"FC Porto e Estrela Vermelha, no seu tempo, já deixaram a Europa rendida ao futebol que praticavam"
Tanta história, de Belgrado a Leça. Jovanovic, 59 anos, trabalha há 29 no Leça. Foi jogador, diretor e treinador de guarda-redes
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Figura ímpar do Leça, Jovanovic vive ligado ao clube nortenho há 29 anos, conservando na sua discrição o título de campeão europeu pelo Estrela Vermelha em 1990/91, sentando-se no banco como guarda-redes suplente nessa final decidida nos penáltis com o Marselha.
Apesar de outros duelos em Portugal, o gigante da velha Jugoslávia cruza-se pela primeira vez, em regime oficial, com o FC Porto, que também se elevou a maior da Europa pouco tempo antes.
Tempos diferentes do poderio de outrora, para ambos os clubes, com a certeza do treinador de guarda-redes do Leça, hoje com 59 anos, que existe um desnível corrente favorável ao FC Porto. "O Estrela Vermelha está mais longe da grandeza do clube. Viu-se ao ser eliminado no acesso à Champions pelo Pafos. O FC Porto é claro favorito, mas o Estrela tem bons jogadores, capazes de surpreender", avisa, conquistado pela máquina até aqui trituradora de Farioli. "Está a jogar um futebol muito agressivo, em pressão constante e, por isso, é muito difícil jogar contra eles. Há ali jovens de muita qualidade e um bom trabalho de equipa. O maior problema para o Estrela é a fraca concorrência na Sérvia", elogia Jovanovic, que foi colega de Belodedici, Mihajlovic, Jugovic, Prosinecki, Savicevic e Pancev.
Conhecedor privilegiado também dos símbolos do FC Porto dos oitentas e noventas, Jovanovic sente essa colisão com o passado, das referências que se perderam. "Foram equipas realmente poderosas, servidas por fantásticos jogadores. Deixaram a Europa rendida ao bom futebol que praticavam, que ficou na memória dos seus adeptos e de muitos mais", avalia, incapaz de ditar um vencedor num embate de lendas, mesmo validando os que, infelizmente, viajaram para a eternidade, como Mihajlovic ou Fernando Gomes. "Tantos nomes grandes dos dois lados, indo à melhor fase de ambos, não me atrevo a dizer quem ganhava!"
Invasão leceira ao Dragão
Mesmo distante da realidade do Estrela Vermelha, Jovanovic passou a tarde no hotel da equipa, abraçou o presidente Svetozar Mijailovic, do seu tempo, e tem presença garantida no Dragão para revisitar o clube que o consagrou entre 1989 e 1992. "Vou levar os meus amigos leceiros para conhecerem o símbolo do maior da Jugoslávia e da Sérvia", prometeu, senhor de dois amores, embora o casamento com o Leça é que tenha vingado, mesmo começando a aventura em Portugal no Torreense e Nacional.
"Ainda bem que aconteceu, foi há 32 anos, vim por intermédio do Bukovac. Entretanto, apareceu-me o grande Leça, foi coisa do destino e descobri a grande paixão", aclara o campeão europeu, revisitando a época histórica e, ainda, uma Jugoslávia em convulsões, em rutura geográfica. "Ainda me lembro de um estágio de 15 dias em Inglaterra. Tínhamos autênticos craques, era um prazer diário trabalhar com eles. Destaco o Prosinecki, Savicevic, Pancev ou Jugovic mas a menção especial vai para o grande amigo Mihajlovic, a nossa figura temperamental. Em Belgrado, nessa altura, ainda se vivia com tranquilidade, não cheguei a sentir tensão, ao contrário de outras zonas."