Um golo para servir de exemplo: 0-3 do FC Porto em Arouca teve 17 passes entre nove jogadores
Depois do aborrecimento de Farioli em três jogos, a resposta em inferioridade numérica foi paradigmática. Técnico quer equipa em alerta permanente, mas há registos que já ninguém tira aos dragões.
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A jogada do terceiro golo do FC Porto em Arouca, finalizado por Francisco Moura, impressionou pelo número de jogadores envolvidos, a sucessão de passes e a mudança de velocidade até, como que de repente, o Arouca ficou desequilibrado. Mais relevante ainda por ter sido desenhada com os dragões já reduzidos a dez jogadores, pela expulsão de Martim Fernandes, dando corpo a um triunfo que alargou a sequência perfeita desde o início da caminhada. O lance foi isolado lado em seis momentos e começa num lançamento lateral de Pablo Rosario para Victor Froholdt, aos 59:11. O dominicano mantém viva uma posse de bola que colecionou 17 passes e ainda foi a Kiwior, Diogo Costa, Bednarek, Alan Varela e Pepê, antes de Borja Sainz assistir Moura, aos 59:58. Várias dessas trocas foram a um ou dois toques, até Froholdt soltar-se em passada larga e chegar ao último terço.
A longa posse de bola do FC Porto inicia-se num lançamento lateral, já no meio-campo ofensivo, aos 59:11 minutos. Rosario deixa em Froholdt.
Os dragões recuam e, após um duelo entre Froholdt e um jogador do Arouca, Pablo Rosario mantém viva a posse para o FC Porto.
O jogo descongestiona para a esquerda e chega aos pés de Diogo Costa para a equipa se reorganizar. Alan Varela recebe do guarda-redes.
O médio inicia uma sequência de seis passes em espaço curto e quase todos ao primeiro toque, com Bednarek, Rosario, Froholdt e Pepê.
De frente para o jogo, Froholdt recebe de Pepê, galga metros e desequilibra o Arouca, que fora atraído para a troca de passes anterior.
À entrada da área, Borja Sainz recebe de Froholdt e já tem Moura a fazer o "overlap" (sobreposição). Respeita o movimento e serve o lateral para a finalização certeira, aos 59:58.
Depois de Farioli ter revelado que ficou "chateado" com algumas coisas que (não) viu frente a Nacional, Rio Ave e Salzburgo, a resposta da equipa não poderia ter sido melhor. Confrontados com a inferioridade numérica logo aos 48", os portistas deram passos em frente, pegaram no jogo e só pararam no 0-4. No fundo, a postura que o técnico quer ver de forma mais consistente e não apenas a espaços. Por outro lado, o italiano mantém um estado de alerta constante em torno da equipa, contra o risco de deslumbramento e excesso de confiança. Tudo pode mudar de um momento para o outro e nada é tão bem feito que não possa ser melhorado, numa mensagem que tem sido interiorizada pelos jogadores.
Ainda assim, há números que já ninguém tira ao FC Porto, que pela terceira vez na história conseguiu vencer os oito primeiros jogos. A última ocasião fora em 2010/11, com André Villas-Boas no banco, numa sequência de 11 partidas; e o recorde do clube é de 13, mas "noutro" futebol, em 1939/40. Nas seis ligas acima da portuguesa no ranking, só o Bayern Munique tem, até agora, um registo 100% vitorioso em todas as provas - ontem somou o nono triunfo noutros tantos jogos - e apenas outras seis equipas seguem invictas: Crystal Palace, Barcelona, Elche, Juventus, Cremonese e Dortmund.
Três com dez é inédito
Pela primeira vez na história, o FC Porto marcou três golos em inferioridade numérica, superando os exemplos de Istambul e Coimbra. Em 2010/11, em casa do Besiktas, Maicon foi expulso aos 43", com 0-1 no marcador, mas Hulk bisou e ficou 1-3. Em 2019/20, na final da Taça de Portugal, Luis Díaz viu vermelho (38") e um bis de Mbemba segurou o troféu (2-1) frente ao Benfica. Nos registos de Farioli, nota para o play-off da Liga Europa da época passada, frente ao St. Gilloise: o Ajax ficou com dez aos 25", mas apurou-se com um golo no prolongamento.