Se se recomendasse um médico especialista ao futebol profissional, a primeira opção talvez fosse um psiquiatra. A pandemia ditou que fosse um pneumologista, que encontrou os clubes unidos como raramente se vê.
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Em tempo de pandemia, Filipe Froes está para a Liga como Cristiano Ronaldo para o desporto e o mais espantoso, porventura, é que o organizador dos campeonatos profissionais conta com ele a custo zero - com ele e com António Diniz, outro craque; ambos integram o Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos, são consultores da Direção-Geral da Saúde (DGS) e membros da "task force" deste organismo para a covid-19. Adepto da modalidade, tem clube, mas por agora, no GAME covid-19, o gabinete médico da Liga, veste a camisola de Portugal:
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"Neste momento, o que quero mesmo é que Portugal reabra e que, neste processo de reabertura, o calendário de futebol e de todas as práticas desportivas seja retomado. Porque isto também é fundamental para a normalidade da sociedade. Partilho da opinião de que o futebol é uma das coisas mais importantes das menos importantes da vida. Para a vida voltar ao normal, todas estas coisas são bem-vindas, desejadas e indispensáveis."
Como se está a dar um pneumologista na liga de futebol profissional?
-Sou um mero consultor, conjuntamente com o meu colega. As nossas especialidades e formação, quer em Medicina quer em Saúde Pública, são importantes para colaborar na reabertura do calendário de atividade do futebol, no âmbito de uma pandemia. Não temos responsabilidades operacionais. Temos todo o interesse pessoal em que as coisas corram o melhor possível. Em que perspetiva? Servindo de exemplo para outras atividades, assegurando a segurança de todos os intervenientes nesta prática desportiva e dando um exemplo de responsabilidade. Ao mesmo tempo há aqui um aspeto essencial: tudo o que está planeado é sem recurso a meios do Serviço Nacional de Saúde, sem prejuízo das pessoas que necessitam de uma resposta do SNS. Os meios para esta reabertura de maneira alguma podem prejudicar quem precisa.
Um regresso à porta fechada é uma inevitabilidade?
-Não serei a pessoa mais indicada para lhe dar essa resposta, mas, se houver limitações de agrupamentos de pessoas, certamente que isso terá de ser tido em conta. Ou seja, toda a reabertura terá de ser feita de acordo com as recomendações governamentais.
"Toda a reabertura terá de ser feita de acordo com as recomendações governamentais"
Por estes dias, na Alemanha e em Itália houve especialistas da área da saúde a defenderem que é cedo para o futebol voltar.
-Por isso é que todo o calendário está dependente das recomendações governamentais. A avaliação da reabertura é um ato de responsabilidade e em consonância com o enquadramento governamental; não é por livre-arbítrio das instituições. Se não for considerado oportuno abrir, é evidente que não abrirão.
Será irrealista pensar num regresso em maio/junho?
-Todas as respostas a essas datas estão muito dependentes de dois fatores essenciais: a evolução epidemiológica nacional e internacional e a regulamentação de cada um dos estados-membros da União Europeia. Só nesse contexto de haver regulamentação e de uma situação epidemiológica que o permita a reabertura poderá e deverá ser equacionada.
Nesta colaboração, alguma vez sentiu a pressão do negócio que representa o futebol profissional? Como classifica a atitude da Liga?
-Responsabilidade. As reuniões e os contactos que tive transmitiram sempre uma postura de grande solidariedade. Todos demonstraram união, responsabilidade, preocupação com a segurança, com cumprimento da legislação e das regulamentações oficiais, e de servir de exemplo para as populações. Revejo-me nestes preceitos. No fundo, todos nós percebemos que, perante uma ameaça comum, temos de responder a uma só voz, porque o nosso esforço é maior se atuarmos em conjunto; o todo é maior do que a soma das partes.
Segurança máxima para todos os intervenientes
Sem entrar em detalhes, Filipe Froes assegura que, de acordo com o plano detalhado pelo gabinete médico da Liga, "tudo o que for feito" na organização do regresso do futebol profissional visará "garantir a segurança máxima de todos os intervenientes": "Se assim não fosse, isto não era o exemplo que se quer dar, nem um ato de responsabilidade." O regresso do Nacional (II Liga) aos treinos, esta semana, ficou sem comentário crítico.
"Não acompanhei essa atividade", explicou: "Na parte em que me foi pedida colaboração, foi estabelecido um conjunto de critérios que obedecem àqueles princípios que referi: segurança, exemplo e responsabilidade. Não estou habilitado a comentar as circunstâncias em que essa equipa iniciou o seu calendário."