Pinto da Costa faleceu este sábado, aos 87 anos
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Pinto da Costa nasceu a 28 de dezembro de 1937, no Dia dos Santos Inocentes, como tanto gostava de lembrar. O quarto de cinco irmãos, filhos de Maria Elisa Bessa de Lima Amorim Pinto e José Alexandrino Teixeira da Costa, uma família da burguesia portuense, natural de Cedofeita, bem no centro da cidade.
Tinha oito anos quando o fervoroso tio portista, Armando Lima, o levou ao primeiro jogo do FC Porto. Teve a companhia do irmão José Eduardo, que também haveria de ser brilhante na área a que se dedicou, a medicina. A perspetiva no peão do Campo da Constituição parecia bestial para ver aquela partida contra o Braga, não fossem os pequenos irmãos ficarem tapados pelos senhores mais crescidos que se puseram à frente. Só viam a bola quando ela andava lá em cima, mas o tio Armando não imaginava que bichinho tinha acabado de implantar no pequeno Jorge.
Fez a primária no Colégio Almeida Garrett e seguiu para o colégio jesuíta das “Caldinhas”, em Santo Tirso, até que a avó Alice lhe decidiu dar o melhor presente de todos, em dezembro de 1953: a inscrição como sócio do FC Porto. Jogou no Infesta e defendeu a baliza do Coimbrões, à medida que a paixão pelo clube crescia cada vez mais e já não era só o futebol, o hóquei em patins também entusiasmava Jorge, que teve o primeiro emprego no Banco Português do Atlântico.
Não faltaria muito para que Cesário Bonito, presidente do FC Porto, fizesse o convite para vogal da secção de hóquei, em 1958, secção que passou a chefiar em 1962. O périplo pelas modalidades continuou cinco anos mais tarde no boxe, onde encontraria um parceiro para a vida, Reinaldo Teles e, em 1969, já era máximo responsável das amadoras, cargo que manteria até 1971.
Passavam-se os anos e o FC Porto continuava de costas voltadas com os títulos. O café Orfeu e a pastelaria Petúlia eram palco de grandes tertúlias noturnas com Valentim Loureiro, histórico presidente do Boavista, Hernâni Gonçalves, o “professor bitaites” e José Maria Pedroto, que em 1969, no final do primeiro período no comando técnico, viu-se banido do FC Porto, totalmente incompatibilizado com a liderança de Américo de Sá.
Numa dessas noitadas, em 1976, Pinto da Costa saiu-se com a célebre frase “largos dias têm 100 anos”, em resposta à contratação da jovem promessa Albertino pelo Boavista, quando estava encaminhado para as Antas. O Major também chegou a dizer que, enquanto liderasse os axadrezados, Pedroto não voltaria ao FC Porto.
Certo é que Pinto da Costa aceitou o convite de Américo de Sá para integrar a lista eleitoral, com o cargo de diretor para o futebol, e a primeira medida foi justamente fazer regressar o “mestre”, para a época 1976/77.
Era o arranque de uma dupla marcante para o FC Porto. Pinto da Costa e Pedroto partilhavam ideias e convicções, se um não tinha medo de inflamar o discurso contra o centralismo, o outro assinava por baixo. E em 1978 acabaram com o jejum de 19 anos sem ganhar o campeonato. No entanto, o tricampeonato falhou em 1980 e deu-se o “Verão Quente das Antas”. O duo dinâmico e Américo de Sá não estavam na mesma página e o presidente excluiu Pinto da Costa da sua lista. Que terramoto! Em solidariedade com uma figura cada vez mais forte no clube, Pedroto bateu com a porta e 14 jogadores seguiram os passos...ou tentaram.
Mas não faltava quem achasse que Pinto da Costa era não só o homem certo para o futebol mas mesmo para guiar o clube, em vez de Américo de Sá. Armando Pimentel, Neca Couto e Álvaro Pinto faziam a cabeça a Jorge Nuno, que hesitou até uma conversa desconcertante com a mãe. Maria Elisa ouvira na “Bola Branca”, da Rádio Renascença, que havia um movimento para conduzir o filho à liderança do FC Porto. E se isto já deixara Pinto da Costa espantado, mais ficou quando, ao contrário do que achava que iria acontecer, a mãe aconselhou-o a seguir em frente: “Desde pequenino que só vês o FC Porto. É o teu destino”.
E era mesmo. Afonso Pinto de Magalhães, antecessor de Sá, ainda se juntou à corrida, mas abdicaria a pouco antes das eleições de 17 de abril de 1982, o dia em que Jorge Nuno “perdeu o nome”, como dizia em tom divertido, e passou a ser o presidente.