Invasão e agressões a jogadores e staff na Academia, em maio de 2018, vai ter sentença lida no dia 28: desaparecem os autores morais e Ministério Público, que acusou a perder de vista, voltou atrás e até chega a pedir... meras multas.
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Foi há precisamente dois anos, no dia 15 de maio de 2018, que um grupo de quase 40 adeptos, muitos afetos à claque Juventude Leonina, irromperam pela Academia Sporting, em Alcochete, entraram no balneário e atacaram técnicos e jogadores, com natural seguimento televisivo devido aos meios que se encontravam à porta das instalações a acompanhar a crise que o clube atravessava e o iminente despedimento de Jorge Jesus, então treinador leonino.
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A insatisfação com os resultados da equipa, afastada do título e com acesso à Champions perdido dias antes na Madeira, em jogo em que o clima tenso entre equipa e claque foi visível, foram argumentos usados para justificar o ataque. Foi das páginas mais negras e infames da história do Sporting, com eco internacional a manchar e denegrir a imagem de um clube centenário, com grandes custos - desportivos, mas sobretudo a nível financeiro.
O Sporting seguiu em frente, tenta recompor-se, mas tem sido um processo difícil ao nível das finanças e também dos resultados desportivos. E continuou a ser tumultuosa a relação com as claques (entretanto foram suspensas duas, a Juve Leo e ainda o Directivo Ultras XXI). As imagens de Bas Dost ferido correram mundo, tal como os encapuzados a correrem de cara tapada e a entrarem na Academia de forma grosseira, agressiva e assustadora. Seguiram-se estragos nas instalações, agressões a técnicos e jogadores. Só algum tempo depois, já com os infratores em fuga, chegaram as forças policiais. Investigações e buscas levaram à detenção de dezenas de indivíduos (há 44 arguidos no processo que está a ser julgado no Tribunal de Monsanto, entre eles o ex-presidente Bruno de Carvalho), que ainda aguardam pelo desfecho do caso; sabe O JOGO, ainda assim, que a sentença deverá ser lida a dia 28, isto se não houve pedido de prova complementar apresentada pelas defesas, ainda que esta dificilmente possa ser congregada à prova já produzida.
Diretos a quem assumiu
A prova baseou-se sobretudo nas admissões de alguns arguidos, como Rúben Marques, que feriu Bas Dost. Por outro lado, as falhas de segurança na Academia, alertas desvalorizados ou não atendidos, dificuldade na compreensão dos atos e em provar quem agendou realmente o treino para a tarde foram interrogações constantes no julgamento, que inclusive levaram o Ministério Público - outrora foco de acusação -, a pedir a absolvição de Bruno de Carvalho da autoria moral.
Regressando aos efeitos diretos, dos mais imediatos destaca-se a queda de uma Direção, precisamente a de Bruno, com a consequente eleição do até então diretor clínico da equipa principal, Frederico Varandas; ou a rescisão unilateral de nove jogadores, dos quais três voltaram a assinar na liderança transitória da Comissão de Gestão de Sousa Cintra (SAD) e Artur Torres Pereira (clube), antes das eleições. Pelo meio, perdeu-se uma Taça de Portugal (com o Aves), dias depois do ataque, após insuficiente preparação física dos atletas.
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Emigrar para atenuar medo
A Academia viu entretanto a segurança ser reforçada, sofreu alterações estruturais, com a decoração dos balneários e espaços da ala profissional a ser alterada para esquecer o momento nefasto. Mas, por exemplo, o médio Palhinha disse em tribunal não esquecer, assumindo ter pesadelos com o ataque. Outros, como ainda há dias Podence, falam em ameaças verbais incessante. Existem ainda estrangeiros, como Dost, que lá fora se sentem mais seguros. Cá tinha seguranças...
Nove rescisões
Imediatamente a seguir ao ataque, o Sporting perdeu a final da Taça de Portugal, contra o Aves, e os dias que se seguiram foram dramáticos para o futuro do clube, com nove jogadores a pedirem a rescisão. Uma situação que agravou a crise financeira do emblema, mas que podia ter sido ainda pior. Muitos milhões pareciam ter simplesmente voado, mas as ações em tribunal e as negociações amigáveis com os clubes de acolhimento dos foragidos permitiram amenizar e resolver satisfatoriamente vários dos casos, enquanto outros estão ainda em julgamento - como Rafael Leão.
Apenas os casos de Rúben Ribeiro e Rafael Leão continuam em litígio
Voltaram a assinar pelo Sporting Bas Dost (vendido por 7 M€ e 500 mil em variáveis), Bruno Fernandes (vendido por 55 M€ mais 25 M€ em variáveis) e Battaglia (permanece no plantel); permitiram encaixe por negociação Podence (7 M€), William Carvalho (16 M€, mais 4 M€ em variáveis e 25% de venda futura), Rui Patrício (18 M€) e Gelson Martins (15 M€ e 50% de Vietto avaliado em 7,5M€, em negócio global de 22,5 M€).
Apenas os casos de Rúben Ribeiro e Rafael Leão (Sporting aguarda pagamento de 16,5 M€ e o jogador pediu a nulidade da sentença do Tribunal Arbitral do Desporto de Portugal) continuam em litígio. As próximas semanas devem trazer novidades.
Seis continuam no plantel
Foram muitas as mudanças que o Sporting sofreu desde o ataque à Academia e em apenas dois anos viveu-se uma espécie de reformulação do plantel, sendo que apenas seis jogadores do grupo de 2017/18 permanecem, agora dirigidos por Rúben Amorim.
Assim, continuam no plantel Ristovski, Coates Mathieu, Acuña, Battaglia e Wendel (Palhinha ainda tem ligação ao clube, mas está emprestado ao Braga). Na próxima temporada, o grupo pode ser ainda mais reduzido.
A equipa técnica que na altura era liderada por Jorge Jesus, saiu a seguir à final da Taça de Portugal. Primeiro Bruno de Carvalho contratou Sinisa Mihajlovic, mas o sérvio nem aqueceu o lugar e foi dispensado por Sousa Cintra ainda antes de o contrato entrar em vigor (a SAD foi condenada a pagar 3 M€), que o trocou por José Peseiro. Com a chegada de Frederico Varandas, o comando técnico da equipa manteve-se em constante mudança (Tiago Fernandes, Marcel Keizer, Leonel Pontes, Silas e Rúben Amorim), sinal de instabilidade e ausência de resultados desportivos, mas a distância para o almejado título continua a ser grande e o clube ocupa agora o quarto lugar do campeonato a 18 pontos do líder FC Porto.