"Eu ia para a equipa B do Flamengo e era o rei e depois ia para a principal e não conseguia fazer nada"
Em entrevista a O JOGO, André Luiz, extremo do Rio Ave, recorda a passagem pelo Flamengo, onde jogou antes de mudar-se para Portugal, para o Estrela da Amadora
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Como foram os primeiros tempos no Flamengo?
-Eu olhava para eles e pensava que, sendo tão magrinho e no meio de craques, era impossível jogar ali. Nos treinos aconteciam umas coisas estranhas, pois ficava muito nervoso e não conseguia fazer nada. Eles falaram comigo e passei da primeira equipa para os sub-20 'B'. Eu era muito fraco para estar na equipa principal e muito bom para estar na 'B'. Eu ia para a 'B' e era o rei e depois ia para a principal e não conseguia fazer nada. Até que um dia fiz três golos na equipa 'B' e depois nunca mais saí da equipa principal. O Ninho do Urubu era muito longe da minha casa em Santa Cruz e eu morava na Barra da Tijuca com o meu empresário. Todo o final de semana a minha namorada, a Sabrine, que hoje é minha esposa, ia ter comigo. Em Santa Cruz era o rei e tinha muitas tentações, enquanto na Barra era uma pessoa normal. Comecei a jogar com regularidade e fui chamado para treinar com a equipa principal. Acabei por me estrear no último jogo do campeonato contra o Atlético Goianense com o treinador Maurício Souza. Depois voltei aos sub-20 para jogar a Copinha e como comecei a fazer golos todos diziam que eu era o filho do Bruno Henrique, pelas parecenças físicas, e o apelido ficou. Depois voltei à equipa principal para jogar o Campeonato Carioca, fui orientado pelo Dorival Júnior, pelo Paulo Sousa e pelo Vítor Pereira.
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Aulas particulares com o professor David Luiz
Ser treinado por um companheiro de equipa não é normal, mas foi o que aconteceu a André Luiz quando jogava no Flamengo e era ajudado pelo experiente defesa, ex-Benfica, com aulas e treino específico. Nas mãos de David Luiz uma pedra era um diamante.
Como surgiu a possibilidade de ter treinos particulares com o David Luiz?
-Treinava muito bem com o Paulo Sousa, mas não jogava, e o David Luiz convidou-me para trabalhar com ele. De manhã treinava no Flamengo e à tarde, tal como acontecia com o Matheus França e o Vítor Hugo, ia treinar para casa dele, com aulas teóricas e práticas. O David Luiz pegava numa pedra e pedia para imaginarmos que era um diamante, dizendo que estava todo sujo e que precisava de ser lapidado, tal como nós, pois precisávamos disso para poder começar a brilhar. Ele ensinava-nos pormenores, mas cada um tinha aula no seu dia, individualmente, num mini-campo em casa dele. Às vezes íamos para um campo maior.
Isso teve impacto na sua carreira?
-As aulas com o David Luiz e com o Pascoal ajudaram-me muito. Aprendi muito e, mesmo não jogando, também aprendi muitas coisas no Flamengo ao lado dos melhores jogadores do Brasil, como o Arrascaeta, o Everton Ribeiro ou o Gabigol. Foi chegando o momento em que tinha de jogar e já me sentia preparado para corresponder em campo, sabendo que, naquele momento, ainda não tinha nível para jogar no Flamengo. Falei com o meu empresário até que surgiu a proposta do Estrela da Amadora.
E como foi a estreia no Maracanã?
-Não tremi, porque estava a jogar pelo Flamengo, e quase fiz um golo num passe do Everton Cebolinha. Ficas um pouco nervoso quando jogas contra no Maracanã, mas, a favor, cresces com o apoio incrível do público. Comprei o meu primeiro carrinho e era feliz demais no Flamengo.
Experiências com Paulo Sousa e Vítor Pereira
Como foi trabalhar no Flamengo com os treinadores portugueses Paulo Sousa e Vítor Pereira?
-Gostei dos dois, pois fazem coisas diferentes dos treinadores brasileiros. Eles davam bastante atenção aos meninos da base e os dois tiveram cuidado comigo. O Paulo Sousa falava sempre comigo no final do treino e ajudava-me na finalização, mas, infelizmente, não consegui o meu espaço.
O que falhou na passagem deles pelo Flamengo?
-O Paulo Sousa não deu certo porque o Flamengo tinha muita qualidade do meio-campo para a frente e não combinava jogar com três centrais. O Vítor Pereira foi também um pouco assim, por querer jogar com esse estilo de jogo. Mas o Vítor Pereira ajudou-me muito, assim como o seu adjunto, o Rui Quinta, que sempre me disse que o meu momento iria chegar e que a minha alegria a treinar, mesmo sem jogar, iria fazer a diferença. Foi um bom conselho. Sabia que não era a minha hora no Flamengo, mas, quando a responsabilidade caísse no colo, iria estar preparado. Ele dizia sempre para continuar com alegria.
Arrascaeta é o melhor do Brasileirão
André Luiz sempre foi adepto do Flamengo, mas confessa que "era mais flamenguista na época em que era torcedor". " Sentia-me mais flamenguista do que quando fui jogador do clube. Era apaixonado. Se vai ser campeão? Acho que sim, estou a torcer. O treinador, Filipe Luís, é muito inteligente e uma equipa que tem o Arrascaeta, arrisca-se sempre a ser campeã. O Arrascaeta é, disparado, o melhor jogador do Brasileirão", defendeu o extremo do Rio Ave.