Zé António conheceu Marcano no Racing, onde lhe era pedido que treinasse as bolas paradas.
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O recorde alcançado por Marcano constituiu uma "meia-surpresa" para Zé António, ex-futebolista que se cruzou com o espanhol em duas fases distintas. A primeira foi em Santander, na época em que Iván saltou em definitivo para o plantel principal do Racing (2008/09).
Com 21 anos, o agora jogador do FC Porto nem central era, mas começou desde cedo a cultivar a veia goleadora.
"O Marcano não era propriamente um goleador que saltasse à vista. Mas, em Santander, a equipa técnica já lhe pedia que treinasse as movimentações nas bolas paradas, com exercícios específicos", recorda Zé António a O JOGO, desvendando o segredo da eficácia do antigo companheiro de equipa: "Mais do que impulsão ou técnica, é o saber aparecer no sítio certo. Está cada vez melhor nesse aspeto, lê bem a trajetória da bola. O Pepe, por exemplo, é melhor a nível aéreo, mas não marca tantos golos como o Marcano", aponta.
Já em 2014/15, a última temporada da carreira de Zé António, o destino dos dois centrais voltou a cruzar-se, então no FC Porto. O português estava na equipa B, mas chegou a trabalhar com o espanhol em algumas sessões da formação principal. "Aplicou o mesmo empenho no trabalho diário e foi-se tornando cada vez melhor. Mas nota-se que foi com Sérgio Conceição que passou para outro nível, nomeadamente neste aspeto dos golos. O Sérgio trabalha situações muito específicas e espreme os jogadores ao máximo. Se estes tiverem qualidade, é meio caminho andado. Muito do que o Marcano é hoje tem mão deste treinador. Veio para o clube certo e apanhou o mentor certo", acrescenta o antigo defensor.
Em relação à situação contratual de Marcano - expira no final da época -, Zé António tem poucas dúvidas: o FC Porto faria bem em mantê-lo. "O clube tem um presidente e um treinador experientes nestas situações e acredito que vão renovar com o Iván. Sou a favor, renovava com ele, até porque joga de olhos fechados com o Pepe. Em Portugal, um central de 35 anos tem muito para dar, o nosso futebol adequa-se à experiência", remata Zé António, que jogou até aos 38.
O dono da ala que já era "de gelo"
Antes da afirmação definitiva como central, Marcano dava boa conta do recado na ala esquerda, quer como lateral, quer em terrenos mais adiantados. "Quando ele apareceu no Racing, vinha de fazer as vezes de médio-esquerdo, raramente jogava como central. Era entre lateral-esquerdo e uma posição mais subida. Só começou a evoluir a nível de marcação mais tarde e, tendo em conta o lugar que ocupava, não precisava de ser excelente no jogo aéreo", relata Zé António. Quanto ao perfil discreto e pouco dado a sorrisos, que já lhe valeu a alcunha de "Homem de Gelo", o ex-colega corrobora. "Sempre foi pacato, tínhamos de puxar por ele, saía muito discreto do balneário, calado", conta. Ainda agora é assim, dizem os atuais companheiros.