Fernando Gomes: "Não há qualquer risco de o FC Porto entrar em fair-play financeiro"
ENTREVISTA, PARTE I - Em exclusivo a O JOGO, o administrador financeiro garante que o FC Porto não vai entrar em incumprimento com a UEFA; CFO assume que o exercício de 22/23 vai ser negativo, mas sem qualquer consequência para o clube. Mesmo sem vendas, garante que é possível investir no plantel, recorrendo à banca.
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Fernando Gomes, administrador da SAD portista, recebeu O JOGO no Dragão para explicar em que estado estão as contas do clube depois de ter dito que era imperativo vender até ao final do mês passado. A estratégia não mudou e para evitar pagar juros altos aos bancos continua a ser preciso fazer mais-valias.
Em que estado está a saúde financeira da SAD?
-Está de molde a termos cuidado e preocupação. A partir do momento em que se fechou o exercício anterior sem ter resultados positivos, e não sabemos a dimensão do resultado negativo - mas será negativo -, isso significa preocupação. Nas duas épocas anteriores tivemos resultados positivos de cerca de 42 M€, à volta de 20 milhões de euros num e 21 e tal noutro e este ano vamos dar prejuízo por razões que eram óbvias. A seu tempo anunciámos que se não vendêssemos até 30 de junho o resultado seria negativo.
E qual é a consequência para o FC Porto desse resultado negativo?
-A primeira mensagem que gostaria de trazer aos sócios, adeptos e amigos do FC Porto é que não está em risco qualquer situação de fair-play financeiro. Está completamente fora de questão, não está em risco o FC Porto entrar em fair-play financeiro proximamente. Muito se especulou em torno disso e quero passar essa ideia: não está em causa.
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Como se explica então que, havendo resultados negativos, o FC Porto não seja afetado pelo fair-play financeiro?
-Primeiro, porque teve lucro nos dois anos anteriores. Na fórmula tradicional de avaliar o fair-play financeiro há um conjunto de regras e uma é a média dos três anos. Aí estaríamos completamente fora de perigo. Esse problema está resolvido. Entretanto, está em evolução na UEFA um novo modelo que tem várias vertentes, que ainda não estão fechadas, que vai obrigar as próprias federações a fazerem um regulamento para adaptar às competições nacionais aquilo que são essas regras da UEFA. O que está em causa é que mesmo que essas novas regras viessem a entrar agora o FC Porto estaria liberto. Não está em causa de nenhuma forma entrarmos em incumprimento. Vamos agora esperar pelas novas regras, que têm cambiantes como não se poder ultrapassar uma determinada percentagem com os salários em função dos custos totais. É preciso garantir que os capitais próprios não se agravem mais do que uma certa percentagem. E, se forem negativos, devem baixar, a cada ano, cerca de 10%. Há regras em cima da mesa, mas o FC Porto está isento e ilibado dessas preocupações.
Disse publicamente que era preciso fazer mais-valias até final de junho. Houve uma mudança de estratégia?
-Não. A questão é esta: se num determinado exercício tenho resultados negativos, isso só pode ter um significado: que tenho de me financiar. Se houve umas dezenas de milhões de euros que me faltaram, para equilibrar isso vou ter de ir ao mercado. E todos sabemos a que preço estão os juros, o dinheiro... a preços absolutamente inimagináveis há uns tempos. Significa pagar caro para conseguir manter a atividade corrente. Daí que o aviso lançado na altura foi no sentido de dizer que se não houvesse vendas até 30 de junho haveria consequências que são ir ao mercado para nos financiarmos a preços muito elevados. No fundo, foi isto que quis transmitir. Insisto, não está em causa o fair-play financeiro, mas sim termos que nos financiar para ter uma atividade normal.
Mas não houve vendas até ao final de junho por falta de procura ou a SAD assumiu esse risco para não vender mais barato?
-Esse é o plano B. A SAD decidiu que não ia aceitar vender jogadores se não fosse pelo preço considerado justo para si, que era o da cláusula. Até 30 de junho foi isto que foi decidido: só venderíamos se não pudéssemos recusar as mesmas vendas. De qualquer forma, está fora de questão que a SAD procure vender jogadores seja a que preço for.
A necessidade que havia de vender mantém-se até ao final do mercado?
-A necessidade mantém-se. Se daqui até ao final houver vendas, a tal necessidade de financiamento a que teríamos de recorrer para fazer face à época deixará de existir e com isso o FC Porto deixará de gastar um valor muito elevado em encargos financeiros.
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