"Em Marrocos as pessoas são do Barcelona e Real Madrid. Eu, simplesmente, sou portista"
ENTREVISTA, PARTE I - Tarik Sektioui, agora treinador em Marrocos, reconhece que no país dele foge à divisão de opiniões, pois são todos adeptos do Barcelona ou do Real Madrid. Elogios para Sérgio Conceição e Pepe; Tarik recorda as emoções da sua chegada, muitas sensações difusas, mas uma rápida obrigação de jogar pelos adeptos, não esquecendo a figura do presidente, responsável pelo lugar do clube na elite mundial.
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Hoje treinador em Marrocos, Tarik Sektioui chegou ao FC Porto em 2006 como escolha de Co Adriaanse, mas acabou por ficar entregue à sua sorte com a saída repentina, até tumultuosa, do neerlandês fruto de uma relação muito desgastada com adeptos e jogadores. Entrou Jesualdo Ferreira e o marroquino passa a ser conhecido por duas vidas ou por duas faces opostas. Chegou a não contar ou a ser visto como muito aquém do pretendido, mas virou a página para se transformar num elemento querido do título de 2007/08, com presença em 34 jogos, marcando nove golos e assistindo por quatro vezes.
Em conversa com O JOGO, o antigo ala recordou a passagem pelo Dragão, as dificuldades para se impor, mas também fala do presente, com Conceição e Pepe à cabeça.
"Cheguei a um dos melhores clubes do mundo, com uma magnitude brutal. Logo a partir daí é preciso uma personalidade forte e uma mentalidade vencedora. Era um desconhecido, mas tinha as minhas responsabilidades e sabia que ia enfrentar grandes adeptos, fanáticos pelo seu clube. Vi também uma administração muito profissional que punha os interesses do clube acima de tudo. E, mais que tudo, a figura do presidente Pinto da Costa, que ainda respeito enormemente. É ele que mantém o FC Porto na elite mundial", elogia Tarik.
O marroquino não escondeu que os primeiros tempos foram complicados por causa da repentina troca de treinadores. "Não foi fácil para mim, é certo! Chego e assino e o técnico que me escolheu [Co Adriaanse] já está a partir para a Holanda. Chega outro, Jesualdo Ferreira. Hoje é alguém muito importante para mim com quem mantenho comunicação. Mas, na altura, foi muito difícil. Choque de caracteres. Não nos conhecíamos e era preciso bom senso. Mas eu tinha desembarcado no Porto e deixado para trás sete anos de Holanda. Sentia muitas coisas, mas sabia que me tinha de adaptar, era novo ali. A comunicação não ajudou, não nos entendíamos bem e apareceram tensões e discussões. Mas dele absorvi paixão e confiança e isso deu-me vontade de triunfar no FC Porto. Depois fiz o que fiz, até me tornei o jogador mais acarinhado em alguns jogos. Passei a defender o FC Porto com tudo e muito orgulhosamente", frisou.
"Fui para cima de Pepe e ainda levei a melhor"
"Em Marrocos as pessoas dividem-se entre Barcelona e Real Madrid. Eu, simplesmente, digo que sou portista. Nem mais nem menos. Ao longe fico feliz de saber que vence quase sempre e continua a somar títulos. Agora como treinador, confesso que não tenho tanto tempo como gostaria para saber do FC Porto. Mas sempre que posso espreito o resultado, porque sigo apegado ao clube", denotou, puxando de memória impagável. "E, atenção, lembro-me muito bem do Pepe, não o conhecia, ele levava um ano no clube, fui muito forte para cima dele num duelo no meu primeiro treino e levei a melhor. Fico feliz pela carreira que fez e por ainda estar ativo, sendo um orgulho ter jogado com ele. Depois desse primeiro treino, rapidamente percebi o quão bom ele era!", reconhece Sektioui, treinador do Union Touarga da I Divisão.
"Fui campeão nos três anos, a equipa estava num nível muito alto"
Tarik não tem dúvidas de expor também as razões da sua transformação com a camisola do FC Porto.
"Eu acho que melhorei no FC Porto a partir do crescimento da comunicação interna e da confiança. Isso é o essencial, depois vem a vontade. Depois há o ambiente, os adeptos, as luzes, só tens de estar à altura em cada treino e em cada jogo", lembra, ainda absorto e entusiasmado por repisar emoções longínquas.
"Não consigo citar um jogador especial porque joguei com Baía, Helton, Pedro Emanuel, Bruno Alves, Raúl Meireles, Bosingwa, Paulo Assunção, Lucho, Lisandro. Peço desculpa a todos que não enumerei. Éramos uma família de verdade! Era uma loucura de equipa, automaticamente havia muita criatividade, mas também maturidade e responsabilidade. Foram as razões do sucesso, eu fui campeão nos três anos em que joguei pelo FC Porto. A equipa estava a um nível muito alto, tanto técnico, tático como mental", gaba, sem rodeios, assaltando o presente e um FC Porto animicamente reforçado para tentar revalidar o título após vitória na Luz.
"São as partidas que eu mais gosto, exigem personalidade e confiança, coragem e audácia. O FC Porto teve isso, teve o que é preciso num clássico, o mesmo acontece no Campeonato do Mundo ou Liga dos Campeões.