motivação e de ambição, eu tinha também, e confesso, uma vontade muito grande de me afirmar e de terminar a temporada. Esse era, para mim, um ponto-chave porque eu sabia também que, só a terminar a temporada, é que estava dentro dos objetivos aos quais nos propusemos. Nesta minha segunda temporada à frente do Braga, é nós podermos dizer que é a procura da continuidade de um trabalho que foi iniciado, a tentativa de fazer com que o Braga possa continuar a evoluir e a crescer. E fazê-lo da mesma forma apaixonada com que começamos este projeto".
No Braga, a linha é muito ténue entre o sucesso e o insucesso? "Eu creio que essa linha poderá estar presente se nós não tivermos o bom senso e a consciência de sermos realistas. Eu fi-lo algumas vezes e volto a afirmar, não para valorizar aquilo que foi feito, mas de uma forma de afirmação daquilo que foi a grande temporada do Braga. Qualquer analista, qualquer adepto, qualquer pessoa de bom senso que possa olhar para aquilo que foi a última temporada do Braga vai ter de dizer, honestamente e justamente, que foi uma temporada extraordinária, com um trabalho incrível por parte dos jogadores e, naturalmente, da equipa técnica, porque temos de ter alguma cota naquilo que foi o sucesso da equipa".
Hoje, uma temporada do Braga sem a conquista de uma taça fica mais perto de ser uma época que não é bem conseguida? "Não creio que assim seja, porque há muitas condicionantes que nós não controlamos. Há, para além da conquista do que quer que seja, um trabalho que tem de ser reconhecido. O trabalho é dedicação, é empenho, é, obviamente, a competência daquilo que nós procuramos fazer diariamente".
Os confrontos diretos perante Benfica, FC Porto e Sporting para o campeonato da época passada: "De facto, naquilo que é o balanço desses seis jogos, nós tivemos a possibilidade de vencer, em casa, o campeão nacional e empatámos com os outros dois rivais. No entanto, perdemos na casa de todos eles. Eu não vou dizer que faria tudo igual, obviamente que também tenho de fazer a minha análise e perceber onde não estivemos tão bem. Eu sou muito mais responsável quando as coisas não correm bem do que quando correm, esta tem sido a minha abordagem em relação ao grupo de trabalho. É sempre mais fácil nós nos vangloriarmos do que assumirmos quando não conseguimos o sucesso. Nesses seis jogos, cumprimos em casa, fizemos cinco pontos. Podemos e devemos fazer mais? Sim, evidentemente. Mas temos também de tentar fazer mais do que os zero pontos que conseguimos quando jogámos fora".
O jogo na Luz, frente ao Benfica, na luta pelo título: o Braga foi acusado de falta de ambição. Como é que recolheu essas opiniões? "Recolho da mesma forma de quando nos valorizam. É sempre muito fácil falar. Percebo, mas não quer dizer que aceito. Percebo e, quando não aceito, ignoro. Acho que é a melhor forma de poder lidar com este tipo de sentimentos. Não nos deixarmos condicionar por aquilo que é uma análise pura e dura. Apenas e só, muitas vezes por clubite. Ou então por estarmos a olhar para as coisas de uma forma que não tem essência. A minha equipa tem essência. Eu procuro que ela seja competitiva e ambiciosa em cada um dos jogos. Este ano, vamos tentar ser sempre competentes e capazes de, em cada um dos jogos, dar o nosso melhor para ganhar".
A exigência é maior para quem é "da casa"? "Bastante mesmo. A margem de erro é muito mais reduzida. A exigência do Braga é sempre muita, seja para quem for. Temos de estar à altura dessa exigência para continuarmos a ter o caminho de crescimento. Tenho uma vida dedicada ao Braga desde os 12 anos. Todo este percurso poderia ou deveria dar uma margem maior. Dói muito mais ouvir críticas estando nesta posição. Muitas vezes, ouvimos críticas daqueles que, noutros anos, estiveram ao nosso lado ou, aparentemente, o fizeram transparecer."
Sentimento após ter perdido a final da Taça de Portugal: "Ainda hoje me custa falar disso, porque me emociono. Eu queria muito poder ir levantar a Taça à tribuna. Foi a segunda vez que estive no Jamor, agora como treinador, depois de ter estado como jogador. Perdi nas duas e é um sentimento de desilusão, acima de tudo. Mas tenho uma grande convicção de que lá irei voltar e que irei estar lá em cima. Esta é quase que uma promessa pessoal".