<strong>ENTREVISTA (PARTE 1) - </strong>Presidente da APAF revela que enviou para o Conselho de Disciplina da FPF as "declarações do Benfica" sobre Tiago Martins e reage assim a Francisco J. Marques: "Não me merece resposta".
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Nesta entrevista, à mesa de um restaurante na Batalha, de onde é natural, Luciano Gonçalves responde ao diretor do FC Porto, dizendo que até a sua mulher já lhe pediu para se demitir da APAF.
Nasceu em 1980 quando o pai, Afonso, tinha 60 anos. Foi lateral em três clubes; como árbitro, chegou à III Divisão. Saiu em 2010 por causa de uma meningite. Foi dirigente em clubes e núcleos de árbitros e entrou na APAF em 2011
O Benfica apresentou uma queixa ao CD, contra Tiago Martins por considerar "grave a possível falsificação do relatório" no jogo com o V. Setúbal. Se a APAF tem defendido publicamente os árbitros, por que não defendeu este?
-A APAF defendeu o árbitro da mesma forma como o faz com todos os outros quando são acusados de tudo e mais alguma coisa. Não contem com a APAF para um número de circo, porque aí não noto que esteja a dar um contributo positivo para um futebol melhor. Há locais próprios para o fazer e a APAF fez o que tinha de fazer: pegar nessas declarações e enviar para o CD. Não temos de ir para os média. Da mesma forma que fizemos com as tarjas ou com todos os outros processos. O nosso futebol nisso, infelizmente, é muito fértil.
É a única atitude possível da APAF?
-Temos tentado sensibilizar. Consegue-se fazer isso numa semana ou duas e depois voltamos sempre ao mesmo circo. A APAF não vai alimentar esse circo. Não tenho que andar a dizer publicamente que o fiz, só para que para o clube A, B ou C sinta que a sua pressão fez sentido.
Foi criticado por Francisco J. Marques [FJM], diretor de informação e comunicação do FC Porto, que pediu a sua demissão. Há motivo para se demitir?
-Não me merece resposta porque as pessoas só têm a importância que lhes queremos dar. Pediu a minha demissão, até a minha mulher já pediu para que eu me demitisse da APAF. E também vale o que vale.
"O Benfica já me acusou de defender os interesses do FC Porto, o Sporting já me acusou de defender os do Benfica. Faz parte. É o futebol que temos"
FJM acusa-o de defender os interesses do Benfica.
-É possível. O Benfica já me acusou de defender os do FC Porto e o Sporting de defender os do Benfica, é o futebol que temos.
Quando diz "é o futebol que temos" e encolhe os ombros, como fez agora, é com indignação que o faz?
-É com tristeza. É o lado menos bom do nosso futebol.
FJM disse que deixou de haver dúvidas sobre a ligação umbilical entre Luciano e o Benfica e que este clube iniciou a caça aos árbitros e "o senhor da APAF ainda deve estar de férias". Estas declarações afetam?
-Não, não afetam. Não lhe reconheço qualquer função para que tenha de lhe responder. O FC Porto queria que viéssemos dizer publicamente que o Benfica isto, o Benfica aquilo, isso demonstra que não temos de ter qualquer relação umbilical, até porque o meu clube não é esse...
Não é o Benfica?
- Não, não é o Benfica.
Então qual é?
- Não vou dizer. É o Alcanadas, ainda sou presidente da AG. O equipamento é vermelho e branco, mas o meu clube não é o Benfica, que fique bem claro.
Mas tem preferência por um clube grande, certo?
- Todos temos um clube. Voltando atrás: o que o FC Porto queria que eu fizesse já o tinha feito. Já enviara ao CD uma exposição sobre as insinuações do Benfica e depois é que se vê se tem provimento. Não tenho de vir a público dizer o que fiz. Mudava alguma coisa se eu falasse publicamente?
Diz que FJM não lhe merece resposta. Se fosse Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira ou Frederico Varandas, respondia igual?
- Era igual. Isto não pode ser dissociada uma coisa da outra. Se nós temos meios para onde enviar as coisas, não vou estar a responder publicamente e a alimentar o circo que é o futebol.
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"SOMOS CHACOTA A NÍVEL INTERNACIONAL"
Luciano considera "complicado alterar a imagem da arbitragem, mas tem "esperança que isto vá mudar". "Vai demorar algum tempo", admite. Quando nós, em todo o movimento associativo, não estamos a acompanhar a evolução dentro das quatro linhas e a indústria do futebol e, a nível de clubes, estamos cada vez mais distantes, vamos perceber que algo terá de ser feito para alterarmos o que se passa. Não percebemos que somos chacota a nível internacional por alguns comportamentos e por figuras que fazemos em programas televisivos que supostamente são para valorizar o futebol. Fazemos figuras que são de bradar aos céus", critica.